Filmes sobre demônios e maternidade há pelos borbotões no cinema, especialmente no cinema americano. Todos eles, de alguma maneira, devem a "O Bebê de Rosemary" (1968), obra-prima de Roman Polanski, hoje confortável no status cult que adquiriu ao longo do tempo, que completa 50 anos
em 2018.
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Lançado em 12 de junho de 1968, "O Bebê de Rosemary" foi o primeiro filme totalmente americano do cineasta franco-polonês. Baseado em um livro de Ira Levin, o longa mostrou como era possível criar um clima opressivo de medo e insegurança a partir do cotidiano. De quebra, colocou filmes sobre demônios na moda em Hollywood. Em 1973 seria lançado o também icônico "O Exorcista" de William Friedkin.
A trama
Um jovem casal se muda para um apartamento em Nova York e decide ter um filho. Tudo fica soturno quando Rosemary (o primeiro papel principal de Mia Farrow), depois de um pesadelo satânico, engravida e começa a suspeitar que uma terrível ameaça paira sobre ela e o bebê que espera. O marido, vivido pelo também cineasta John Cassavetes, é um tipo que faz tudo para vingar como ator.
A ambiguidade e a cada vez mais sufocante atomesfera de medo são os grandes trunfos da obra. Polanski disse certa vez que queria se certificar que a incerteza acompanhasse o espectador durante todo o tempo do filme. “Não há nada de sobrenatural, exceto o pesadelo. A ideia do diabo poderia ser considerada paranoia de Rosemary durante a gravidez ou uma depressão pós-parto", disse Polanski no canal do YouTube, Inside The Criterion Collection.
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De fato, 50 anos depois, ainda impressiona a maneira como o diretor, que também assina o roteiro, articula todo o drama de Rosemary. Impressiona ainda mais o impacto que o filme ainda é capaz de provocar em uma era de terror videoclipado e apoiado majoritariamente em recursos de sonoplastia.
Bastidores conturbados
Mia Farrow, que despertava dúvidas no diretor quanto a sua capacidade de segurar o papel principal, comeu um fígado cru, mesmo sendo vegetariana. A dedicação ao papel também lhe rendeu o divórcio. Frank Sinatra era contrário a ela atuar em um filme sobre satanismo e pediu a separação durante as filmagens.
A relação de Polanski com Cassavetes, cineasta e ator adepto da improvisação, foi cheia de percalços já que Polanski insistia em planejar e rodar a exaustão suas cenas.
Como outros filmes sobre o satanismo, "O Bebê de Rosemary" não escapou às lendas sobre locais, começando pelo lugar onde as cenas de exterior foram filmadas, o edifício Dakota, na porta do qual foi assassinado John Lennon e onde no início do século XX viveu o mago Aleister Crowley que segundo se conta, praticou lá seus rituais.
Era uma época em que as seitas ocultistas proliferavam nos Estados Unidos. Membros de algumas delas concentravam-se nos portões do Dakota para se inteirar sobre o tema do filme e ameaçaram Polanski para que não continuasse com a filmagem. Há até quem relacione o assassinato de Sharon Tate, esposa de Polanski, pelas mãos da seita da família de Charles Manson no ano seguinte ao filme.
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Uma idocrasia que ajuda a manter viva a relevância cultural de um filme urdido de maneira ímpar e com um final que até hoje provoca arrepios. "O Bebê de Rosemary" é cinema em seu mais elevado grau de refinamento.