"Yvone Kane", estreia deste fim de semana no circuito alternativo das cidades do Rio de Janeiro e são Paulo, é um projeto pessoal da portuguesa Margarida Cardoso
, que dirige o filme como quem remexe no próprio passado. O filme estabelece um diálogo entre as reminiscências coloniais em Moçambique e os anseios da protagonista vivida pela portuguesa Beatriz Batarda.
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Depois da morte da sua filha, Rita (Beatriz Batarda) volta ao país africano onde viveu a sua infância para investigar um mistério do passado: a verdade sobre morte de Yvone Kane (Mina Andala), uma ex-guerrilheira e ativista política. Neste país, onde o progresso se constrói sobre as ruínas de um passado violento, Rita reencontra a sua mãe, Sara (Irene Ravache), um mulher dura e solitária que vive ali há muitos anos.
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É dessa busca pelo passado, muitas vezes alinhada a certo rigor jornalístico, que o longa e sua protagonista vão adquirindo sentido. As cicatrizes da história ocupam especial espaço no filme de Cardoso e, nesse sentido, a atuação de Irene Ravache é essencial. Expressiva e silenciosa, a atriz abarca a dor de quem viveu e viu muitas tragédias. É um trabalho muito sutil.
Ao propor a compreensão do passado como remédio para o presente, "Yvone Kane" se valoriza como documemento histórico, mas falta ao filme certo comedimento. A metragem é excessiva, assim como a reverência.