E se Thanos fosse o herói da história? Todo o vilão é o herói de sua própria história e “Vingadores: Guerra Infinita” é a história de Thanos tentando fazer aquilo que acha correto: destruir metade do universo e ele encontra justificativas que podem ser arrazoadas entre extremistas.
Leia também: Confira todos os personagens que aparecem em “Vingadores: Guerra Infinita”
Dirigido por Anthony e Joe Russo, os mesmos de “Capitão América: Guerra Civil”, “Vingadores: Guerra Infinita” promove a restruturação do Universo Cinematográfico Marvel. Nesse contexto, uma força inclassificável como Thanos, interpretado com gravidade e inesperada humanidade por Josh Brolin, vem a calhar.
O filme que celebra tanto os dez anos do Universo Marvel, como prepara o terreno para o fim da Fase 3 do estúdio, tem ação ininterrupta e senso de urgência. O longa começa de onde “Thor: Ragnarok” terminou. Após a destruição de Asgard, o grande titã embosca Thor (Chris Hemsworth) e Loki (Tom Hiddleston) para pegar o teserract. Essa é apenas a segunda joia do infinito e o pai de Gamora (Zoë Saldaña) e Nebula (Karen Gillian) precisa das seis para poder estalar os dedos e praticar o que chama de “ato de misericórdia” que é destruir metade do universo.
Escrito por Christopher Markus e Stephen McFeely, o longa alinha tramas, personagens, pistas, circunstâncias e conflitos que foram sendo salpicadas ao longo desses dez anos e claramente acena tanto à nostalgia do espectador, como sua capacidade de manter coesa a linha narrativa desse universo cinematográfico. Ainda que diálogos explicativos surjam aqui e ali para dirimir qualquer chance de alienar o espectador ocasional.
Leia também: Marvel em 5 cenas: os momentos que levaram a “Vingadores: Guerra Infinita”
O que funciona em “Vingadores: Guerra Infinita”
Com um elenco tão grande, estrelado e clamoroso como como dar errado? De muitas maneiras. A começar pela impossibilidade de dar a mesma dimensão a todos eles, mesmo aqueles que já ganharam seus próprios filmes. A realização nem sequer tenta. Os heróis que já ganharam trilogias solo – Capitão América (Chris Evans), Homem de Ferro (Robert Downey Jr.) e Thor (Chris Hemsworth) – são a principal válvula de três núcleos narrativos que rapidamente se formam no longa.
A decisão se mostra acertada do ponto de vista estratégico e narrativo, mas também da perspectiva da ação, que surge ininterrupta e sempre com fôlego cênico.
O humor está mais bem azeitado do que em filmes como “Dr. Estranho” (2016), “Guardiões da Galáxia 2” (2017) e “Thor: Ragnarok” (2017). Ele ainda é um elemento importante no desenvolvimento do longa, mas cede espaço para o indefectível clima de tragédia no ar.
Você viu?
Tony Stark ainda faz piadinhas – todas ótimas – mas sua apreensão e medo são palpáveis como jamais foram.
Leia também: Primeiras impressões de "Vingadores: Guerra Infinita"
A ideia de proporcionar parcerias improváveis dentro do escopo do Universo Marvel também é um acerto e tanto. Senhor das Estrelas (Chris Pratt) unindo forças com Homem de Ferro, Dr. Estranho (Benedict Cumberbatch) e Homem-Aranha (Tom Holland), Thor e Rocket juntos na tentativa de forjar uma arma capaz de deter Thanos, o epicentro de uma batalha intergaláctica em Wakanda e Bruce Banner e Hulk discutindo a relação em pleno apocalipse são demonstrações do engenho do roteiro em criar poros de oxigenação dentro desse cataclisma emocional e estrutural que é “Guerra Infinita”.
O que não funciona em “Vingadores: Guerra Infinita”
Apesar de Thanos ser a espinha dorsal do filme, a tentativa de desenha-lo como um pai amoroso e incompreendido soa artificial e inadequada demais. A tentativa é compreensível em virtude de certos efeitos dramáticos pretendidos pela produção, mas a coisa não funciona conforme. De todo modo, Josh Brolin, na unha, consegue contornar certas incongruências que pairam sobre o personagem.
Outro aspecto que não bate bem é o fato de mais de uma vez Visão (Paul Bettany), que detém uma das joias do infinito, sugerir que seria melhor destruí-la – e talvez ele no processo – para evitar que Thanos pudesse subjugar todo o universo. Cria-se uma situação de “não negociamos vidas” confrontada pelo próprio Visão remetendo a esforços do Capitão América no passado e nada ali parece fazer muito sentido. Afinal, estrategicamente é um movimento necessário para evitar a erradicação de metade do planeta. O que é o sofrimento de Wanda (Elizabeth Olsen) perto disso?
São pequenas falhas na construção de um roteiro que, a despeito dessas e outras pequenas imperfeições, é louvável pela coesão e efetividade no alinhamento do passado, na organização cênica e no aceno que faz ao futuro.
Escala épica
E “Vingadores: Guerra Infinita” se prova diferente de tudo o que o espectador poderia antecipar. Pensado como parte de um todo que só se completa em 2019, o filme subverte expectativas e flerta com um pessimismo incomum dentro do Universo Marvel. É tão inesperado que se afigura desalentador.
Pensando nos três “Vingadores”, “Guerra Infinita” é o melhor e mais bem resolvido , mas assim como já acontecera com “Capitão América: Guerra Civil” não seria uma apoteose possível sem os demais filmes.
Leia também: “Melhor Esperar”, diz Kevin Feige sobre anúncio de novos filmes da Marvel
Com “Vingadores: Guerra Infinita”, a Marvel se isola ainda mais no topo de um jogo que parece jogar sozinha. Ao propor uma experiência cinematográfica soberba e singular para toda uma geração, o estúdio flerta com a canonização em Hollywood.