Todas as esquinas que levavam ao Allianz Parque, na Barra Funda, estavam abarrotadas de fãs da banda sul-coreana Bangtan-Boys, mais conhecidos pela sigla BTS — berrada pela multidão que tentava chegar o mais próximo possível das grades de entrada do estádio do Palmeiras. Os sete cantores do grupo se apresentarão hoje, às 19h, para cerca de 39 mil fãs do estilo K-pop.
“Gritamos quando vemos uma sombra ou relance dos garotos da banda lá dentro” — explicou Bruna Leite, 22 — uma das que sobraram no acampamento erguido pelos fãs do grupo de K-pop há mais de 3 meses na praça vizinha ao Allianz Parque. “Cheguei tarde, estou aqui desde o domingo, só”, lamenta ela.
“Água é R$5,00” e “Compro e vendo ingressos, baratinhos aqui na minha mão!” eram as únicas coisas que se ouvia entre os gritos dos fãs.
Acampados na praça
Cada barraca tem uma administradora: “A pessoa que organiza o revezamento, a comida. Tudo que a gente precisa”, esclarece Daniela Miguel, 22. Ela está acampada desde fevereiro junto com o resto do “army” (o conjunto de fãs da banda) que decidiu reservar posições privilegiadas na fila para o show dormindo nas barracas.
Daniela e Bruna disseram que não passaram por muitos perrengues durante suas estadias nas barracas — “nos organizamos bem”. Até a questão do banheiro já estava bem resolvida: “Usamos o do Burger King, lá no shopping. É limpo e prático”, resume Daniela.
No sol, do lado oposto às colegas de barraca, o segurança do estádio Francisco Ferreira, 55, desmente a ilusão dos fãs. “Nenhum dos meninos da banda chegou, não sei por que estão gritando assim.”
Impressionado pelo tamanho do público, Francisco conta que, nos quatro anos trabalhando por lá, a única coisa que trouxe uma multidão de fãs dessa magnitude foi o show do cantor canadense Justin Bieber, no começo de 2017.
Você viu?
Sonho dos filhos
Celeste Oryan, 37, e Francisco Oryan, 58, voaram de Santiago, no Chile, para São Paulo na última madrugada. “Queremos realizar o sonho da nossa filha.” Tímida, Isabel, de 18 anos, confirma a versão dos pais abraçando a mãe — que veio vestida com a camiseta da banda, como a filha.
“Pode ver que metade de quem está aqui é mãe ou pai”, garante Rosângela Leboutte, de Porto Alegre. A família gaúcha estava guardando dinheiro há um ano para conhecer as praias do Nordeste em dezembro. Mas, os planos mudaram. “Minha filha é esperta. Ela conseguiu me convencer a usar esse dinheiro para dar esse show de presente para ela.”
E a viagem planejada? “Ah, agora sobrou dinheiro para vermos a praia em Santa Catarina e olhe lá”, brincou.
Rosângela assistirá ao show com a filha de 14 anos. “O som deles é legal… E tem aquele menino da boca bonita: Jimin, o único que decorei o nome”.
Jimin é o favorito, ou bias no linguajar K-pop, de Isabelle Cícera, 12, também. Antônio Carlos, 37, acompanhava a filha. “ Vim de Franco da Rocha para realizar o sonho dela, é o jeito, não é Isabelle?…” — “Uhum”, sorri a menina.
Bom para todos
Na lanchonete “Palmeiras Lanches”, de frente ao estádio desde 1962, o chapeiro corre para acompanhar os pedidos dos fãs esfomeados. “Show é bom pro movimento”, conta Laércio Correia, 40. “Mas o filet, o movimento bom mesmo, é quando tem show de rock” — “a galera do rock se esbalda, né. Esse pessoal bebe”, ri o gerente.
Marília Costa, 27, passa entre as filas vendendo tiaras com os rostos dos integrantes do BTS. “Ganho dinheiro na fila para comprar o ingresso do show. Assim consigo ir em todos os que quero”, explica ela.