Durante as eleições presidenciais em 2018, membros da campanha eleitoral do agora presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foram pela oposição de utilizar robôs para inflacionar a opinião pública na internet. Para debochar do ocorrido, um grupo de bolsonaristas viralizou com um vídeo mostrando que os verdadeiros "robôs" da campanha eram "reais", e se auto-intitulou "robôs do Bolsonaro".
Três anos depois, pelo menos um deste grupo mudou de opinião e hoje faz oposição ao presidente. Ana Claudia GrafUma é ex-candidata a vereadora de São Paulo com mais de 24 mil seguidores no Facebook. Hoje, Ana diz que considera o presidente um "estelionatário eleitoral".
Em entrevista ao iG Gente, Ana relembra que os amigos gravaram o vídeo de brincadeira, já que acreditavam que a acusação de uso de robôs era falsa, mas que hoje, ela não tem a "menor dúvida" de que o uso de robôs na campanha do então candidato a presidente "era verdadeira".
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Em abril de 2020, no começo da crise da pandemia de Covid-19, Ana Claudia declarou em um vídeo que era contra as posições do presidente Jair Bolsonaro e que se arrependeu do voto. Segundo ela, o motivo foi a saída então ministro da Justiça, Sérgio Moro, do cargo.
"A saída do Moro foi o momento que expus de forma mais dura as críticas que eu já vinha fazendo nas minhas redes. E todas vinham seguidas de ataques covardes e cruéis. Eu já vinha criticando o comportamento do presidente desde que ele cogitou colocar o seu filho para embaixador", afirma.
Além da surpresa da saída de Moro, Ana Cláudia diz que também se decepcionou com o presidente no dia em que ele "desvalorizou o voto de quem o elegeu'. "Me lembro em uma live, ele ter falado que 'quem não gostasse, que não vote em mim nas próximas eleições'. Fazendo pouco caso dos votos que ele teve. Desde esse momento eu comecei a perceber que não tinha um projeto pró-Brasil e, sim, um projeto de poder familiar", dispara.
"Maior estelionatário eleitoral da história do Brasil"
Ana Claudia, que tinha esperança em mudar o rumo da política no Brasil com seu voto em Bolsonaro, hoje considera o presidente um "estelionatário eleitoral" por causa das promessas não cumpridas. "Ele prometeu não fazer o 'toma-la-da-cá', se elegeu na 'bandeira anticorrupção' e começou a destruir essa bandeira quando tirou o Coaf [Conselho de Controle de Atividades Financeiras] do Ministério da Justiça, sancionou o juiz de garantias, a limitação da delação premiada e a lei de abuso de autoridade", diz.
Ela também se sente decepcionada por ver a relação de Bolsonaro com o 'centrão'. "O Vi na campanha repudiar centenas de vezes o Centrão e hoje está aliado aos piores bandidos e saqueadores da nação, entregando as chaves dos cofres públicos nas mãos deles", afirma.
Para Ana Claudia, o desrespeito de Bolsonaro com as vítimas da Covid-19 a "enoja". "Se dizia cristão e o vi fazendo pouco caso de mais de 500 mil mortes. Em nenhum momento se solidarizando com as famílias das vítimas do covid. Esse conceito de cristão dele me enoja. Como as pessoas não conseguem enxergar isso e ainda o chamam de mito? Se isso não é estelionato eleitoral, não sei o que pode ser", afirma.
A ex-candidata a vereadora diz que para ela, Bolsonaro deveria ser afastado do cargo: "Ele já aprontou muito e deveria ser afastado ou até mesmo sofrido impeachment. A Dilma foi por bem menos".
Ela não é a única 'robô' a mudar de opinião
Tanto o vídeo de 2018 quanto o de 2020 não são problema para Ana Claudia, que tem o objetivo de mostrar "que é possível mudar de opinião e deixar de apoiar o presidente". "Quero mais que ele alcance muitas pessoas e que através do meu exemplo mais pessoas se libertem e tenham coragem de enfrentar a patrulha e o ódio dessa gente ruim", diz.
Ela conta que, das pessoas do vídeo, alguns não apoiam mais Bolsonaro e outros permanecem fieis ao presidente. "Esses têm interesses pessoais por trás. Aos que mantém apoio ao presidente, fazem ataques covardes principalmente a mim. Na cabeça deles sou uma 'comunista vendida e infiltrada'", lamenta.
Em 2022: nem Lula, nem Bolsonaro
Ana Claudia não tem certeza das eleições e de quais serão os candidatos, mas garante: não irá votar nem em Lula e nem em Bolsonaro. "Penso que o Brasil precisa sair dessa polarização e dos extremos", diz. "Voto em Moro, Dória, Mandetta, Simone Tebet, Alessandro Vieira ou quem se apresentar como terceira via", conta.
Para ela, os que ainda apoiam o presidente têm "medo da volta do Lula". "Essa é a maior barreira. Há muitos interesses pessoais por parte de quem faz a manipulação. O Bolsonarismo é uma guerra de narrativas, eles conseguem manipular essas pessoas de uma forma que não permite aceitar que ele é uma enganação", afirma.