Vencedor de dois Oscars, cineasta Milos Forman morre aos 86 anos
Órfão da guerra, opositor do regime comunista e radicado nos EUA, o Tcheco primou por um cinema potente e uma filmografia diversificada
O cineasta tcheco Milos Forman, radicado nos EUA desde a década de 60, morreu nesta sexta-feira (13) em Hartford, no estado americano de Connecticut, aos 86 anos. A notícia foi confirmada por sua mulher, Martina Formanova, em comunicado da agência de notícias tcheca CTK: "Morreu em paz, rodeado por sua família e seus amigos íntimos", disse a viúva do diretor. A causa da morte, definida como uma "breve doença", não foi divulgada.
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Milos Forman nasceu em 18 de fevereiro de 1932, na cidade de Caslav, perto de Praga, e perdeu seus pais nos campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Eles foram mortos em Auschwitz. Durante grande parte de sua infância e adolescência viveu em orfanatos para órfãos da guerra.
Cursou cinema na Universidade de Praga, que inaugurou a disciplina nos anos 50 e foi um dos precursores da era dourada do cinema da então Tchecoslováquia , com produções que desafiavam o regime comunista nos idos dos anos 60. Nesse período, rodou longas como "Os amores de uma loira" (1965) e "O baile dos bombeiros" (1967). Este último fez com que suscitasse atenção internacional.
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Pouco antes da repressão soviética que esmagou a Primavera de Praga, em 1968, Forman se exilou nos EUA. Sua estreia como diretor em Hollywood ocorreu três anos mais tarde, com "Procura insaciável", comédia sobre dois pais que procuram a filha fugitiva do lar.
Implacável no Oscar
Milos Forman fez história no cinema americano e no Oscar logo com seu segundo filme nos EUA. "Um Estranho no Ninho" (1975), no qual Jack Nicholson interpreta um malandro que se vê preso pelas engrenagens de um manicômio, venceu o chamado big five, as cinco principais estatuetas do Oscar: filme, direção, ator, atriz e roteiro, no caso adaptado. O filme fora indicado a nove Oscars.
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Do drama pesado ao musical mais rebelede. "Hair" (1979) não foi um sucesso de público e crítica como seu filme anterior, mas virou um cult indelével. "Na Época do Ragtime" (1981), sobre arte e racismo na Nova York do início do século XX, o diretor voltou ao Oscar com oito indicações, mas não fora pessoalmente indicado. Isso aconteceria dois anos mais tarde com "Amadeus", gênio da música clássica. Foram 11 indicações ao Oscar e oito prêmios, incluindo filme e direção. Forman triunfara no Oscar nas duas vezes que fora indicado.
"Amadeus" e "Um Estranho no Ninho" estão no apnetão das obras-primas do cinema e garantiram a Milos Forman não apenas os Oscars, como a eternidade na memória cultural e cinéfila.
Em uma entrevista à revista Interview em 2002 revisitou muita de sua história ao falar sobre "Amadeus". "Eu assistia muito a filmes russos e tchecos sobre compositores e eles eram filmes muito chatos. Comunistas adoram fazer filmes sobre compositores porque eles compõem música e não falam coisas subversivas".
Americanos controversos
O diretor que ostenta uma filmografia curta - são apenas 20 créditos entre longas-metragens de ficção e documetários em curta-metragem - dirigiu dois filmes sobre norte-americanos controversos. Foram eles Larry Flynt, proprietário da revista pronográfica Hustler, em "O Povo Contra Larry Flynt" (1996), sensacional filme que aborda a liberdade de expressão de uma ótica que o cinema costuma menosprezar, e o comediante Andy Kaufman em "O Mundo de Andy" (1999).
Esses foram seus dois únicos filmes na década de 90. Por "O Povo Contra Larry Flynt" voltou a disputar o Oscar em 1997.
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Legado de Milos Forman
Seu último filme foi "Sombras de Goya" (2006), estrelado por Javier Bardem e Natalie Portman, sobre o pintor espanhol Francisco Goya. O cineasta também foi professor de cinema na Escola de Artes da Universidade Columbia e publicou uma autobiografia em 1994.
Além da esposa Martina Formanova, Milos Forman deixa Petr e Matej, frutos de seu segundo casamento, com Vera Kresadlova, e os gêmeos Andrew e James, filhos dele com Martina.