Cinco vezes que os filmes do Oscar impulsionaram mudanças sociais

Alguns são documentários, outros curtas e tem até mesmo ficções. Relembre cinco vezes que esses filmes fizeram muito mais que ganhar uma estatueta

O Oscar 2018 foi marcado por uma série de discursos e protestos que deram o que falar nas redes sociais. Após os eventos do #OscarSoWhite, a hashtag #MeToo ganhou protagonismo na cerimônia de premiação, unindo diversos discursos acerca do racismo , machismo e lgbtfobia nos bastidores de Hollywood . Não era a toa, portanto, que diversos filmes da categoria de Melhor Filme este ano, além de não serem grandes blockbusters, traziam à tona diversos debates que permeavam as questões ali apresentadas na cerimônia.

Cena de 'Uma Mulher Fantástica', obra vencedora do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro
Foto: Divulgação
Cena de 'Uma Mulher Fantástica', obra vencedora do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro

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Entre uma estatueta e outra, o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro acabou indo para as mãos de “Uma Mulher Fantástica”, o primeiro filme estrelado por uma transexual a levar o prêmio para casa. O evento não ficou apenas no palco do Dolby Theatre e a presidenta chilena Michelle Bachele impôs na terça-feira após a cerimônia “suma urgência” ao projeto de lei para garantir o reconhecimento jurídico de pessoas trans no país. O projeto em si entrou no Congresso em 2013, aprovado pela Câmara dos Deputados em janeiro e até então não foi mexido mais. A vitória do longa reascendeu o debate sobre o tema no Chile, impulsionando uma mudança social importante para a nação no momento.

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Entretanto, esta não foi a primeira vez que um filme do Oscar foi um catalisador de mudanças sociais no cenário global. Relembre outras cinco vezes que grandes obras do cinema que chegaram à premiação da Academia de Ciências e Artes Cinematográficas impactaram o mundo.

Oscar 1976 – “Harlan County, USA”

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Relização de documentário evitou explosão de violência nos EUA

O Documentário de Barbara Kopple tinha como intuito remontar a campanha de Arnold Miller e os Mineradores pela Democracia para retirar o presidente da UMWA (United Mine Works), Tony Boyle, após o assassinato de Joseph Yablonski. Entretanto, uma greve começou no Condado de Harlan que fez com que os cineastas mudassem o seu tema principal, tendo a campanha e o assassinato assuntos secundários da trama. O longa venceu em 1976 o Oscar de melhor documentário traçando toda a greve perigosa dos mineiros de carvão contra a mina Brookside. Além de aumentar a conscientização sobre a luta dos mineiros naquela época por condições mais seguras de trabalho, além de melhores salários, a obra também foi uma forma de evitar que uma violência explodisse no fato histórico, já que as câmeras estavam sempre ligadas em cena. “Harlan County, USA” faz parte da lista de 1000 melhores filmes de todos os tempos do The New York Times.

Oscar 1994 – “Filadélfia”

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O longa foi o primeiro filme comercial de Hollywood a abordar a AIDS como tema

A epidemia de AIDS na década de 1980 gerou um pânico geral e muita desinformação acerca do tema começou a circular na sociedade. O preconceito – que ainda é presente na sociedade – fazia com que as pessoas portadoras do vírus ficassem até mesmo de quarentena. Entretanto, o filme “Filadélfia”, lançado em 1993, veio às salas de cinema e ajudou a mudar um pouco a percepção das coisas na época.  

A obra conta a história de um advogado homossexual que trabalha para uma prestigiada empresa em Filadélfia e acaba sendo demitido quando não pode mais esconder que tem AIDS. Assim, ele acaba contratando um advogado homofóbico para legar o seu caso ao tribunal. O longa rendeu a Tom Hanks o Oscar de Melhor Ator pelo papel como protagonista e a Bruce Springsteen o Oscar de Melhor Canção Original. A trama foi baseada em uma história real, mas menos de seis meses após o lançamento do filme a causa foi dada como perdida na corte de San Diego. Apesar disso, “Filadélfia” foi um dos primeiros filmes comerciais de Hollywood a abordar a temática quebrando diversos preconceitos e levantando muitos debates em diferentes áreas do conhecimento.

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Oscar 1995 – “Trevor”

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Curta inspirou criação de organização que combate suicídio de jovens LGBT

Com menos de meia hora, outro curta-metragem do Oscar foi capaz de realizar feitos que foram além do seu tempo de exibição. Dirigido por Peggy Rajski, o curta conta a história sobre o que acontece um jovem de 13 anos de idade, Trevor, quando seu interesse por um colega é descoberto e aborda a temática do suicídio entre jovens LGBT. O curta levou o Oscar de Melhor curta-metragem em live action naquele ano e foi inspiração para a criação do “The Trevor Projetct” em 1998, uma organização sem fins lucrativos cujo intuito é ajudar a prevenir o suicídio entre jovens LGBT.

Oscar 2005 – “Super Size Me – A dieta do palhaço”

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Documentário debateu alimentação nos Estados Unidos

Este documentário foi nomeado para o Oscar de Melhor documentário, mas acabou não levando. Entretanto, apesar de não ter garantido sua estatueta naquele ano, o filme gerou um burburinho bastante significativo sobre os hábitos alimentares nos Estados Unidos. O documentário percorre a história de Morgan Spurlock que segue uma dieta de 30 dias sobrevivendo apenas de produtos do McDonald’s, revelando os efeitos físicos e psicológicos que essa alimentação pode causar no corpo humano podem ser mais drásticos do que aparentam. Seis semanas depois do lançamento do filme, a rede de fast food acabou cancelando as suas porções “supersize”, consumidas pelo documentarista no longa, além de adicionar informações nutricionais nas suas embalagens. No Reino Unido, também foi criado um website para debater sobre os assuntos trazidos no filme, com críticas e uma resposta ao longa. Já na Australia, a empresa criou campanhas pelo país e, mais tarde, o longa inspirou uma série da BBC, “The Supersizes” em que os apresentadores recebem refeições históricas e realizam exames médicos para verificar como está sua saúde.

Oscar 2016 – “A Girl In The River”

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Cena do curta 'A Girl In The River'

Desta vez, foi um curta-metragem que ganhou destaque mundial. O vencedor do Oscar de Melhor documentário curta-metragem, “A Girl in The River” transpassa a história de Suba para representar um sério problema do Paquistão: a morte de mais de mil mulheres por causa de “desonra” à sua família. A jovem, por sua vez, é uma sobrevivente que foi baleada pelo próprio pai e tio por ter se casado com um homem que eles não aprovavam. O longa gerou choque global – incluindo no próprio país. O curta fez com que o governo paquistanês revesse as próprias leis sobre o cenário na região antes mesmo de a cineasta Sharmeen Obaid Chinoy receber a estatueta na cerimônia do Oscar. Em discurso, Obaid Chinoy revelou a notícia e ainda afirmou que “isso é o que acontece quando mulheres determinadas se unem”.