Após ser assombrada por distopias, a competição do 72º Festival de Cannes saiu do modo cinema fantástico para encarar o drama sem de “Sorry we missed you”, de Ken Loach.
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Exibido na última quinta (16) no Festival de Cannes , o filme é um exemplar genuíno de realismo social do cineasta britânico, que é conhecido por seu histórico de tramas que tentam dar conta de questões urgentes de seu tempo.
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Desta vez, o autor de “Meu nome é Joe” (1996), que disputa sua terceira Palma de Ouro, foi atrás dos estragos da chamada “gig economy”, ou seja, a do trabalho temporário sem vínculos empregatícios, na harmonia e na saúde da família britânica.
Escrito por Paul Laverty, antigo colaborador de Loach, “ Sorry We Missed You
” descreve as consequências da entrada de Ricky (Kris Hitchen), um trabalhador de Newcastle que perdeu casa e emprego após a crise econômica de 2008, numa empresa de entrega de encomendas que não assina contrato com seus “sócios”.
Pela nova ordem do empreendorismo liberal, Ricky tem que comprar a própria van, trabalhar 12 horas por dia, seis dias por semana, em troca de um cachê e um pacote de metas quase impossíveis de serem alcançadas pelos funcionários. Logo a pesada carga horária e o estressante do ritmo de trabalho na companhia começa a pesar sobre a família.
"O conceito de trabalho assalariado tem mudado muito desde a minha juventude", lembrou o veterano realizador de 82 anos, durante encontro com a imprensa no final da manhã desta sexta-feira (17). "Naquela época, nos diziam que se você tivesse uma habilidade e uma profissão teria emprego para sempre, e condição de sustentar uma família com o seu salário. Recentemente, houve mudanças sérias nas condições de trabalho, e as pessoas agora enfrentam a insegurança de empregos sem contratos formais".
O roteirista Paul Laverty construiu o roteiro do longa a partir de entrevistas com trabalhadores temporários de Newcastle, cidade ao Norte da Inglaterra onde o diretor rodou sua obra anterior ("Eu, Daniel Blake"), vencedor da Palma de Ouro em Cannes.
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O título do filme de Ken Loach que está brilhando no Festival de Cannes é uma referência à mensagem dos cartões padrozinados deixados pelos entregadores nos endereços dos clientes ausentes: “Desculpe por não tê-lo encontrado” (em tradução livre).