Diretor belga afirma que "fanatismo não é algo exclusivo do islã"

Luc Dardenne retorna ao Festival de Cannes com "Le Jeune Ahmed", dirigido em conjunto com seu irmão, Jean-Pierre; longa foi exibido na última segunda

Donos de duas Palmas de Ouro (por “Rosetta”, em 1999, e “A Criança”, em 2005), os irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne retornam a Cannes com aquele que talvez seja seu filme mais espinhoso, “Le Jeune Ahmed” (“O Jovem Ahmed”, em tradução literal), sobre um adolescente muçulmano cooptado por extremistas.

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Foto: IMDB
Le Jeune Ahmed


O filme, exibido na noite desta segunda-feira (20) na competição da 72ª edição da mostra francesa de Cannes , é o primeiro da dupla de realizadores belgas a lidar direta e abertamente com o tema da religião, aqui manipulada por radicais.

“O fanatismo não é exclusividade do islã. Há correntes radicais em outras religiões também, como no judaísmo, e muitos crimes já foram cometidos em nome de líderes religiosos”, declarou Luc Dardenne durante a coletiva de imprensa, na manhã desta terça-feira (21).

“O que nos motivou a falar sobre o islã agora foram os ataques terroristas a partir do 11 de Setembro, e que se intensificaram agora, não só na Europa, e até mesmo na Bélgica, mas em diversas partes do mundo. Fizemos um longa-metragem que pretende refletir sobre a sedução do fanatismo religioso”, aponta.

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Os filmes dos Dardenne costumam centrar-se em classes ou personagens desprivilegiados, e com seus infortúnios acabam os induzindo a ações moralmente questionáveis. Quando “ Le Jeune Ahmed ” começa, seu protagonista, Ahmed (Idir Ben Addi), de 13 anos, já está no meio do caminho da conversão na jihad, a “guerra santa”.

O garoto passa os dias estudando o alcorão com o irmão Youssouf (Othamane Moumen), tripudia os estudos tradicionais e condena o comportamento “impuro” da irmã, que se veste com roupas reveladoras, e da própria mãe (Claire Bodson), que consome bebidas alcóolicas.

“Não era importante fornecemos informações sobre a criação de Ahmed ou os antecedentes sociais ou econômicos de sua família, porque elas não são a razão de seu fanatismo. A grande questão do filme é: por que ele decidiu por esse caminho?”,  observou Luc.

“Em um de seus livros, (o escritor alemão) Gunter Grass (autor de  O tambor”, que virou filme premiado em 1979) chegou a escrever que é muito difícil resistir a ideias totalitárias quando se é muito jovem, e já havia sentido simpatia por elas na juventude. Isso explica um pouco como as ideologias funcionam”, disse.

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O 72º Festival de Cannes vai até o dia 25 de maio, com filmes de diretores como Quentin Tarantino e Pedro Almodóvar na disputa pela Palma de Ouro. "Bacurau", o representante brasileiro, foi exibido na quarta-feira passada (15) numa sessão de gala para convidados.