Existem aqueles filmes que são como bons livros. Prazerosos, inteligentes e que ofertam profunda satisfação, mas que não necessariamente são memoráveis. Esses filmes costumam ser sobre escritores. “Apenas um Garoto em Nova York” pertence a essa distinta estirpe de um cinema que se pretende adulto, eventualmente reflexivo e que se escora em diálogos espertos, conflitos arejados e que captura a angústia do ser artista. Pensou em gente como Woody Allen e Peter Bogdanovich ? Então achou as referências certas para esse retorno de Marc Webb ao terreno de “ 500 dias com Ela ” depois da experiência de dirigir dois fracos exemplares do “ Homem-Aranha ”.

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"Apenas um Garoto em Nova York" mostra a angústia de um jovem obcecado pela amante do pai

Thomas Webb (Callum Turner) está apaixonado por Mimi (Kiersey Clemons), com quem teve uma noite especial. Mas ela tem namorado e não parece disposta a trocar o certo pelo duvidoso. Thomas não sabe o que quer da vida. Na verdade, quer ser escritor, mas seu pai (Pierce Brosnan), um respeitado editor acha mau negócio. Afinal, livro é um negócio em decadência. Um estranho, interpretado com gosto e irreverência por Jeff Bridges , é quem ajuda Thomas a ter alguma clareza nesse momento tão delicado de sua vida. “ Apenas um Garoto em Nova York ” dedilha as reflexões existenciais das conversas desses dois hedonistas com graça e maravilhamento.

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“Apenas um Garoto em Nova York” estreia nos cinemas brasileiros em 7 de dezembro

A mãe de Thomas, vivida pela sempre ótima Cynthia Nixon, está mergulhando em uma profunda depressão, mas a falta de comunicação entre pai e filho impede um socorro mais eficaz. É nesse conturbado cenário que Thomas descobre que seu pai tem uma amante, que ganha o sotaque e as curvas de Kate Beckinsale. Ele se surpreende com o quanto fica obcecado pela amante de seu pai. Esse episódio de sua vida vai catalisar mudanças estruturais nos foros intimo e familiar; algo que o filme vai alinhavando com delicadeza e obstinação.

O roteiro de Allan Loeb (“O Dilema” e “Beleza Oculta”) é dessas preciosidades despretensiosas, mas cheias de valor e coração que nos deparamos de quando em quando no cinema. Webb, por seu turno, sabe trabalhar bem com personagens inconclusos, inseguros e reflexivos – principalmente no campo masculino.

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“Apenas um Garoto em Nova York” perde um pouco do ritmo no final, é verdade, mas se resolve tanto como terapia familiar – e das mais sutis e sofisticadas – como um filme sobre amadurecimento (o “coming of age genre” que os americanos tanto adoram). Os personagens são cativantes, bem como a moral da história, que surge tão orgânica e afetuosamente que não dá nem para perceber. De bônus, Kate Beckinsale ganha seu melhor papel em anos no cinema como uma Mrs. Robinson moderna. Uma delícia de filme no todo e nas partes. 

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