Depois de estrelar “Bom Dia, Verônica” na Netflix, Camila Morgado parte para outro streaming ao protagonizar uma nova produção de suspense no Prime Video. Em “Sentença”, Camila Morgado dá vida à Heloísa, uma advogada criminalista com personalidade forte que defende o direito de defesa para todos. A personagem se vê diante da complexidade do cárcere e do sistema prisional brasileiro, temas da produção que incitam à reflexão do público.
Com seis episódios dirigidos por Anahí Berneri e Marina Meliande, o seriado chega ao streaming da Amazon nesta sexta-feira (15). Em entrevista ao iG Gente, Camila analisou o novo projeto como um "retrato do país” e ainda denunciou temáticas expostas na produção que precisam ser questionadas atualmente, como a desigualdade social e o encarceramento em massa.
Morgado afirmou que o panorama nacional influenciou muito na própria construção crítica como Heloísa: “A minha personagem trabalha nos presídios e, se a gente for pensar um pouco nos presídios, nós somos a terceira população carcerária do mundo, a quinta feminina. Se começar a questionar um pouco do porquê os presídios estarem superlotados e o porquê do presídio ser um sistema quase de tortura, degradante… O ser humano que chega ali dentro, ele sai pior. É um universo extremamente violento”.
“Quando a gente começa a perguntar sobre isso, a perceber que, de dez presos, sete são pretos, pobres e periféricos. Quando começa a entender que o tráfico de drogas talvez seja o crime que mais prende hoje no nosso país, por isso que os presídios estão tão lotados, a gente começa a discutir um monte de coisa. Tem que pensar na sociedade como um todo e trazer isso para reflexão, o que eu acho que essa série faz e acho isso importante. Porque a gente está falando de desigualdade social, de problemas estruturais do nosso país [...] Enquanto um país for tão desigual socialmente, a gente vai ter esse sistema”
Em “Sentença”, a personagem da atriz defende Dinorá (Lena Roque), uma suposta assassina impactada diretamente pela violência policial. Camila expõe que casos como o da série são camuflados porque a “segurança” da população é o que mais importa. “O que vendem pra gente é que a segurança é mais importante, então, é melhor prender as pessoas que não se encaixam na sociedade. A sociedade prefere não ver, não enxergar o que está acontecendo”, pondera.
“Então é um retrato do nosso país. A gente tá falando da nossa realidade. Onde, no sistema carcerário feminino, as mulheres são presas, normalmente mães solteiras, porque fizeram um aviãozinho no tráfico de drogas. Porque precisavam comprar comida para dar pro seus filhos. E aí essa mulher é presa, fica fora, é separada da sua criança. E aí, o que a sociedade está fazendo pra essa criança. Será que ela não está desenvolvendo mais violência?”
Morgado enxerga a série como um bom instrumento para o público repensar o sistema violento em que vivemos, o qual “não restaura os indivíduos para a sociedade”: “Como a gente deveria pensar? Quais são as perguntas que a gente deveria fazer? Onde deve investir? Não seria em uma educação igual para todos? Investir na cultura para que as pessoas aprendam a pensar melhor, a trazer mais reflexão [...] Então que país a gente quer? Como é que fica acusando, 'porque tem que ser preso, porque isso é segurança pública’. Isso não é segurança pública. Isso desenvolve mais violência”, avalia.
“Então penso que a série traz para a gente esta reflexão, do que nós queremos enquanto sociedade, principalmente em um momento tão difícil que está atravessando do nosso país, vindo de uma pandemia”, analisa. Fernando Alves Pinto, que interpreta o marido de Heloísa na trama, completa o argumento da atriz: “O seriado põe essa ferida aberta, sendo quase documental. Isso é muito importante. Tudo que você vê dentro daquele presídio é muito próximo da realidade e é muito importante que seja visto”.
O ator vive um promotor em “Sentença” e conta que foi um desafio interpretar um personagem com tal profissão: “Por mais que os advogados e promotores precisem da retórica e oratória - características que um ator desenvolve também -, o lado jurídico e teórico é completamente alheio ao meu universo”.
“Foi um desafio. E ainda que esse nome de ‘promotor’ na época [das gravações] ainda estava ligado a esse cara que disse depois que nunca ia fazer política, estava ligado a essa pessoa…. Mas aí eu me limpei disso, graças a Deus, e foi muito fascinante”, compartilha Fernando.