O artista plástico Jaildo Marinho
Divulgação
O artista plástico Jaildo Marinho


O renomado artista pernambucano Jaildo Marinho , conhecido por obras importantes, como "Derrière les Tableaux" e "Le Vide Oblique", foi um dos homenageados com o Grande-Colar do Mérito , a maior honraria oferecida pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

“Fiquei muito feliz por este reconhecimento onde o Tribunal tenta agraciar pessoas que, de alguma forma, fizeram algo que possa contribuir, como na medicina, como na arte”, celebrou em entrevista ao portal iG .

Jaildo Marinho recebe o Grande-Colar do Mérito
Divulgação/TCU
Jaildo Marinho recebe o Grande-Colar do Mérito


Jaildo contou que a paixão pela arte começou desde criança. “Eu tinha essa vocação de fazer algo com as minhas mãos. Observava bem a natureza, nossa sociedade, como era em cidades pequenas. Pouco a pouco, fui desenvolvendo o trabalho artístico, conhecendo outros artistas e podendo desenvolver esse meu sonho.”

Sonho que se tornou realidade. Natural de Santa Maria da Boa Vista, uma pequena cidade no interior de Pernambuco , o artista plástico conseguiu atravessar fronteiras e ser reconhecido mundo afora. Apesar de viver há 30 anos em Paris , o pernambucano não esconde a admiração ao falar sobre o lugar onde nasceu.

“É um grande privilégio de ter nascido no Sertão de Pernambuco. É uma cidade que deu origem a muitos artistas. Em volta temos o grande Luiz Gonzaga, vários cantores, como Geraldo Azevedo. É uma região que sempre foi uma fonte de inspiração”, disse ele.

Paris, a capital mundial da arte

Assim como vários artistas, Jaildo também sonhava em conhecer a Cidade Luz, destino que, segundo ele, abriu muitas portas. Lá, encontrou grandes filósofos, críticos da arte e historiadores. “Isso me permitiu avançar o meu trabalho e alcançar um nível bem mais rápido”, relatou. “Aqui, a gente se sente mais centralizado e é o lugar onde tudo acontece, onde nós recebemos os grandes colecionadores, as grandes galerias. Isso foi um passo muito importante na minha vida”, acrescentou ele. 

Com a carreira internacional, Marinho participou de vários espetáculos e colecionou prêmios, como a medalha de ouro no Festival de Mahares, na Tunísia, em 1995, e o Prêmio de Escultura da Bienal de Malta, em 1999. Em 2009, o brasileiro adquiriu a nacionalidade francesa, mas sem se esquecer de onde veio. “Essas conquistas, lógico, eu divido com o meu Pernambuco, com o meu Brasil”, declarou.

“Apesar de eu ter uma carreira de 30 anos internacional, o Brasil nunca me deixou. É verdade que o Brasil não tem a cultura, como tem na Europa, de estar valorizando, prestigiando e criando novos eventos culturais. Mas, dentro do possível, acho que está bem além de vários outros países, inclusive com os nossos colecionadores”, afirmou o escultor, que já apresentou exposições em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, entre outras cidades brasileiras.


Instituto Ricardo Brennand, no Recife

Em 2022, o artista plástico foi convidado para fazer uma exposição coletiva chamada “Ponto de Não Retorno”, organizada por Nara Galvão, que é diretora do Instituto Ricardo Brennand . “Mostrei uma obra que se chama “Fortaleza”, que é um muro todo de agulha, onde eu tento achar todos os movimentos que faz quando se está costurando de maneira manual”, contou.

Para o artista, a agulha representa um símbolo muito forte. “Primeiro como escultura. Esse objeto, que já tem mais de 60 mil anos, foi criado na sua pureza absoluta, não teve modificação. Serviu para transformar a sociedade e, também, como fonte de inspiração e instrumento de trabalho para costura. Também gerou um afeto familiar em que se passava os conhecimentos tradicionais e artesanais — de mãe para filho, de avó para neto. É uma técnica e uma profissão de costureiras, bordadeiras, enfim, isso é muito forte no nosso Nordeste ”, ressaltou o pernambucano.

