Dia Internacional do Lixo Eletrônico: a economia circular é uma emergência mundial
Tiago Ghidotti
Dia Internacional do Lixo Eletrônico: a economia circular é uma emergência mundial

A data foi criada para conscientizar a população sobre a importância de descartar corretamente os resíduos. Hoje, a economia circular não é mais apenas uma boa ação, mas uma necessidade crucial para o planeta.

Os lançamentos de novos equipamentos eletroeletrônicos prometem revolucionar nossa rotina, dando mais tempo para as atividades que realmente nos trazem prazer. Atualmente, é difícil imaginar a vida sem smartphones, tablets e redes sociais, que se tornaram ferramentas essenciais para comunicação e entretenimento. É quase impossível pensar como era a vida antes desses dispositivos.

No entanto, com essa presença constante em nosso dia a dia, a produção de lixo eletrônico se tornou um dos grandes desafios da atualidade. Segundo um relatório da ONU, a humanidade gerou 62 milhões de toneladas de lixo eletrônico em 2022, um aumento significativo em relação aos anos anteriores. Esse volume seria suficiente para encher 1,5 milhões de caminhões de 40 toneladas. No entanto, apenas 22,3% desse total foi reciclado, evidenciando uma lacuna nos esforços de reciclagem. A previsão é que essa taxa caia para 20% até 2030, devido ao aumento do consumo e à obsolescência programada dos dispositivos eletrônicos.

O problema se agrava quando o restante do resíduo eletroeletrônico é processado de forma inadequada ou em cadeias de reciclagem não apropriadas, gerando um impacto ambiental tão grande quanto a própria produção dos dispositivos. O descarte inadequado de eletrônicos traz sérios riscos ambientais, pois esses resíduos contêm materiais tóxicos, como mercúrio, chumbo e cádmio, que podem contaminar o solo e a água, causando danos à saúde humana e ao meio ambiente. Além disso, a produção de lixo eletrônico contribui para a emissão de gases de efeito estufa, agravando as mudanças climáticas. A reciclagem correta desses dispositivos é essencial para minimizar esses impactos negativos e preservar os recursos naturais.

A legislação brasileira avançou com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela Lei nº 12.305/2010, que estabelece a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos. Ela envolve fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes e consumidores. A lei prevê a criação de Pontos de Entrega Voluntária (PEVs) para o descarte adequado de eletrônicos e estabelece metas de reciclagem para os fabricantes. O Decreto nº 10.240/2020, que regulamenta a PNRS, define metas específicas para a coleta e reciclagem de resíduos eletrônicos, incentivando a logística reversa e a economia circular.

Esse decreto estabelece metas progressivas para a implementação de pontos de coleta e volumes de resíduos eletrônicos a serem reciclados. Em 2019, havia apenas 70 pontos de coleta no Brasil. Com o novo decreto, o país tem até 2025 para atingir 5.000 pontos de coleta, distribuídos em 400 cidades que concentram 60% da população. Cidades com mais de 80.000 habitantes deverão ter um ponto de coleta a cada 25.000 habitantes. As metas de volume coletado e processado também são progressivas: 1% em 2021, 3% em 2022, 6% em 2023, 12% em 2024 e 17% em 2025.

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A reciclagem de eletrônicos é, além de uma questão ambiental, uma estratégia econômica. A recuperação de metais valiosos, como ouro, prata e cobre, reduz a necessidade de mineração e a demanda por recursos naturais. Além disso, a reciclagem gera empregos e promove inovação tecnológica. A conscientização e a educação ambiental são fundamentais para engajar a sociedade nesse processo e garantir um futuro sustentável para as próximas gerações.

Os impactos econômicos da reciclagem de eletrônicos são expressivos. Em 2019, o mundo gerou cerca de 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico, e a reciclagem desse montante poderia render aproximadamente US$ 250 bilhões. A reciclagem de uma tonelada de celulares usados, por exemplo, pode render até 130 kg de cobre, além de quantidades significativas de ouro e prata. A economia circular oferece oportunidades para reduzir custos de produção, criar novos negócios e gerar empregos. Além disso, ela aumenta a resiliência econômica, tornando-a menos vulnerável a choques externos, como a escassez de recursos e a volatilidade dos preços.

Em um mundo cada vez mais digital, com objetos do cotidiano, como o tênis do meu filho e até os cigarros, se tornando eletrônicos, é urgente a implementação de uma economia circular. Os relatórios da ONU apontam que a demanda por eletrônicos continuará a crescer, e a transição para essa nova economia não é mais uma escolha, mas uma necessidade.

Texto por: Marcelo Souza

Marcelo Souza é Presidente do INEC – Instituto Nacional de Economia Circular, CEO da Indústria Fox – Economia Circular e suas subsidiárias, presidente do Conselho de Administração da Ilumi Materiais Elétricos e Diretor de Meio Ambiente do CIESP – Regional Jundiaí. Palestrante e escritor sobre economia circular e reciclagem, Marcelo está prestes a lançar seu mais novo livro, *Reciclagem de A a Z*, com conteúdo inédito e participação de especialistas no tema. Formado em Química e Engenharia de Produção e Mecânica, possui MBAs internacionais e vasta experiência no setor.

Crédito das fotos: Marcelo Souza – Presidente do INEC – Instituto Nacional de Economia Circular – CEO Indústria Fox – Fotos: Rafael Carvalho

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