Completando seis décadas de aniversário, o Prêmio Jabuti retoma em 2018 com um novo modelo que pretende aproximar ainda mais a literatura dos leitores. Considerada a maior premiação literária do País, em 2018 duas grandes novidades são o aumento no valor do livro do ano e a implementação de uma nova categoria, que é dedicada às ações de incentivo à leitura.
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“Tem muitas mudanças no Prêmio Jabuti desse ano, nós resolvemos fazer uma atualização”, comenta Luiz Armando Bagolin, docente da Universidade de São Paulo e curador da premiação. Segundo Bagolin, o novo prêmio não é dado a um produto, livro ou autor, mas sim a uma iniciativa brasileira.
“O intuito é reconhecer uma ação, uma estratégia, que tem por incentivo a novos leitores, como biblioteca comunitária, um aplicativo, um sarau de leitura na periferia... Queremos com essa nova categoria estimular ações dessa natureza”, explica.
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A reformulação do prêmio já traz consigo o intuito de transformar o prêmio em um instrumento de incentivo a leitura. “Sem o leitor, não existe editor, livraria... tudo desaparece”, comenta o curador. “O prêmio estava muito vinculado ao mercado editorial, do mercado para o mercado, e a gente quer que ele seja dado ao leitor brasileiro”, explica Bagolin.
Outra medida que amplia ainda mais o leque do prêmio neste ano é o abraço às histórias em quadrinho. “Não é só literatura, é imagem e texto. Fazer com que HQ seja reconhecida dentro do prêmio como uma categoria de literatura abre o espaço para muito leitor jovem, porque é muitas vezes uma porta de entrada para a leitura”, comenta o curador.
Com quatro eixos – Literatura, Ensaios, Inovação e Livro – as categorias foram reajustadas para que o prêmio seja ainda mais abrangente. Assim, foi criado o eixo “Ensaios”, em substituição do antigo “Gêneros”.
“O ensaio é uma modalidade literária escrita que existe desde o século XVI, só que ele tem dois aspectos muito interessantes. Por um lado permite que qualquer assunto possa ser escrito no formato de ensaio. Por outro, ele pode ser lido por um público não especialista”, comenta o curador.
“Um assunto muito especializado que na sua forma acadêmica teria meia dúzia de leitores porque só aqueles colegas que são tão especializados quanto eu saberiam me ler, no formato ensaístico esse mesmo assunto pode alcançar um público amplo de leitores“, completa Bagolin, ressaltando que os livros mais vendidos atualmente são os ensaios e que o Prêmio Jabuti será o primeiro a reconhecer a escrita em uma premiação.
O mercado independente no Prêmio Jabuti
Com o intuito de se modernizar, a premiação este ano também passa a aceitar obras no formato PDF, o que abre margem para muitas publicações independentes. Segundo Bagolin, há um grande interesse da Câmara Brasileira em recepcionar esses autores independentes no prêmio.
“Um primeiro motivo é uma razão estatística: o numero de autores independentes no mundo e no brasil têm crescido ano após ano. Eles são realidade no mercado, não podemos fingir que não existem”, comenta.
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“A segunda razão é uma opinião pessoal, pois acho que as coisas mais interessantes que podem surgir da nossa literatura virão do independente, da periferia, do meio marginal. É de quem está sem amarras com editoras”, explica. “Temos que ter uma porta de entrada porque não só o mercado está sendo renovado pelos independentes como o Jabuti precisa dessa participação”, completa.
O júri democrático e o futuro do Jabuti
As inscrições para o Jabuti deste ano começaram no último dia 15 de maio e vão até o dia 28 de junho. O corpo de jurados, por sua vez, será selacionado a partir de indicações, que podem ser realizadas tanto pelo mercado editoral quanto pelos leitores. Além disso, é possível se auto candidatar para integrar ao júri.
Para Bagolin, as modificações que integram o Jabuti deste ano são positivas. “Toda mudança gera um pouco de dúvida e dúvida gera desconforto, mas a maioria tem acolhido muito positivamente as mudanças do prêmio”, comenta.
O curador ressalta que, aos escritores que já estão acostumados a se inscreverem ao prêmio, todas as categorias que existiam anteriormente ainda fazem parte da premiação e foram apenas realocadas. “Antes tinha uma pista para cada atleta e estamos fazendo vários atletas correrem numa só pista com toda a arquibancada. Se um prêmio não for assim, deixa de ser relevante e se torna menos interessante”, opina.
Os reflexos das mudanças do novo Jabuti ficam ao sabor do tempo, mas Bagolin prevê que o novo modelo possa incentivar outros prêmios mundo afora. “Vamos servir de referencia pra muita coisa que virá aí pela frente porque o Prêmio Jabuti não jogou fora sua diversidade. É um prêmio para o livro brasileiro, não apenas literário. Vamos fazer escola”, finaliza.