O fotógrafo Juliano Coelho recebeu uma série de denúncias de assédio que foram reunidas em um perfil no Instagram . De acordo com as vítimas, que preferem não se identificar, ele utilizava métodos similares para se dirigir as modelos, e por fim tentava abusar delas.
O perfil foi criado no dia 22 de junho e mostrava mensagens trocadas entre o fotógrafo e mulheres que participaram de sessões com ele, seja como alunas ou como modelos. Especializado em fotografar nu, ele foi acusado de assédio , agindo de maneira imprópria, abraçando e tocando as fotografadas enquanto estavam nuas.
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Denúncias
As denúncias começaram a surgir depois que a também fotógrafa Camila França fez um desabafo no Instagram sobre assédio de fotógrafos. Sem citar nomes, ela comentou sobre fotógrafos abusadores, que tiram vantagem de sua posição para assediar modelos.
A partir daí, muitas pessoas começaram a dividir com Camila relatos de assédios, a maioria sofridos pelo mesmo nome. A fotógrafa continuou sem citar o nome de Juliano, mas ele acabou se pronunciando sobre o assunto depois que a página “Juliano Coelho Denúncia”, que reúne relatos anônimos envolvendo o fotógrafo, começou a viralizar.
No perfil, as mulheres compartilham prints de conversas com ele, onde explicam como se sentiram depois de seus abusos e ele mostra solidariedade, se desculpando e explicando sua atitude. Em uma das conversas, quando perguntado do por quê de ter abraçado sua fotografada enquanto ela estava nua, ele diz que foi pela “situação de conexão”.
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Pai de família
Casado e pai de duas filhas, Juliano muitas vezes adotou o argumento da família para se defender quando confrontado por uma fotografada. A fotógrafa Luciana Costa, que já foi aluna de Juliano e também fotografada por ele, conta que seu comportamento parece o de um pastor: “um homem que só falava de Deus e de família, tinha um jeito de se mostrar sensível a nós mulheres, não tinha como não ceder e posar para ele”, conta.
Fotógrafa também de nudez, Luciana conta que busca elevar a autoestima de suas fotografadas e mostrar que toda mulher tem sua beleza. Mas, por trás desse conceito, ela conta que Juliano é só um exemplo de muitos homens que usam essa “técnica” para se aproveitar das modelos. “O Juliano Coelho foi só a bola da vez, mas como ele esta cheio”, completa.
Você viu?
O fotógrafo Roberto* participou de um workshop ministrado por Coelho. Chamado de “Natal Solitário”, o trabalho incluía palestras de Juliano e aulas práticas. Ele conta que o clima do evento foi “muito familiar” e que o fotógrafo tomava cuidado até com seu linguajar quando tinha que falar com as modelos sobre poses mais delicadas. “Ele até alertou os alunos: ‘não use termo vulgar, como bunda, peitão e gostosa durante o ensaio, você está para retratar a beleza e não fazer sexo com a guria’. Lembro claramente dessa cena”, declarou.
Ele conta que ficou chocado quando ouviu as histórias de assédio. No workshop, ele chegou a conversar com uma modelo que comentou que tinha passado por situações complicadas, mas com Juliano se sentiu compreendida. “Ele soube cuidar da minha fragilidade”, havia falado a moça para Roberto.
Ele conta também que a participação no workshop foi muito inspiradora. “Era impossível desconfiar de alguém com tal case”, comenta sobre o sucesso de Juliano.
Reposta de Juliano Coelho
Depois que o caso veio a tona, Juliano deletou suas redes, não antes de se pronunciar sobre o assunto. No Instagram, ele disse que leu os muitos relatos sobre ele, e confessou ter sido imprudente no passado, deixando desconfortáveis pessoas pelas “merdas e atropelos” que fez.
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“Em nome de buscar uma intimidade maior em meus retratos acabei ultrapassando muitas vezes uma barreira permissiva que nunca havia sido me dada”, confessou. Juliano chegou a fechar seu site e anunciou que não trabalhará mais com fotografia.
Em um comunicado oficial, o fotógrafo acusado de assédio disse que a fotografia faz parte de seu passado e não se pronunciou mais sobre o assunto. Porém, o site voltou a funcionar normalmente, exibindo seu portfólio e um texto introdutório do fotógrafo, onde ele se descreve como “um homem sensível, por vezes engraçado e que adora conhecer novas histórias”.
*O nome foi mudado a pedido do entrevistado