"Excelentíssimos" faz retrato duro da atividade parlamentar durante impeachment
Longa que acompanha tramitação do impeachment na Câmara dos Deputados será exibido neste sábado (10) no Cine Odeon, no Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro. Leia a crítica do iG abaixo
Faz pouco mais de dois anos que o Brasil foi mergulhado em turbulento e intrincado processo de impeachment, o segundo desde a redemocratização, que culminou na deposição de Dilma Rousseff. “Excelentíssimos” captura a gênese desse processo e sua tramitação na Câmara dos Deputados.
O documentário de Douglas Duarte é crítico tanto da postura como do comportamento dos parlamentares durante o processo, o que já se afigura no título. “Excelentíssimos” , além de reproduzir sessões e falas de alguns personagens emblemáticos do processo, tem acesso a movimentações de bastidores e a personagens exemplares, como Carlos Marun (MDB) e Silvio Costa, então no PT do B, para dar conta de seu ponto de vista.
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A construção organizada por Duarte, com os préstimos da produtora Julia Murat, é solidária ao PT e às figuras de Dilma e Lula, o que não quer dizer que ignore as maquinações políticas ou contorça os fatos. O filme tem um ponto de vista e uma tese muito claras e se articula para dimensiona-las a contento, mas jamais cessa de empreender um esforço de compreensão conjuntural e sintomático.
Há o narrador. Uma espécie de Capitão Nascimento desencantado com o sistema. Ele começa com consciência de que aquela história não vai acabar bem e seu tom solene e grave dá pistas de que a arquitetura de uma grande arapuca política estava, e talvez ainda esteja, em curso.
Visão histórica
O filme defende o ponto de vista de que o PSDB e a candidatura derrotada em 2014 nas urnas não aceitou o resultado, tese reforçada pela recente autocrítica perpetrada pelo senador e ex-presidente tucano Tasso Jereissati, e patrocinou um movimento de longa cauda e permeabilidade para depor um governo consagrado pelas urnas.
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Na leitura do longa, esse movimento teve o apoio crucial do PMDB, hoje MDB, que já detinha uma ala oposicionista capitaneada pelo então presidente da Câmara Eduardo Cunha, e circunstancial do judiciário. Além de não ser incomum, a tese defendida pelo filme tem bons argumentos e Duarte é bem sucedido em demonstrar como o crime de responsabilidade fiscal, que estava no cerne do pedido de impeachment, não era afluente do processo de maneira alguma.
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Com os excelentíssimos
Silvio Costa, um dos principais soldados do governo na infantaria da Câmara, é uma voz a qual o documentário recorre com frequência, assim como a Carlos Marun, preposto de Eduardo Cunha e Michel Temer. O jogo de luzes sobre esses dois macacos velhos da política, que se revelam quando falam, mas também sonegam algo à câmera, é um dos trunfos mais viscerais do longa de Duarte.
Outro elemento dramaticamente poderoso é a presença que Bolsonaro ocupa da metade para o final do filme. Quando estava filmando o longa, na primeira metade de 2015, Duarte, assim como qualquer outro brasileiro, não imaginava que Bolsonaro seria eleito presidente do Brasil dali a dois anos. Além de capturar o momento do lançamento de sua pré-candidatura ao cargo, Duarte revela a ascendência do bolsonarismo em meio aquele momento turvo, complexo e degradante da política brasileira.
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“Excelentíssimos” não é um filme neutro, mas não é desonesto intelectual ou formalmente e isso, em um Brasil tão polarizado política e ideologicamente, talvez não seja devidamente apreciado. Haverá quem diga que é um filme petista e quem diga que é ameno nos apontamentos das violações institucionais. São simplificações bem ao gosto de nosso tempo. Tempo este que o documentário tenta retratar com vigor jornalístico, expertise cinematográfica e alguma cota de indignação.