Playboy Brasil se despede em meio a acusações de fraude, assédio e estelionato

Ex-diretor da marca no Brasil supostamente utilizava redes sociais da revista para divulgar novo projeto sem licença e editora se prepara para saraivada de processos judiciais pela frente. Entenda toda a polêmica

Após 40 anos nas mãos da Abril, a PBB Editora adquiriu os direitos da marca Playboy Brasil em 2016. A dificuldade de manter a publicação relevante no agonizante mercado de revistas brasileiro levou à editora a anunicar o fim da revista física e uma nova era totalmente digital no fim de 2017.

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André Sanseverino e Marcos Abreu: sócios da Playboy Brasil em sua era na PBB Editora

No entanto, hoje, a Playboy Brasil não existe mais. A informação foi confirmada pela reportagem junto à PBB Editora. Além disso, as redes sociais estão fora do ar e o site oficial foi derrubado. Para infelicidade de muitos, uma das mais tradicionais revistas masculinas, se despediu em meio a polêmicas e acusações a Marcos Abreu, ex-diretor da empresa detentora da marca.

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O produtor de ensaios e desenvolvedor, Rafael Castro afirmou em entrevista ter sido contratado por Marcos Abreu para reformular o site da Playboy . Segundo ele, o serviço foi realizado em um período de oito meses e suas suspeitas de fraude começaram quando uma nova plataforma foi criada e hospedada no domínio da marca criada por Hugh Hefner.

De acordo com Castro, Abreu apresentava a nova plataforma, batizada de Men Play como um projeto de extensão da Playboy . No entanto, ao consultar o CNPJ da suposta extensão, o produtor percebeu que a marca estava no nome do ex-diretor e não de uma pessoa jurídica: “Foi aí que comecei a desconfiar forte”, disse.

Preocupado, Rafael entrou em contato com a matriz americana, que informou que Marcos Abreu já não detinha os direitos sobre a marca Playboy desde o fim de 2017: “Ele criou a Men Play  por que ele sabia que o site oficial ia sair do ar”.

Em seguida, fotógrafos do Brasil inteiro foram convocados por um grupo de WhatsApp para supostamente tornarem-se “fotógrafos da Playboy ” e aderirem a um esquema de pirâmide, onde eles venderiam ensaios para mulheres anônimas e ficariam com 50% dos lucros.

Playboy Vs Lava Jato

Foto: Divulgação
Playboy

O fotógrafo Fabrício Garcia informou à reportagem sobre como as coisas funcionavam neste grupo: “Duas semanas após o Dia dos Namorados, eles (Cida e Marcos) lançaram no grupo essa marca, a Men Play ”, disse referindo-se aos, até então, diretores da marca de Hugh Hefner no Brasil.

“Segundo eles nós seríamos fotógrafos oficiais da Playboy e nós teríamos que vender esses ensaios que custavam R$ 5 mil, então metade ia para a revista e metade para o profissional. Isso tudo com a promessa de emitir a revista por demanda”.

De acordo com Fabrício, as suspeitas ficaram mais fortes para ele quando o site da Men Play apareceu no Instagram oficial da Playboy Brasil : “As mulheres entravam no link, procuravam o fotógrafo mais próximo de sua região e faziam os ensaios”, comentou.

“Porém, não era uma revista de verdade. Ele (Marcos) fazia a capa e escrevia Playboy , além disso, era uma tiragem única. Se fossem 20 fotos de ensaio, eram 20 páginas de revista. Não tinha conteúdo, não tinha nada”, disse Fabrício Garcia.

Depois dessa guinada, o fotógrafo e professor afirmou que os integrantes do grupo do WhatsApp começaram a conflitar: “Os fotógrafos do grupo achavam que isso não ia vender. Então a Cida (diretora da marca) sugeriu pegar as matérias antigas da revista para usar nas tiragens, porém, foi ficando claro que eles queriam, na verdade, montar uma Playboy fake para vender para  as pessoas”.

O especialista em ensaios sensuais ainda ressaltou como ocorria o recrutamento para ser um “fotógrafo oficial da Playboy ”: “Eles começaram a vender a ideia para as pessoas no Instagram: ‘quer ser fotógrafo? entre em contato’. Não havia critério nenhum para entrar, afinal, quanto mais profissionais, mais vendedores de ensaios”.

Fabrício, por fim, comentou sobre uma suposta taxa para manter-se no grupo: “o Abreu cobrava R$ 180 por mês para a pessoa continuar sendo fotógrafa oficial. Eles estavam praticamente prostituindo a marca”.

Até segunda-feira (23), o site oficial da Men Play   encontrava-se "em manutenção". No banner exibido, uma mulher posa de lingerie e uma frase em branco ganha destaque: “ Men Play é a nova forma de apreciar os melhores ensaios do Brasil e do mundo”.

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Foto: Divulgação
Site da Men Play se mantém fora do ar

Os ex-diretor e a atual diretora da Playboy no Brasil, Marcos e Cida, foram consultados pela reportagem do iG Gente . No entanto, até esta segunda-feira (23) não houve qualquer retorno ou resposta sobre o assunto.

Coelhos Atrás das Grades?

