Quando veio ao Brasil pela última vez em 2009 a vida de Lily Allen era outra. Sua música chamava tanta atenção quanto seus excessos e a cantora sai mais nos jornais por conta das muitas noitadas. Ela nunca escondeu esse período, nem se envergonhou dele, porém. Pelo contrário, “No Shame” (sem vergonha) é o nome dado a nova turnê da cantora, que passou pelo Brasil no último domingo (09).
Headliner do Cultura Inglesa Festival, Lily Allen subiu ao palco em São Paulo por volta de 19h e fez um show com 1h30min de duração, para fã nenhum botar defeito. “No Shame” também é o nome de seu último álbum, de 2018, que não foi tão celebrado quanto os singles antigos, mas rendeu bons momentos, desde o começo com Trigger Bang até Family Man mais no final. “A próxima música é sobre a deterioração do meu casamento”, disse, sem medo de jogar a real.
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Mas mesmo em faixas mais melancólicas e calmas - que foram poucas, a energia da cantora não sumiu. Sempre sorridente, ela agradeceu a plateia diversas vezes e parecia estar realmente se divertindo com sua apresentação, que além dela incluiu dois músicos.
Com um palco simples, sem grandes pirotecnias, dá para considerar o show íntimo, já que além das confissões em suas músicas, ela dividiu as dificuldades com a maquiagem e o figurino: “minha calça prendeu na minha vagina”, brincou antes de se arrumar no palco sem fazer cerimônia.
A falta de mais músicos no palco acaba dando espaço para muitos sons eletrônicos, que nem sempre beneficiaram a cantora, mas nada que ela não lidasse com um sorriso. Ela parecia encantada e encantou o público no Memorial da América Latina. Apesar do primeiro grande momento vir apenas com a quarta faixa, LDN, ela soube dosar sucessos do passado e músicas novas, ignorando as faixas de “Sheezus”, seu álbum mais controverso e menos aclamado.
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Conforme o setlist progredia, ela também ia ficando mais empolgada, dançando e pulando mais a cada música. O primeiro momento que fez os fãs (que lotaram o Memorial) cantaram em uníssono foi em The Fear, onde ela canta sobre vaidade, pessoas falsas, ganância: “Escrevi essa música há muito tempo. Antes das Kardashian, do Trump e do Bolsonaro. Eu previ que isso ia acontecer. Vocês estão com medo? Eu estou!”, falou antes de iniciar a faixa. Essa foi a primeira menção ao presidente brasileiro.
Pouco antes do bis, ela dedicou uma de suas faixas de maior sucesso as mulheres. A Lily Allen lá de 2009 á deixava seu recado e, 10 anos depois, continua fazendo sentido com Not Fair. O momento mais esperado, porém, viria com o bis e a aguardada Fuck You, maior sucesso da cantora, também de 2009. Depois de deixar o palco por poucos minutos, ela volta com outra roupa e pronta para a festa. Ela sabe o que os fãs querem e se dedica para fazer deste momento o mais catártico possível.
“Escrevi essa música na época do George Bush. Achei que era o pior que ficava. Depois comecei a cantar para o Trump. Já que estamos no Brasil e no mês do orgulho gay, quero dedicar para o seu presidente. F*ck you Bolsonaro”, gritou antes de começar a faixa.
Com um tênis com a bandeira do orgulho gay, ela deixou que o público mandasse seu recado e, fosse para o Presidente ou para qualquer um, não tinha uma pessoa que não cantou a plenos pulmões.
A britânica fez um show com muitas músicas, incluindo um cover de Lykke Li (deep end) e T-Pain (5 O’Clock), dedicou uma faixa aos filhos, falou com sinceridade como só ela sabe em suas faixas e deixou os fãs de São Paulo satisfeitos.
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Depois de tantas reviravoltas na carreira, ver Lily Allen em ótima forma, com a voz afinada, energia para distribuir e alegria de subir ao palco é especial. A cantora deixou claro porque se tornou um dos maiores nomes do pop e mostrou que ainda tem muita coisa para dizer.