A nova produção brasileira da Netflix, "Irmandade", foi lançada na manhã desta quarta-feira (9), em São Paulo, com as presenças do diretor Pedro Morelli, dos atores Seu Jorge, Naruna Costa, Lee Taylor, Wesley Guimarãoes, Pedro Wagner e Danilo Grangheia. A trama é composta por oito episódios e será disponibilizada no dia 25 de outubro pela plataforma.
A série é ambientada na cidade de São Paulo dos anos 1990 e conta a história de Cristina (Naruna Costa), uma advogada honesta do Ministério Público e dedicada ao trabalho. Ela descobre, depois de duas décadas de separação, que seu irmão Edson, interpretado por Seu Jorge, está preso e lidera uma facção criminosa conhecida como “Irmandade”.
Ao longo da trama, ela acaba se envolvendo com o crime organizado e precisa fazer difíceis
escolhas, sempre envolvida em uma tensão do que seria o correto e errado, baseado na vivência da personagem.
Com criação e direção de Pedro Morelli, a série, uma parceria da Netflix com a produtora O2,
levou dois anos entre elaboração e lançamento. De acordo com Morelli, a plataforma de streaming procurou a produtora e trouxe alguns temas como sugestões para uma futura produção.
"Dentre os que eles me apresentaram, me interessei pela temática das facções criminosas porque eu já tinha vontade de criar algo nessa temática. Quando fomos falar sobre facções crminosas tinham algums abordagens possíveis. A mais esperada e a menos bacana seria através do ponto de vista de um policial que investiga a facção. A segunda ideia seria fazer por meio do olhar de um líder da facção e colocar ele no centro da trama, mas também já vi muitas vezes. Então, escolhemos colocar o ponto de vista de uma mulher, uma protagonista, que é a Cristina (Naruna Costa)", explicou o diretor da nova série da Netflix.
Ainda segundo Morelli, a escolha da mulher no centro da trama e a década em que a série se passa estão conectadas. "Para ter uma protagonsita mulher nesse contexto, a gente precisava estar na época antes do telefone celular porque hoje em dia os presos conseguem se comunicar entre si, mas antigamente as mulheres eram mais necessárias para passar mensagens, sair e entrar do presídio", detalhou.
Para Seu Jorge, o trabalho foi intenso, precisou de muita pesquisa e ele até pediu ajuda aos
rappers Mano Brown e Edi Rock, do grupo Racionais MCs, representado na trilha sonora, sobre o vocabulário da periferia paulistana nos anos 1990.
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"Compor o Edson não é fácil, tem a linguagem de época, as gírias de São Paulo, eu tive que
trabalhar muita coisa, mas valeu a pena. Não vejo a hora de fazer tudo de novo", destacou o
protagonista. A trama é dirigida por três diretores (Morelli dirige alguns episódios, e outros têm a condução de Aly Muritiba e Gustavo Bonafé).
Além de São Paulo, a trama também foi gravada em Curitiba, em uma ala desativada de um presídio ainda em funcionamento. O elenco comentou que era comum os presos assistirem às gravações das cenas, mesmo que de longe, e isso teria inspirado ainda mais os atores e atrizes. Para entrar na unidade prisional, eles também eram revistados e passavam pelo esquema da segurança.
"Ali eu compreendi o quanto é valiosa a liberdade porque a gente ficava um pouco na cela, mas
depois ia embora. Uma cena em especial me marcou. Eu estava no pátio e via que eles estavam nos assistindo e gritando: 'Seu Jorge, representa nós'. É muito forte, o cara ta gritando de dentro da cela para eu representá-lo. Não me intimidou, me deu um gás", avaliou Seu Jorge.
O diretor garante que a facção criminosa do seriado é fictícia e os personagens também. Mas, ele destacou que a história se baseia na realidade do crime organizado e de como a falta de Justiça foi um grande empurrão para a realidade carcerária do país hoje.
Lugar de fala, "Irmandade" promete fugir dos clichês
Naruna Costa, que vive a Cristina, em determinado momento do seriado trabalhará como informante da polícia contra o próprio irmão. Para interepretar a personagem, ela conta que, além das pesquisas, também colocou um pouco de si na irmã do Edson (Seu Jorge).
Ela falou abertamente sobre como a representatividade ajudou a dar autenticidade ao seriado. "Nós duas temos semelhanças, eu a Cristina. Somos negras, da periferia e sobreviventes. Eu acho que não só eu. No primeiro dia de gravação o Seu Jorge contou um pouco da história dele, o Wesley também e a gente percebe que, apesar de gerações diferentes, em algum momento a gente é família enossa vivências se cruzam", disse Naruna.
O elenco negro de Irmandade chamou atenção sobre o lugar de fala e de como isso ajudou a moldar o roteiro da trama para fugir de clichês e estereótipos sobre o crime. O diretor Morelli também alegou estar ciente de que é um homem branco e privilegiado. "Por isso que eu sinto a necessidade de falar sobre esses temas, essas injustiças sociais", relatou.
Confira o trailer de "Irmandade"
No cenário de “Irmandade” também estão as palafitas de Cubatão, em São Paulo. A série se ambientou em mais de 40 locações no estado e contou com o trabalho de 280 pessoas na equipe, mais de 500 figurantes e 85 dias de filmagens.
A primeira temporada da série chega com oito episódios simultaneamente nos 190 países onde a Netflix está presente. O diretor não confirma se haverá uma segunda temporada, mas já adianta que trabalha com a possibilidade e que nem todos personagens devem continuar.