O diretor José Padilha foi o convidado da noite de segunda-feira (09) no “Conversa com Bial”. Em conversa gravada em março, antes dos acontecimentos recentes, o criador de “ O Mecanismo ” comentou sobre a inspiração para a série, política e embates ideológicos.
Sobre o ‘mecanismo’ que domina a política brasileira, ele explica: “os grandes partidos têm seus candidatos que são financiados por empresas que têm interesse em receber verbas públicas. (...) Essas empresas financiam todos os partidos e algum desses políticos é eleito e tem que compor seu governo”, comenta José Padilha .
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“Quando eleitos”, continua ele, “(os políticos) apontam pessoas chaves para cargos importantes, esses cargos são utilizados para recontratar as empresas que financiaram a campanha – pagando muito mais do que o serviço que elas prestam, sobra dinheiro no caixa dessas empresas – esse dinheiro então é lavado, vira caixa 2 e é redistribuído para os políticos”, conclui.
Bial então pergunta que se ele acha que a operação Lava-Jato é um começo de desvelar esse mecanismo e Padilha afirma que sim. “Ela já revelou, ela já expôs o mecanismo. A gente já sabia que existia o mecanismo. Não é novidade para a gente que a corrupção faz parte da vida do Brasileiro”, completou o cineasta. “O mecanismo não tem ideologia”, conclui.
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Amizades
Próximo de Marcelo Freixo, que inspirou um personagem em “Tropa de Elite 2”, como de Wagner Moura, protagonista do longa, Padilha comenta sobre essas amizades, e se elas foram afetadas por suas posições políticas distintas. ““Falo com o Freixo e o Wagner sobre tudo. Não gosto muito de falar com eles sobre política por isso (não causar conflito)”, comenta.
“Eu não consigo ter ideologia. Se existe alguma discordância com o Wagner ou com o Freixo é porque eles têm ideologia”, confessa.
José Padilha e a polícia
Bial também o questiona sobre a intervenção militar no Rio de Janeiro e Padilha crava: “é quase ridículo. Seria ridículo se não fosse trágico”. O diretor comenta ainda que é a favor da legalização da maconha (ele vive em Los Angeles, onde a droga é legalizada) e acredita que a polícia deve ser melhor remunerada, para evitar corrupção.
Futuro
Padilha está prestes a estrear nos cinemas americanos com “7 Dias em Entebbe”, que fez sua estreia no festival de Berlim. O filme, que conta com Rosamund Pike e Daniel Brühl no elenco, conta a história real de um avião que foi sequestrado por terroristas em 1976. Sobre o filme, ele comenta que quis mostrar que um bandido não nasce bandido: “eu não acredito nisso. O que produz o comportamento de um bandido em uma determinada sociedade? O que é que produz um terrorista?”, esclarece.
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Sobre seus trabalhos futuros, ele diz ter interesse em falar sobre a tragédia de Belo Monte. “Eu me interesso porque é uma mistura de corrupção com um profundo descaso ambiental e antropológico. É um crime que tem muitas dimensões. Eu me interesso e estou estudando para fazer talvez um filme”, conclui José Padilha .