Seja no cinema, na televisão ou na internet, a pornografia sempre esteve presente na indústria do entretenimento . Lucrativa, ela foi – e ainda é – alvo de muitos questionamentos, sendo inclusive base para a realização de documentários que buscam desvendar sua complexidade, além de protestos e inciativas cujo intuito é barrar a sua produção, colocando em xeque se é possível realmente considerá-la como uma arte. Entretanto, apesar do extenso debate que envolve o tema, o fascínio da sociedade com a pornografia ainda rege o entretenimento trazendo à tona o sexo em diversos momentos no audiovisual .

O documentário que fala sobre pornografia
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O documentário que fala sobre pornografia "Hot Girls Wanted" ganhou uma versão na Netflix em série neste ano

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“É uma coisa que vem de muito tempo não é uma novidade um interesse da humanidade pelo sexo do outro”, afirma Nina Nunes, jornalista e idealizadora do projeto de pesquisa Pornô Para Mulheres. “Existe aquela coisa curiosa que a pornografia é o erotismo dos outros. Talvez esse fascínio tenha a ver com a proibição, o próprio Foucault vai falar sobre a questão histórica do que é dito e não dito, dos discursos proibidos e o sucesso da pornografia pode ter a ver com isso”, completa.

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David J Linden, professor de neurociência do curso de Medicina da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, escreveu ao Motherboard em 2015 sobre o assunto com um viés científico. “O pornô ajuda na indução própria do orgasmo ao aumentar a excitação sexual, promovendo fantasias e escapismo sexual”, escreveu. “Somos programados para prestar menos atenção aos sinais táteis derivados de nossos próprios movimentos em relação àqueles originados no mundo exterior”, completou. Segundo o professor, para intensificar estes sinais táteis, muitas vezes se utiliza um apoio externo, como imagens estimulantes, para ativar as demais regiões sensoriais do cérebro, o que explicaria o sucesso da pornografia na sociedade.

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"The Deuce" relembra a ascensão da indústria pornográfica nos Estados Unidos nos anos 1970

O interesse pela pornografia, fez com que a HBO apostasse em uma nova série, “The Deuce”, lançada em agosto deste ano que busca remontar os primórdios da indústria pornográfica nos Estados Unidos nos anos 1970. Esse olhar meticuloso sobre a questão, entretanto, não é novo. Em 2015, a série “Magnífica 70”, também da mesma emissora, estreou trazendo a tona a chamada “Boca do Lixo”, focando principalmente na sua relação com a ditadura militar do País. No mesmo ano, foi a vez da Netflix adentrar nesse universo lançando “Hot Girls Wanted”, um documentário sobre a indústria do pornô e a sua relação com as jovens novatas em frente às câmeras. Mais tarde, a obra tornou-se uma série, “Hot Girls Wanted: Turned On”, discutindo como a internet está mudando esse setor, junto com a sociedade.

“Tem uma construção coletiva de questionamento do lugar do sexo, por parte de uma tendência feminista. Não necessariamente o questionamento é feminista, mas não podemos ignorar que os questionamentos feministas tenham aparecido com mais força e querendo ou não isso acaba influenciando na produção cultural como um todo”, comenta Nina Nunes, fazendo referência a produção original da Netflix, que tenta trazer à tona a discussão sobre a pornografia e o sexo sob outro viés.

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Um novo olhar para o sexo?

As mudanças sob a percepção da pornografia, por sua vez, já eram anunciadas há muito tempo, ainda que tenham eclodido atualmente. Segundo Nina, a indústria pornográfica começou a se desenvolver no século XIX, como algo pedagógico para tratar de doenças venéreas, ganhando formato anos mais tarde, sendo exibido no cinema em um espaço público frequentado apenas por homens. “Com o tempo, as coisas vão se desenrolando e o que a gente percebe com o advento dos videocassetes é que pornô pode ganhar um pouco esse espaço da casa, do privado, assim ele pode chegar às mulheres uma vez que elas estão confinadas a este espaço doméstico”, comenta Nina. “A pornografia conquista um novo público que é o público feminino, isso pode explicar, por exemplo, o porquê colocar um pouco de pornografia, de algo mais picante dentro dos produtos culturais”, completa.

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Grace e Frankie aborda sexualidade e sexo diferentemente de outras obras audiovisuais

Os exemplos são vários: desde o filme “Cinquenta Tons de Cinza”, que trabalha diretamente com o sexo em uma produção fictícia até mesmo a série “Grace & Frankie”, que não fala diretamente sobre pornografia, mas, como defende Nina, aborda a vida sexual de duas personagens mais velhas e de um ponto de vista inovador. Essa nova representação, entretanto, não é definitiva, como defende a jornalista. “A cultura é mutante, está em disputa, a representação é composta por uma série de discursos que são dominantes”, comenta. “De repente falamos de muita pornografia, mas antes ela era uma coisa proibida. "Garganta Profunda", por exemplo, foi um filme fundamental para passar as questões de pornografia e do sexo do outro como algo mais público, mas é uma transformação gradativa que não podemos falar mesmo sobre algo estável”, completa. De acordo com Nina, o momento é de se rediscutir a ideia do sexo e, para ela, “talvez falar de pornografia esteja entrando nesse posto de assunto que já não é mais tão peculiar assim”, finaliza.

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