O instrumento, inclusive, lhe traz boas memórias. “Isso ficou empenhado na minha cabeça porque eu me lembro da minha avó costurando ali com dedal de metal, cantava e ia costurando. É uma lembrança muito forte. Era um momento de alegria. Minha mãe também cantava para mim. Era um espetáculo, um show, uma obra de arte”, relembrou.

Neste ano, o Instituto Ricardo Brennand recebeu a exposição “Natureza Noturna e Cristalização”, de Jaildo, que segue em cartaz até 5 de novembro. Para ele, é uma alegria saber que a obra está sendo apreciada no Estado de origem. Em entrevista ao iG , ele explicou o conceito por trás da exposição.

“É uma mistura do pensamento em relação à natureza, à vida, ao homem. Qual é o motivo do homem existir na terra? Por que a terra se transforma e vai criando cristais? É, também, o questionamento da necessidade do homem de conservar ou de destruir a natureza, onde eu mostro um grande muro que seria o último limite entre a cultura e o espaço selvagem. O que é eterno? Então, eu venho com a cristalização, o mármore, a pedra, representar a eternidade. E a vida é representada pela cor, um dia a cor vai desaparecer, como nós um dia vamos deixar a terra”, detalhou sobre a escultura, que também foi exibida no Museu de Arte Moderna do Rio , em 2017. “É um complemento do que eu mostrei no Rio, com questionamentos em relação à nossa floresta”.

Jaildo Marinho na exposição “Natureza Noturna e Cristalização”
Divulgação
Jaildo Marinho na exposição “Natureza Noturna e Cristalização”


“O ser humano precisa da arte”

Com uma trajetória repleta de prestígio, Jaildo se destacou no mundo por expor obras importantes, entre elas,  “Derrière les Tableaux” (Por trás das Pinturas, em tradução livre) e  “Le Vide Oblique” (O Vazio Oblíquo, em tradução livre).

“Em 2004, o diretor da Biblioteca Histórica de Paris queria fazer um grande evento, porque em 2005 seria o ano do Brasil na França. Então, fui convidado, e essa exposição eu chamo “Derrière les Tableaux”, atrás do quadro. Por quê? É um prédio que tem a idade do Brasil, do século XVI. E o que eu poderia trazer para esse prédio que lembrasse o Brasil e que fosse puramente o meu trabalho, a minha criação? Eu trouxe as nossas janelas coloniais do Brasil, de Olinda, do Recife, até mesmo da minha cidadezinha do interior, do Rio, Salvador... e transformei isso em quadros. E por trás da pintura, o que a gente tem? A gente tem sede, a necessidade da cultura, do conhecimento, porque por trás da janela estava a grande sala, que era a biblioteca, aonde os cientistas vem desenvolver trabalhos e pesquisas”, detalhou.

Já o “Le Vide Oblique”, realizada na Maison de l'Amérique Latine  (Casa da América Latina), retrata a infância de Jaildo, quando vivia no Sertão Nordestino. “Retrato todo esse vazio que existe dessa região, um vazio de cultura, de bens, porque é uma região pobre, árida. E o vazio pode se transformar, por exemplo, quando está muito seco, assim que dá uma chuva, tudo fica transformado. E eu venho enquadrar o vazio porque é o lugar onde estão os átomos”, explicou.

“É uma espécie de memória, de lembrança afetiva, que cria uma linguagem de aconchego, mas, também, uma linguagem universal onde tudo é possível. Você tem uma porta para abrir e continuar a sua vida, o seu caminho e refletir: - 'Para que serve a arte?' - Porque a arte sempre tem que existir. Porque o ser humano precisa da arte para poder suportar tudo que a vida nos dá como desafio”, finalizou. 

O artista plástico Jaildo Marinho
Reprodução/Facebook
O artista plástico Jaildo Marinho


    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!