Os números de bilheteria da segunda semana de “Pantera Negra” nos cinemas começam a sair e “Pantera Negra” deve ter um dos melhores números da Marvel . O filme deve fechar o fim de semana com US$ 102 milhões arrecadados só nos EUA, número superado apenas por “Star Wars: O Despertar da Força”, “Jurassic World” e “Os Vingadores”. Mundialmente, o longa já acumulou US$ 520 milhões, com o Brasil como um dos principais espectadores, ao lado de países como Inglaterra e Coréia do Sul.
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Se os filmes da Marvel já são atraentes por si só, “ Pantera Negra ” coleciona uma série de atributos que o colocou entre os melhores do estúdio, desde o lançamento da Fase 1, há 10 anos. Por isso, selecionamos cinco trunfos do filme de Ryan Coogler que mostram como ele supera outros filmes da franquia Marvel. Confira:
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Sucesso comercial com referências africanas
Os números citados acima mostram que “Pantera Negra” é um sucesso no cinema. Mas, a novidade fica por conta da quantidade de referências africanas o filme tem. Essas referências são raras no cinema em geral, muito menos em blockbusters de aventura/ficção. O filme se propõe a agregar culturas africanas, que vão desde o vestuário a rituais, colocando o continente como um todo em destaque, sem cair nos temas mais comumente explorados, como a colonização, a pobreza e os conflitos.
Personagens femininas fortes
Isso já foi falado antes, mas é sempre bom lembrar. Enquanto a Marvel insiste em uma mesma personagem rodando por todos os filmes de super-herói (Viúva Negra), em apenas um longa Coogler oferece três heroínas com funções, objetivos e motivações diferentes, todas complexas e com propósitos que vão além de agradar/servir o protagonista. Muito pelo contrário, cada uma a seu jeito (Okoye como seu braço direito, Nakia como ex-namorada e antagonista política) o criticam quando acham que ele está errado, e não tem medo de expressar ideias opostas ao protagonista.
Mais do que isso, o filme passa com louvor no teste de Bechdel, que determina que pelo menos duas personagens femininas existam em uma mesma cena, falando sobre qualquer outro assunto que não seja homem. Por incrível que pareça, o teste é dificílimo de passar no cinema em geral, e no Universo Marvel isso acontece pela primeira vez em “Pantera Negra”.
Um vilão multifacetado e complicado
Erik Killmonger é um extremista. E suas referências vêm do mundo real, além dos quadrinhos. E, essencialmente, ele é um vilão. Porém, ele é multifacetado e, em meio ao seu extremismo, apresenta argumentos muito válidos, exemplificada com a submissão negra no mundo fora do reino de Wakanda (e dentro de um mundo bem real). Em meio a sua violência e raiva, Killmonger vê um mundo injusto, e quer concertá-lo a sua maneira. Algumas de suas falas são as mais impactantes do longa, e ele tem tudo para se tornar um dos grandes vilões da saga, muito mais complexo e bem desenvolvido que a orfandade de Loki.
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Personalidade ímpar
Para ser herói é necessário uma série de qualidades, a principal delas sendo o altruísmo. Mas o que vemos nos filmes da Marvel são protagonistas ególatras que agem primeiro em benefício próprio, depois pensando num “bem maior”. Tony Stark tem o ego nas alturas e precisou ver uma criação sua (Ultron) destruir um país inteiro (Sokovia) para colocar seu poder a prova. Doutor Estranho não tem um pingo de humildade, mesmo enquanto aprende uma arte que desconhece (e menospreza) completamente. Thor só chega na Terra para começo de conversa pois deixa o poder subir a cabeça e seu pai decide lhe dar uma lição. Em meio a tantos heróis egoístas, o Capitão América é o único que mostra certa humildade, mas mesmo ele desrespeitou todas as autoridades possíveis só para proteger o amigo Bucky.
Sendo assim, a personalidade de T’Challa , agindo como Rei de Wakanda ou Pantera Negra, é de impressionar. Ele busca no espiritual, no físico e onde mais pode, apoio e ajuda para governar seu país de maneira justa. Só a assembleia que reúne, com líderes de outros clãs, para saber o que fazer quando a figura de Ulísses Clawn reaparece, mostra sua disposição para ouvir e não necessariamente agir por impulso. Nem sempre funciona, mas mostra que ele, com a criação que teve, é capaz de assumir seu despreparo para a função que abraçou, e aceitar que precisa de ajuda, seja espiritual do pai, seja dos amigos e parentes.
Com fórmula, mas autoral
A “fórmula Marvel” já é conhecida e aplicada desde o primeiro filme e consiste, basicamente, na saga do herói. Em tese, “Pantera Negra” preenche esses requisitos, mas na prática vai muito além. Ryan Coogler, que é um diretor autoral cujos trabalhos anteriores reverberam as causas em que acredita, conseguiu imprintar essas mesmas causas no longa sem parecer didático e explicativo.
“ Pantera Negra ” é um filme de herói, mas também é um filme extremamente político, que reflete a situação da população negra no mundo. E o assunto é debatido em detalhe de muitas maneiras: como Nakia e T’Challa discordam sobre refugiados em Wakanda (o rei é contra e quer manter o reino no anonimato), como Killmonger decide explorar as riquezas e e materiais bélicos para revolucionar o mundo, depois de tantos anos de submissão dos negros aos brancos, e até mesmo em pequenos momentos, como quando o próprio Killmonger questiona a curadora do Museu sobre como a máscara exposta no local foi obtida. O momento vem até em forma de humor, ácido e preciso, na fala de Shuri para o Sargento Ross: “não me assuste assim, colonizador”. No melhor estilo Coogler, “Pantera negra” é um filme de protesto, de denúncia e de descontentamento, tanto quanto é um filme de ação, de herói, de batalhas superações.
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