Daniel Pimentel criticou decisão de retirar filme das plataformas de streaming
Reprodução/Montagem - 16.03.2022
Daniel Pimentel criticou decisão de retirar filme das plataformas de streaming

Brunho Munhoz, de 17 anos, e Daniel Pimentel, de 22, têm assistido — em looping e em minúcias — a uma cena antiga de suas vidas. Impossível driblar o passado.

Basta abrir o celular, e a sequência está lá: num dos trechos do filme de comédia "Como se tornar o pior aluno da escola" (2017), protagonizado pela dupla de atores, eles ouvem o vilão interpretado por Fábio Porchat pedir para que o masturbem. "Tudo faz parte de uma obra de ficção", os jovens passaram a frisar, como se precisassem explicar o básico.

"Nos tempos de hoje, com essa cultura do ódio e do cancelamento, alguém joga um vídeo curto que não mostra a cena inteira, e isso já é visto como apologia à pedofilia. Sendo que, em momento algum, a gente faz isso. Muito pelo contrário", ressalta Daniel Pimentel, que realizou seu primeiro trabalho no cinema no filme. 

Descontextualizada, a referida cena vem sendo compartilhada por representantes do governo Bolsonaro desde o último fim de semana, depois de o longa-metragem ser incluído no catálogo da Netflix.

Na última terça-feira (15), o Ministério da Justiça e Segurança Pública determinou a suspensão da exibição do longa-metragem em todas as plataformas de streaming, como Globoplay e Telecine, além de Netflix. A medida, no entanto, é inconstitucional e se configura como censura, como alertaram juristas.

Mudança na faixa etária

Nesta quarta-feira (16), o Ministério da Justiça e Segurança Pública alterou a classificação etária da obra. Em despacho publicado no Diário Oficial da União, a pasta afirma que "tendências de indicação como coação sexual; estupro, ato de pedofilia e situação sexual complexa" determinaram a mudança de recomendação etária para 18 anos.

Há cinco anos, à época da estreia do longa-metragem nos cinemas, o próprio ministério havia classificado a produção como recomendada para maiores de 14 anos.

Em 2017, aliás, a própria equipe de "Como se tornar o pior aluno da escola" se surpreendeu com a então classificação atribuída à história, conforme apurou o GLOBO.

Nos bastidores, o fato foi celebrado, já que a produção teria a chance de alcançar um público mais abrangente nos cinemas. A expectativa, naquele período, era de que o filme fosse classificado pelo ministério como recomendado para maiores de 16 anos.

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"Conseguir a classificação de 14 anos foi uma coisa espantosa para a gente. Mas acho que com, 14 anos, muitas crianças e pré-adolescentes já sabem de muita coisa e podem ver um filme entendendo que ele é um filme", pondera Daniel.

Bruno e Daniel, os atores mirins que deram vida aos protagonistas do filme, têm recebido dezenas de recados nas redes sociais acerca do assunto. Ainda menor de idade, Bruno revelou, por meio de sua conta no Instagram, que se tornou alvo de ofensas e ataques contra a própria mãe. Os dois têm conversado, e agora tentam dialogar mesmo com aqueles a quem eles discordam.

"Muitos me dizem que só viram o filme por causa da polêmica e gostaram. A quem discorda, eu pergunto: você viu a cena inteira, então por que é pedofilia? A maior parte dessas pessoas recua", diz Daniel.

"A gravação da cena aconteceu naturalmente. Pegamos o roteiro antes e vimos que havia o politicamente incorreto, coisa que lido muito bem. Essa cagação de regra não era desse jeito antigamente. Nos anos 70 e 80, o burburinho não era uma coisa tão grande assim. Foi uma cena normal. Uma cena tranquila! Sem nenhum incômodo, sem nenhuma tensão. Faço arte, sou ator e estudo para me sentir à vontade. O que há é só um diálogo fictício", disse. 




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