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Diogo Teixeira, advogado e especialista em Segurança da Informação, fala sobre a suposta fraude na Playboy

À par dos fatos, o Advogado especialista em  propriedade intelectual, Diogo Dias Teixeira, falou sobre a suposta fraude da Playboy : “Se ele (Marcos Abreu) pegou a marca de alguém e começou a usar para assinalar seus produtos, todo o uso que ele fizer em conexão com esse projeto vai ser considerado um crime contra a propriedade industrial, contra a marca”.

Partindo da premissa que Marcos Abreu, supostamente, não tem direito à marca no Brasil, o especialista afirma que o projeto Men Play viola os direitos da Playboy Americana.

Acusado por modelos, fotógrafos e produtores, especulações apontam que o contrato com a magazine de Hugh Hefner apenas foi rescindido devido a uma polêmica de assédio sexual envolvendo Marcos de Abreu e o ex-publisher da Playboy , André Sanseverino.

Segundo uma reportagem produzida pelo "Fantástico", André e Marcos teriam prometido oportunidades de trabalho durante um evento em Florianópolis, em agosto de 2016. Ambos teriam jurado fama e sucesso a mulheres, em troca de fotos nuas e sexo.

Em sua defesa, o ex-publisher da marca no Brasil e agora diretor de negócios da Playboy Portugal, comentou: “Nunca fui intimado. Foi um assunto que saiu na mídia e morreu na mídia”.

Questionado se a polêmica de assédio teve motivos diretos com a extinção da Playboy no Brasil, André Sanseverino foi sucinto: “De forma alguma, me afastei da empresa em abril de 2017, a Playboy acabou em dezembro. Depois disso não acompanhei a administração e os rumos que tomaram. O que posso dizer é que as pessoas me analisem”, completou.

Coelhinho Exilado?

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André Sanseverino ocupa cardo de Diretor de Negócios na Playboy Portuguesa atualmente

Se foi esse o motivo do fim do contrato da marca com o Brasil, ainda não se sabe. Porém, recentemente, André Sanseverino foi confirmado como diretor de negócios da Playboy Portugal. A informação foi confirmada à reportagem, além disso, o próprio executivo chegou a atualizar sua conta nas redes sociais com as informações de seu novo ofício.

“A minha função será continuar recrutando modelos para a Playboy e ajudar na comercialização de anúncios”, comentou. Em contrapartida, acusadores de fraude e assédio, irritados, vêm causando fervor nas redes sociais.

Coelhinhas Sensuais, Porém Bravas

Foto: Reprodução Instagram
A ex-atriz do 'Zorra Total' e modelo, Clariane Caxito, fala sobre a suposta fraude na Playboy

A ex-atriz do “Zorra Total”, Clariane Caxito foi uma das mulheres que acabaram, de certa forma, lesadas pela Men Play . Segundo a modelo, seu ensaio foi todo organizado por seu seu representante: “Como a Cida disse para o Bruno (assessor) que a Playboy não havia acabado e que agora ia ser uma era digital, eu saí pelas mídias dizendo que ia sair na Playboy ”.

“Porém eu achei estranho quando eu vi que só o Instagram era Playboy , o resto era tudo da Men Play ”, comenta a modelo. Após descobrir da suposta fraude, Clariane destacou: “Eu fiquei chateada, eu sempre fui fã de nu artístico e a revista é renomada, famosa no mundo todo. Me senti passada para trás, ou seja, saí nua de graça, para um site fajuto”.

Foto: Divulgação / Arquivo Pessoal
A modelo da GataPOP, Natália Nascimento, fala sobre a suposta fraude na Playboy

Contratada da GataPOP, produtora de Rafael Castro, a modelo Natália Nascimento não chegou a ter suas fotos divulgadas como Clariane, mas comenta que o gasto de produção com viagem, maquiagem e fotos pode ter sido um prejuízo: “Os produtores perderam muito dinheiro fazendo os ensaios. Além disso, toda mulher tem um sonho de sair na Playboy e eles usaram esse sonho para ganhar dinheiro”.

Questionadas se entraram na Justiça para recorrer aos seus direitos, as modelos foram sucintas: “Eu não sei se vou processar, não me sinto lesada, só estou falando com meu advogado sobre um quebra de contrato, afinal, pelo contrato que assinei eles têm direito de divulgar minhas fotos em qualquer site e lugar do mundo”, disse a ex-atriz do “Zorra Total”.

Enquanto isso, Natália, com uma linha de pensamento diferente, exclamou: “estávamos esperando o site sair do ar para tomar atitudes. Creio que cada um siga seu rumo, mas eu vou lutar até o final. Eu quero justiça”.

Já Rafael Castro, o produtor de ensaios, proprietário da GataPop e desenvolvedor de sites está montando uma estratégia, juntamente com sua advogada, para não deixar o ocorrido terminar em águas calmas: “Isso é estelionato, não posso falar muito, mas estou tomando minhas atitudes”.

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Por fim, o especialista Diogo Dias explicou que caso seja comprovado, o crime contra propriedade industrial pode acarretar em prisão de 3 meses a 1 ano, ou multa. Como adendo, ele ainda ressaltou que os lesados com a suposta fraude, se possuírem provas lícitas, podem entrar com uma ação por danos contra o Marcos de Abreu, ex-detentor da marca Playboy Brasil .