Bienal do Livro incentiva formação de leitores em retorno presencial
Evento acontece entre os dias 2 e 10 de julho em São Paulo; Câmara Brasileira do Livro tem a expectativa de receber 600 mil pessoas
Desde 1970, a Bienal Internacional do Livro de São Paulo recebe de estudantes a autores com o objetivo de impulsionar a literatura entre a população. No retorno presencial da 26ª edição do evento, que acontece entre os dias 2 e 10 de julho, no Expo Center Norte, a proposta segue a mesma e destaca a importância de formar novos leitores pelo Brasil.
Presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), organizadora do evento, Vitor Tavares atua no mercado editorial há 42 anos e relata em entrevista ao iG Gente o aspecto transformador que os livros apresentam na vida das pessoas. “Muitos lembram de ter visitado a Bienal quando criança. Que foi para eles um momento mágico de encontrar seus autores e seu livro preferido. Acho que a Bienal exerce esse papel e é uma das nossas funções e missões, de ajudar a formar leitores [...] A gente acredita que o livro é transformador da sociedade, do ser humano e da criança”, defende.
Incentivo diante de tentativas de taxação dos livros
Com a expectativa de receber cerca de 600 mil pessoas ao longo dos nove dias de programação, Vitor entende que a Bienal precisa investir principalmente na formação de leitores entre o público infantil diante deste alcance. “Estamos preparando o futuro do Brasil e o futuro está nas crianças. Se a gente não formá-las e inseri-las no mundo literário, nós vamos ter o quê? Um país com cada vez menos leitores”, diz.
O presidente da CBL expõe dados para justificar como o incentivo à leitura no país também é benéfico para a movimentação da economia. “A gente lê por volta de dois livros inteiros por ano, per capita. É bom, mas a gente poderia estar lendo 5 [livros] em um país com o IDH médio e PIB do Brasil [...] Você multiplica isso pela população de 200 milhões, nós íamos produzir livros físicos na ordem de 600 milhões de exemplares. A gente precisaria de uma quantidade enorme de livrarias, bibliotecas, feiras e bienais para poder atender a esse público leitor”, analisa.
Neste cenário, Vitor observa como um desafio da Câmara Brasileira do Livro combater as propostas de taxação dos livros feitas pelo governo. “Se taxar o livro, ao invés de estar colocando o livro de uma forma mais democrática a uma quantidade maior de leitores, vamos estar reduzindo. Então a gente não pode deixar que se taxe o livro, temos que lutar muito contra a taxação do livro, seja em qualquer reforma tributária que venha ou nesse governo ou no próximo”, aponta.
“O livro é imune de impostos federais, municipais e estaduais desde a Constituição de 1946, quando um grande deputado constituinte por São Paulo, Jorge Amado, propôs isso. Depois vieram as reformas constitucionais e isso se manteve. Então o livro não paga impostos, taxa ou contribuição, para a gente facilitar o acesso para que as editoras fiquem viáveis e possam produzir essa grande diversidade brasileira [...] O livro tem que ficar onde ele sempre esteve desde 1946, imune de todas as taxas e impostos”, ressalta.
Diversidade de Norte a Sul
Visando a valorização da diversidade na produção literária, a Bienal do Livro promove debates de diferentes temas na programação, trazendo desde autores indígenas até discussões sobre personagens LGBTs. Vitor Tavares comenta como a CBL nota a “rica diversidade” na produção literária a partir das inscrições ao Prêmio Jabuti, o mais tradicional prêmio literário do Brasil, que contará com um espaço reservado no evento.
“A produção literária brasileira é muito grande e a gente percebe isso nas próprias inscrições do prêmio Jabuti. A cada ano a gente bate recordes e neste ano nós tivemos mais de 4 mil inscrições no Prêmio Jabuti, com autores indígenas, LGBT, de literatura de vanguarda, de ficção e não ficção, de Norte a Sul do Brasil. A nossa bibliodiversidade é enorme e temos que entender tudo isso na Bienal e respeitar a todos”, afirma.
