Como Anora, de Sean Baker, foi inspirado em filme de Federico Fellini
Humberto Maruchel
Como Anora, de Sean Baker, foi inspirado em filme de Federico Fellini

Um dos filmes mais comentados nas premiações internacionais e forte candidato ao Oscar, Anora, do cineasta estadunidense Sean Baker (de Projeto Florida e Red Rocket), é uma comédia dramática com estreia prevista para janeiro nos cinemas. O longa, vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes deste ano, tem atraído a atenção tanto o público quanto da crítica.

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O diretor Sean Baker que também escreveu o roteiro de Anora Priscilla Mars/divulgação

A trama acompanha Ani Mikheeva, uma jovem stripper que trabalha em um clube de luxo em Manhattan. Fluente em russo, em uma noite ela é apresentada a Vanya Zakharov (Mark Eydelshteyn), o filho imaturo de um oligarca russo, que está nos Estados Unidos supostamente para estudar, mas prefere festas e videogames. Vanya paga Ani para passar uma semana com ele e fingir ser sua namorada, o que desencadeia um romance inesperado que culmina em um casamento impulsivo em Las Vegas. Além do interesse mútuo, há um acordo no meio: Vanya espera usar o casamento para obter um green card e permanecer nos EUA. Mas logo que a união é descoberta pela família de Vanya, uma série de eventos tensos passam a acontecer, incluindo a fuga do rapaz e a busca frenética por ele liderada por Ani e pelos capangas enviados por seus pais.

Embora a premissa possa parecer simples para um filme premiado, Anora se destaca por suas camadas narrativas e a qualidade das atuações, especialmente a de Mikey Madison (Pânico V). A atriz oferece uma performance muito precisa, transformando Ani de uma personagem submissa e vulnerável (como se espera de uma garota de programa) para uma mulher determinada e em fúria, que enfrenta as adversidades com fúria crescente ao perceber a manipulação de que foi vítima. Ao longo da trama, a ambiguidade sobre os reais sentimentos de Ani por Vanya adiciona complexidade: seria o casamento apenas uma oportunidade de melhorar de vida ou haveria ali espaço para amor e estabilidade? Talvez tudo junto, mas nada é literal no filme, o que torna ainda mais interessante.

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Anora, de Sean Baker Neon/divulgação
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Sean Baker se inspirou, de forma explícita, em Cabíria, a protagonista de Noites de Cabíria (1957), de Federico Fellini. Tal como a prostituta ingênua e sonhadora interpretada por Giulietta Masina, Ani é uma figura que busca algo maior, seja amor, segurança ou um futuro promissor. Em entrevista ao site Indiewire, Baker revelou que a cena final de Anora foi diretamente influenciada pela obra de Fellini. Embora os desfechos sejam distintos, ambos compartilham a mesma emoção.

Além disso, o filme explora com sensibilidade a luta de classes, uma temática recorrente nos trabalhos de Baker. Ani, jovem pobre com poucas perspectivas, é confrontada com a realidade elitista e impiedosa da família de Vanya, um choque que ressalta sua vulnerabilidade diante do poder econômico e social.

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<span class="hidden">–</span> Neon/divulgação
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Anora também se destaca por desafiar rótulos de gênero cinematográfico Enquanto a busca por Vanya gera situações absurdas e cômicas, o filme nunca perde de vista o drama existencial de sua protagonista. A mistura de humor, tensão e compaixão faz dele um filme impectante, onde o espectador se compadece e torce pela emancipação de Ani.

Com uma direção sensível e um elenco espetacular, Anora é uma obra indispensável. Mikey Madison, em particular, merece atenção especial por sua interpretação, consolidando-se como um dos grandes destaques da temporada.

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