Etienne (o encantador e hipnótico Andranic Manet) chega à Paris para estudar cinema na universidade Paris 8, que empresta o nome para o longa-metragem de Jean-Paul Civeyrac, de “Minha Amiga Victoria” (2014), primeiro filme do cineasta lançado no Brasil.
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Distribuído pela Cineart Filmes, “Paris 8” se torna o segundo. É indiscutivelmente um filme apaixonado pelo cinema e todo ele um debate, ora agudo, ora romântico, sobre o cinema, sua representação, instâncias, objetivos e possibilidades.
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A própria mise-em-scène e os conflitos do protagonista remetem a um filme de arte, do tipo que os estudantes que acompanhamos adoram problematizar e/ou reverenciar.
Etienne deixa Lucie (Diane Rouxel) em Lyon para estudar em Paris. Ela teme o inexorável afastamento, que ele promete que será só físico. Mais adiante quando discute a moral da fidelidade com sua colega de quarto, que não esconde o interesse por ele, Etienne é posto à prova. O cinema, o francês especialmente, adora invadir e revirar a moral de suas personagens.
“O sonho era mais bonito”
Civeyrac, que também assina o delicado e inteligente roteiro, está interessado em promover tanto um culto à cinefilia – e o faz com esmero e imaginação – como o olhar ao desmonte de sonhos e idealismos ante à dura realidade. Nesse sentido, “Paris 8” também é um filme sobre amadurecimento, mas com uma perspectiva extremamente autoral e cativante.
São muitas as metalinguagens que dão cor e forma à produção, mas a maneira como o cinema é pensado pelos personagens em cena é indiscutivelmente a mais charmosa delas. Mathias (Corentin Fila), um tipo pretensioso que defende um cinema dogmático e sem intervenções comerciais e sabe se colocar como o centro do universo daqueles que com ele se relacionam, tem duras opiniões sobre o cinema francês, sobre Paul Verhoeven e David Fincher. É a ele quem Etienne tenta cativar, mas o rapaz não sabe ao certo ainda por que quer fazer cinema.
O narcisismo também é uma paleta explorada por Civeyrac que cutuca o temperamento de artista de seu protagonista a todo o momento, mas Etienne é sedutor de uma forma tão banal quanto peculiar. Tanto para os personagens que se deparam com ele, como para o público.
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O que torna “Paris 8” um filme especial, especialmente para quem tem uma relação mais intensa e passional com o cinema, é justamente a maneira habilidosa com que o cineasta funde poesia e afeto à melancolia e desilusão. Vida e cinema se embrenham uma no outro com felicidade condoída em um longa que merece ser apreciado.