“A Bienal do Livro não é uma feira de livros, é um grande festival literário brasileiro. E não é só de São Paulo”, complementa. Vitor ainda conta como tal diversidade reflete nos participantes do evento, que vêm de todas as regiões do país.
“A gente recebe a visitação escolar de mais de 100 mil alunos do Estado, da Prefeitura e universitários. E a gente percebe também que não só de São Paulo, capital ou interior, a gente vê visitantes de todo o Brasil. Os ‘Amigos do Nordeste’ chegam com um caminhão com a literatura de cordel neste ano”, exemplifica.
O BookTok tem poder
No comando da organização da Bienal pela Câmara Brasileira do Livro, Vitor cogita a possibilidade do público ultrapassar o número de 600 mil por conta do aumento de leitores após a pandemia. “Está sendo uma expectativa tão grande [...] A gente percebeu que o brasileiro não deixou de comprar livros durante a pandemia, leu mais ou colocou as leituras em ordem”, diz.
Desde 2020, o segmento da literatura no TikTok, conhecido como “BookTok”, influenciou muito a propagação de cada vez mais conteúdos literários nas redes sociais. Autores nacionais e internacionais ganharam mais relevância nestas circunstâncias e agora podem encontrar os leitores presencialmente na Bienal.
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O profissional analisa como a programação é influenciada pela repercussão de livros e autores em destaque entre o público: “Quem cobra isso da gente é o próprio leitor. A Bienal do Livro, a Câmara Brasileira do Livro e o mercado editorial vão se adaptando a cada momento da sociedade”, comenta antes de destacar o papel do evento em promover segurança e dar senhas para organizar sessões de autógrafo.
Vitor ainda relembra casos impactantes na Bienal do Livro, como a passagem da escritora norte-americana Cassandra Clare: “Foi tanta gente, tantos jovens que chegaram seis horas da manhã e já estavam na porta do pavilhão para entrar [...] Então é um desafio, mas é um desafio bacana. Um evento dessa magnitude seria muito triste para nós se não tivesse ninguém. Como tem gente, vamos organizar e receber a todos. E é fato, as redes sociais estão muito presentes”.
Novidades da edição
A Bienal ainda recebe alguns autores internacionais na edição de 2022, como Jenna Evans Welch, Ali Hazelwood e Valter Hugo Mãe. Este último nome representa no evento o time de Portugal, escolhido como o país homenageado e trará até o presidente Marcelo Rebelo de Sousa para uma participação.
“Portugal vem com um estande lindo, trazendo 21 autores, o próprio Walter Hugo Mãe vai estar presente autografando os livros. O técnico do Palmeiras, Abel Ferreira, que lançou o livro ‘Cabeça Fria, Coração Quente’ também está confirmando a presença em uma mesa e depois vai autografar o livro dele”, esclarece.
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“São mais de 1300 horas de atrações culturais, de mesas, debates, encontro com autores. E isso oficial nos nossos espaços temáticos. Só que nós temos também as atrações que as próprias editoras levam, elas fazem lançamentos nos estandes com autores e debates. Então, eu acredito que são mais de 2 mil horas de atrações culturais voltado ao livro, a literatura e a é a difusão da leitura. É um trabalho bastante grande”, completa.
Com entrada franca até os 12 anos e acima de 60 anos, o público pagante que comprar os ingressos até o dia 30 de junho ganhará um valor em cashback para ser resgatado na própria Bienal do Livro. Os participantes poderão explorar 183 estandes, 500 selos literários e 9 espaços temáticos no pavilhão.
“A Bienal é o ápice de todo um período de trabalho que a gente fez durante os últimos dois anos. Lá você vai encontrar influenciadores, políticos, formadores de opinião, professores, editores, autores, livreiros, distribuidores livres, debates sobre políticas públicas do livro, a questão comercial do livro, o papel do livro na sociedade e a importância do livro e também das livrarias físicas [...] Enfim, o livro é algo que não aparta ninguém, ele aproxima as pessoas”, conclui.