No carnaval, as mulheres sempre dão um show na Avenida. Seja como rainha de bateria, musa, passista, na ala das baianas e até tocando um instrumento. Algumas delas, porém, vêm se destacando numa posição que é predominantemente masculina: a dos puxadores e intérpretes. Uma série de escolas tem vozes femininas interpretando seus sambas-enredo este ano. Cada uma dessas cantoras tem uma história diferente, mas em um ponto todas se encontram: elas lutam pela vitória de suas agremiações no desfile, mas já venceram o machismo ao segurarem o microfone e soltarem a voz na Marquês de Sapucaí.
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Cantora de pagode, Karinah foi convidada por Neguinho da Beija-Flor para ser apoio na escola de Nilópolis. Ela já havia recebido convite para ser rainha de bateria, musa, já saiu como destaque em outras escolas, mas seu sonho era mesmo estar no lugar em que estreia este ano. Além da Azul e Branco, Karinah canta hoje na Estácio de Sá, na Série Ouro.
"Vai ser um momento muito lindo da minha vida. É um sonho de criança. A Beija-Flor é uma escola que sempre traz uma mensagem contra o preconceito, eu me senti muito acolhida. Já a Estácio é a primeira escola de samba do Brasil. Hoje, juntamos forças e mostramos que mulher pode estar onde quiser. Tem tanta menina dentro desse circuito, aos poucos vamos ter mais visibilidade. Temos que fazer o público se acostumar a nos ouvir".
Enquanto as mulheres ainda estão se multiplicando como vozes de apoio, Wic Tavares, de apenas 25 anos, é intérprete principal da Unidos da Tijuca ao lado do pai, Wantuir. Já sua mãe, Cecília D’Preto, é uma das três vozes femininas que defendem a São Clemente, ao lado de Rosilene e Julia Castro.
"Por muito tempo, fomos minoria no samba. Hoje sinto que estamos conseguindo conquistar cada vez mais nosso espaço. É uma honra mais do que indescritível ter a oportunidade de ser uma das vozes que cantará o hino para nossa São Clemente passar na Avenida, especialmente falando do ídolo Paulo Gustavo", salienta Julia Castro.
Assim como Wic, a paulistana Grazzi Brasil, de 34 anos, se destaca no Paraíso do Tuiuti como uma das intérpretes.
"Eu me vejo como a própria resistência. Realmente, é um lugar muito masculino. Não é fácil, mas tem que meter o pé na porta porque na cabeça de algumas pessoas é anormal. Talento temos, mas muitas oportunidades não chegam".
Por falar em talento, Milena Wainer, que sai ao lado de Débora Cruz e Viviane Santos no apoio da Mocidade Independente de Padre Miguel, vem para provar que essa realidade pode mudar. A carioca de 26 anos canta nos carros de som das escolas mirins desde os 13 anos e, em 2018, estreou no Grupo Especial.
"Fui intérprete da Estrelinha da Mocidade. É uma honra estar neste lugar, mesmo sendo um meio bem machista. Passamos por muitas coisas, ainda mais em época de disputa de samba. Tem quem ache um absurdo ver mulher cantando. Mas os empecilhos dão mais força"