Assédio sexual, “Joanne” e mais: o caminho para Lady Gaga acontecer no cinema
Desde que começou a promover “Nasce Uma Estrela”, Gaga tem mostrado um novo lado seu, sem medo de se reinventar e sem fugir de polêmicas
Quando Lady Gaga surgiu em Veneza em agosto para promover “ Nasce Uma Estrela ” ela estava, de fato, incorporando uma estrela hollywoodiana. Os cabelos loiríssimos e altos e os vestidos simples e bem marcados a deixaram com uma mistura de Marilyn Monroe e Grace Kelly.
Foi a partir de então que ela começou a divulgar o filme e iniciou uma nova fase de sua carreira: a de atriz cinematográfica. Essa não é a primeira vez de Lady Gaga atuando, mas é a primeira vez num papel principal que já foi de nomes como Barbra Streisand e Judy Garland.
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No papel de Ally, ela se desfaz da imagem dos saltos altíssimos e vestidos de carne que construiu ao longo da carreira, e mostra uma versão mais intimista e discreta de fazer música. A mudança no visual, claro, é essencial para marcar esse momento. “Desde o início da minha carreira eu gostava de me transformar. Bradley Cooper me quis ao natural, sem maquiagem", ela comentou em Veneza.
Gaga contou que Bradley Cooper pediu que ela tirasse toda a maquiagem em seu primeiro encontro, quando ela fez teste para o papel. A atriz ainda confessou que, mesmo sendo a primeira escolha do diretor, se sentiu insegura no começo das gravações. Durante uma cena, Gaga não conseguia progredir com o texto e foi questionada por Cooper: “ele me perguntou se eu estava bem e eu comecei a chorar”, confessou em entrevista ao LA Times .
A maquiagem, claro, é uma representação da imagem de Gaga. Significa se despir de certas barreiras e revelar um novo lado seu. Ela já tinha começado a fazer algo do tipo em seu último disco, “Joanne”, diferente dos antecessores e que dividiu a opinião dos fãs. Em uma entrevista para a rádio americana Beats 1 , ela confessou que sem “Joanne” não teria conseguido viver Ally.
Para Gaga, foi uma questão de amadurecimento: “Acho que as coisas vão acontecendo na sequência e artistas vivem as coisas em uma espécie de cadência, de modo que podemos fazer tudo de um jeito que acreditamos”.
Lady Gaga sem filtro
Do final de agosto até outubro, ela foi retomando sua imagem nada convencional e se transformando na Gaga que estamos acostumados, ao mesmo tempo em que se abriu sobre assuntos bem pessoais. Ainda em entrevista ao LA Times ela falou sobre o fácil acesso às drogas no começo da carreira, e o sentimento de solidão.
“Era um buffet de opções. É muito solitário ser uma performer. Tem uma certa solidão que eu sinto – já que sou a única que faço o que eu faço. Parece que ninguém me entende. E a necessidade de usar drogas é justamente para aliviar a dor. Quando eu comecei a me apresentar pelo país em casas noturnas, tinha drogas por toda a parte”, confessou.
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Gaga já havia falado outras vezes sobre o uso de drogas no passado, mas agora ela o faz de maneira mais pessoal, quase como justificando o comportamento de artistas como Jack, personagem de Cooper no filme.
A cantora e atriz também voltou a falar sobre o estupro que sofreu aos 19 anos. Na época, ela foi violentada por um produtor durante uma sessão em um estúdio. Gaga passou anos sem falar sobre o ocorrido para ninguém, mas confessa que se libertou disso agora.
“É como se eu estivesse tentando apagar essa história do meu cérebro até que ela se tornasse um monstro grande e feio. E é preciso lidar com esse monstro”, confessou. “É miserável. Eu sempre digo que todo cérebro tem um trauma e ele está ativo em tudo o que você faz”, ressaltou.
E foi justamente por conta de sua experiência que ela não fugiu quando o assunto ficou político em sua entrevista para Stephen Colbert no “The Late Show” na última semana. Ela foi perguntada sobre o impasse vivido nos EUA por conta da aprovação do juiz Brett Cavanaugh para a Suprema Corte americana depois que a psicóloga Christine Blasey Ford declarou ter sido abusada sexualmente por ele.
Colbert perguntou se ela falaria sobre política e Gaga prontamente respondeu que ele podia “mandar ver”. “É uma das coisas mais tristes que eu já acompanhei. (...) É de partir o coração”. Ela defendeu que a Dra. Ford merece ser ouvida e ainda criticou Trump por colocar em dúvida a história da psicóloga.
Gaga atriz
O primeiro crédito de Gaga como atriz é de “garota na piscina nº 2” em um episódio de “Os Sopranos” em 2001. Desde então ela já fez uma pequena participação em um reality show, apareceu no especial de natal dos Muppets e fez pontas como ela mesma em “Gossip Girl” e “The Hills”.
Com seus looks exuberantes e excêntricos ela também participou dos longas “Manchete Mata” e “Sin City: a Dama Fatal”. Mas foi só em “American Horror Story” que ela teve seu primeiro papel grande, embora ainda flertasse com o bizarro como uma condessa vampira. O papel a colocou no mapa das atrizes e lhe rendeu um Globo de Ouro de Melhor Atriz em 2016.
Antes disso, sua carreira musical já possibilitou momentos de atuação. Para apresentar You and I no VMA, ela chegou travestida de homem e se manteve no personagem até para divulgar os vencedores.
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Lady Gaga já foi muitas coisas. Agora, ela volta as raízes como Ally e se torna a cantora que costumava ser no começo da carreira, pulando de bar em bar enquanto tenta fazer sucesso. Na vida real, já sabemos como essa história termina.