Nesta segunda-feira (11), o Brasil sentiu o impacto da morte de Ricardo Boechat, decorrente de uma queda de helicóptero na Rodovia Anhanguera, na Grande São Paulo. Durante a sua jornada, interrompida tragicamente, Boechat deixou uma grande marca no jornalismo.
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O jornalista, apresentador e radialista Ricardo Boechat nasceu em Buenos Aires, na Argentina, em 13 de julho de 1952. O pai era um diplomata a serviço do Ministério das Relações Exteriores na Argentina. Dos 66 anos de sua vida, dispensou 50 deles à carreira, iniciada em 1970 como repórter do extinto Diário de Notícias .
Na mesma época, também começou a sua carreira como colunista, sendo um colaborador da equipe de Ibrahim Sued. Ao longo dos anos 70 e 80 atuou nos principais veículos da imprensa brasileira, entre eles O Estado de São Paulo , Jornal do Brasil e O Dia . Foi só em 1983, quando já tinha mais de uma década de carreira, que Boechat migrou para o jornal O Globo . Em 1989, ocupou o cargo de editor da coluna "Swann", que posteriormente em uma segunda passagem pelo jornal, encerrada em 2001, foi rebatizada com seu nome.
Ao "Memória Globo", em entrevista realizada em 2000, disse que a a experiência na equipe de Ibrahim Sued foi fundamental paar sua formação como profissional. "Uma coisa decisiva para a minha formação como repórter foi a coluna do Ibrahim Sued".
"Eu pude ter uma escola na qual a doutrina era procurar informações, e por trás de mim o primeiro e maior dos pitbulls que eu já conheci, que era ele, rosnando no meu ouvido 24 horas por dia", recordou-se Boechat ao site institucional da Globo. "Dormia tendo pesadelo, acordava tendo pesadelo que a notícia estava ruim, a imagem dele rasgando o noticiário, dizendo que era ruim, era diária. Então aquilo me fez – a custa de muita esofagite, úlcera, insônia e outras mazelas – aprender o pouco que eu sei hoje de apurar notícia, de correr atrás de notícias, de apresentar essa notícia para o leitor."
Na década de 1990, teve uma coluna diária no "Bom Dia Brasil", na TV Globo
, e também trabalhou no "Jornal da Globo". Foi ainda diretor de jornalismo
da Band e teve passagem pelo SBT
.
Obstinação jornalística
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A saída da Globo , em 2001, foi envolta em polêmicas com o jornalista aparecendo em um trecho de um grampo publicado pela revista Veja, onde revelava conteúdos das matérias publicadas pelo jornal O Globo a Paulo Marinho, que trabalhava para o principal acionista do Jornal do Brasil, na época da guerra pelo controle das companhias telefônicas no Brasil.
Mais de dez anos depois, expressou seu descontentamento com o episódio. "Me ofendeu, me indignou, mas hoje não tenho mais mágoas", disse em entrevista ao site Na Telinha
. "Se eu não tivesse passado por aquilo, o que eu estaria fazendo hoje na Globo? Provavelmente eu estaria fazendo a coluna que eu sempre fiz em O Globo
e teria uma função no “Bom Dia Brasil”, talvez como colunista ou talvez dando uma bicada num programa da GloboNews", observou. "Certamente não teria a liberdade que eu tenho na Band"
Em 2006, entrou para o grupo Bandeirantes, como o diretor de jornalismo no Rio de Janeiro, e se tornou o âncora do "Jornal da Band", o principal noticiário da emissora em questão. Tinha também um programa diário na rádio BandNews FM . Ricardo Boechat também era colunista da revista IstoÉ .
Um dos jornalistas mais premiados
Ricardo Boechat ganhou uma quantidade expressiva de prêmios ao longo de sua carreira. O jornalista conquistou três vezes o Prêmio Esso (em 1989, 1992 e 2001), que é o mais importante destinado aos profissionais do jornalismo. Boechat ambém foi o mais premiado do Comunique-se, outra grande premiação destinada a profissionais da área da comunicação, com direito a 18 prêmios - a grande maioria por seu trabalho como âncora na TV e no rádio. Ele também recebeu o Troféu Imprensa em 2016.
De acordo com o Portal dos Jornalistas, as vitórias no Prêmio Esso foram as seguintes:
- Reportagem em 1989, pela Agência Estado, com Aluizio Maranhão, Suely Caldas e Luiz Guilhermino
- Informação Política, em 1992, por sua coluna em "O Globo", com Rodrigo França
- Informação Econômica, em 2001, novamente por sua coluna em "O Globo", com Chico Otávio e Bernardo de la Peña
Boechat foi apontado o jornalista mais admirado em pesquisa realizada pelo site Jornalistas & Cia que listou 100 profissionais do setor em 2014.
Vida fora do jornalismo
Em 1998, Ricardo Boechat lançou o livro "Copacabana Palace - Um Hotel e Sua História", em que recuperava a memória do famoso e prestigiado hotel carioca, emq ue ele trabalhara com 17 anos como assessor de imprensa.
Durante alguns meses, em 1987, foi Secretário Extraordinário de Comunicação Social do governo Moreira Franco, no Rio de Janeiro. Entre 1976 e 1979, havia sido assessor de imprensa de Moreira Franco na prefeitura de Niterói e coordenador da campanha dele para o governo do estado em 1982, quando o candidato foi derrotado por Leonel Brizola.
Boechat foi, ainda, professor universitário em boa parte dos anos 90.
Espontaneidade e Leveza
Conhecido principalmente por ser alguém muito profissional, sempre dedicado a vários trabalhos simultâneos, com muito respeito à própria profissão, sem medir esforços. No entanto, a personalidade espontânea e leve de Boechat também é de grande destaque, como apontam muitos de seus colegas.
Um dos momentos em que Boechat mostrou a leveza com a qual levava a sua vida foi sua participação especial no elenco de dublagem do filme "Zootopia", da Disney, por exemplo. Deu voz a um âncora de televisão que apareceu na animação, dando voz ao carismático Boi Chá.
Em 2015, a espontaneidade de Boechat foi trazida à tona novamente. Ele expôs um assunto delicado de sua vida pessoal ao público, por meio das redes sociais: um câncer de pele, que foi retirado com uma microcirurgia em sua cabeça. Na época, o radialista aproveitou para conscientizar os internautas sobre a prevenção do câncer de pele. Mesmo submetido a uma situação tão séria, Boechat manteve o ar espirituoso, e chegou a dizer: "Minha careca, como vocês podem ver, ficou zero quilômetro".
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Ricardo Boechat
morreu nesta segunda-feira (11). Ele deixa a esposa Veruska Seibel Boechat e seis filhos: Beatriz, Rafael, Paula, Patrícia, do casamento com Claudia Costa de Andrade, e Valentina e Catarina, da relação com Veruska.