Batizado de Pink Money, movimento de artistas que se escoram nos LGBT cresce

Prática se resume em utilizar de elementos da comunidade LGBT para lucrar; clipes de Lucas Lucco, Nego do Borel e Jojo Todynho estão entre mais falados

Nesta quinta-feira (12), a funkeira Jojo Todynho lançou seu mais novo single. Intitulado Arrasou Viado , o clipe conta com ilustres participações de várias personalidades da comunidade LGBT, como Lea T, Thammy Miranda, Rita Cadilac, David Brazil e muito mais.

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Foto: Reprodução Instagram
Artistas heteros causam ao se apoiar na causa LGBT para evitar fracasso no mercado musical

Com uma letra fraca e batida esquecível, a nova música de Jojo Todynho foi composta por Anitta e seu produtor, Dj Batata. No entanto, o que mais chama atenção não é em si a produção visual e musical, mas sim a onda frequente de artistas que vem apelando à comunidade LGBT para alavancarem suas carreiras.

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Antes de Jojo, cantores heteros como Claudia Leitte, Valesca Popozuda, Lucas Lucco, Nego do Borel , entre outros, tentaram emplacar hits utilizando personalidades LGBT, gírias e bordões famosos da minoria.

A comunidade LGBT não está feliz

Sempre dividindo opiniões na internet, o novo movimento de artistas se escorando na camada LGBT não tem 100% de aprovação. Segundo o jornalista, youtuber e ator, Emílio Faustino, a música de Jojo Todynho não terá tanto sucesso quanto as anteriores.

Foto: Reprodução Instagram
Em sua conta do Instagram, o jornalista, youtuber e poeta Emílio Faustino falou sobre a crescente no movimento de artistas que vem se escorando nos LGBT

“Primeiro: a introdução usada na música remete a um tema de circo, o que sugere uma piada com a comunidade, como se fossemos uma espécie de palhaços”, disse.

“Segundo: a letra reforça o estereótipo caricato idealizado pelo olhar heterossexual da bicha feminina, que embora exista e seja legítima não representa a comunidade gay como um todo”.

“Terceiro: ao invés de construir uma letra empoderadora, no sentido de dar destaque para os gays já que o título sugere isso, o refrão da música se resume a uma autopromoção: ‘Quando a Jojo passa, não tem quem não olhe’”.

Em seguida, o influencer fez uma analogia com o lançamento de Nego do Borel: “Quarto: Assim como Nego do Borel que apoia o homofóbico declarado Jair Bolsonaro, Jojo também já deu suas derrapadas ao chamar um fã gay de ‘baitola’ e ‘babaca’. Por esses e por outros motivos, fica difícil saber até que ponto esses artistas estão realmente comprometidos com a causa LGBT, ou se estão apenas mamando nas tetas do Pink Money”, completou se referindo a uma prática que visa usar a comunidade e o movimento LGBT para ganhar dinheiro.

Foto: Reprodução Facebook
Meme divulgado na internet ressaltando artistas que se escoram na comunidade LGBT para evitar fracassos musicais, televisivos, entre outros

Emílio Faustino ainda declara: “O que é certo afirmar, é que depois do furacão Pabllo Vittar, artistas e gravadores abriram os olhos para um público muito pouco explorado que tem um potencial de consumo enorme”.  Confira o clipe:

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O Pink Money é real

Na mesma linha de pensamento, o youtuber Gabriel Parise se posicionou de maneira bem mais expressiva, mas abordando o clipe do cantor Nego do Borel: “Começando que o Nego do Borel é um cara hetero, se fantasiar de bicha já é desrespeitoso. Pensa em um branco pintando a cara de preto para imitar uma pessoa negra. Não é nada certo. É blackface”, comentou.

Foto: Reprodução Instagram
O youtuber Gabriel Parise se posicionou sobre o clipe de Nego do Borel e o efeito na comunidade LGBT em seu canal

“Afinal, eles não querem largar seus privilégios para serem tratados como bichas todos os dias. Agora, militar 30 min para gravar um clipe e ganhar dinheiro é o close, né?”, completou.

Em seguida, o comunicador ressaltou o mesmo que Emílio falou sobre o clipe de Jojo Todynho: “O clipe do Nego do Borel é um reforço de estereótipo. Bichas também usam terno, bichas também usam calça jeans e polo. Ele não tá dando visibilidade aos LGBT. Quem é ele para falar, se ele não passa por nada que a comunidade passa?”, disse.

Em seguida, Gabriel fala sobre um polêmico assunto: “Afinal, por que ele fez um clipe? Pink Money! É uma expressão que utilizamos para falar das pessoas que se escoram nos LGBTs para venderem mais e serem mais legais. Porém, no fundo, elas estão pouco se lixando para nós. Os gays tem muito poder de consumo e isso é muito importante para o comércio e para o branding das marcas” explicou.

Parise ainda opinou sobre o clipe de Me Solta : “Esse clipe do Nego do Borel é um desserviço a comunidade LGBT. Ele não representa a gente, ele não apoia a gente. Ele só faz piada da nossa vivência daquilo que vivemos na vida real”.

Por fim, ele explica que não há problema em héteros apoiarem a causa dos gays: “Isso não significa que héteros não podem apoiar a causa gay, mas famoso espere você ter seu lugar de fala. Por que pior do que não falar nada, é tirar o lugar de fala de outras pessoas. Por fim, agradeça por não precisar passar por coisas que eu e os LGBTs passamos”.

Pink Money Merecido?

Foto: Divulgação
Mc Cariokinha reclama em entrevista sobre os artistas que se aproveitam da comunidade LGBT para lucrar

A nova sensação do funk, MC Cariokinha está prestes a lançar o clipe da música "Taca dinamite no Barraco". Dirigido por Daniel Lima, o vídeo, que foi gravado em Copacabana e nas comunidades da Rocinha, Vidigal e Complexo do Alemão, conta com as participações de vários artistas da comunidade LGBT.

Em bate-papo, a funkeira explicou porque resolveu investir na diversidade sexual na produção: “Nos últimos anos é visível o engajamento das marcas  e artistas para atrair a atenção e a simpatia do público gay. Mas eu frequento o mundo LGBT muito antes de isso acontecer. Não preciso me apropriar da causa atrás de Pink Money como muitos por aí", comentou.

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Depois de Jojo Todynho, o próximo videoclipe LGBT é de MC Cariokinha, que mostrará ainda a mistura de diversas tribos. Sambistas, capoeiristas e o hip-hopers estão confirmados na produção para evidenciar que não existe preconceito no funk carioca.