Seria possível a rainha da Inglaterra se emocionar com a servidão voluntária de um indiano a ponto de transformá-lo em seu amigo e confidente? "Victoria e Abdul - O Confidente da Rainha", inspirado na história real da rainha Victoria ( Judi Dench ), é a prova de que sim: mesmo um coração endurecido pelo poder é capaz de ser tocado por sentimentos verdadeiros de amizade e carinho.

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"Victoria e Abdul" consegue emocionar um a história real de amizade entre uma rainha e um servo indiano

No longa, o espectador é apresentado à história da rainha Victoria e Abdul  Karim (Ali Fazal), após o jovem escrivão do presídio da cidade indiana de Agra ser convocado para entregar uma mohur, uma espécie de moeda valiosa para a rainha - junto com o baixinho Mohammed (Adeel Akhtar). Já no começo, é nítido o desconforto do menor em relação aos costumes britânicos e sua vontade de retornar ao seu país de origem.

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Já Abdul nunca perde a oportunidade de mimar a realeza e aproximar-se dela - tanto que vai sendo consecutivamente promovido pela soberana do povo inglês. Sua prosperidade vai começando a incomodar os membros da Corte Real, que procuram formas de despachar o indiano de volta para sua terra natal.

Sensível, Abdul desvenda o caminho para o coração da rainha - que se mostra mais humana do que o espectador poderia supor. Contudo, em alguns momentos, fica claro que o jovem não é movido apenas por uma servidão voluntária sem esperar nada em troca: Abdul é ambicioso e essa foi a maneira que encontrou de subir na vida: tornando-se o munshi, uma espécie de professor e conselheiro real de Victoria.

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"Victoria e Abdul" deflagra todo o preconceito da Corte Real Inglesa do século XIX

De origem humilde e sem nunca ter frequentado uma escola, o munshi vira o alvo de todos aqueles que buscam insaciavelmente pelo poder na Inglaterra do século XIX, por considerarem que o jovem não é digno de tal honraria. Ali Fazal é brilhante em retratar um atrapalhado e inocente indiano muçulmano, que se perde em suas ações e busca sempre acertar - mesmo que, com isso, acabe errando. 

Após uma revelação inesperada, que decepciona a rainha, o personagem tem sua redenção e se mostra arrependido de ter enganado a Imperatriz do subcontinente indiano. Judi Dench, como sempre, tem atuação espetacular e consegue transitar com destreza entre as duas faces da rainha no longa: a mãe compassiva e a governante impiedosa. Se, por um lado, mostra todo o afeto que tentou passar para os filhos - sem sucesso, posto que todos tornaram-se gananciosos e vaidosos -; por outro, é capaz de governar o Império Britânico com punhos de ferro, impedindo que as situações fujam de seu controle.

A atuação de Eddie Izzard, como o impiedoso e cruel Príncipe Bertie, também vale a menção. Frio e calculista, ele não poupa esforços para tentar afastar o munshi de sua mãe - desde uma investigação na cidade de Agra até um conluio com o médico do palácio para provar que o jovem não deveria ser nomeado cavalheiro da Corte Real Britânica.

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Não se trata de uma história com final feliz. Aos espectadores mais sensíveis: considerem levar um lenço. "Victoria e Abdul - O Confidente da Rainha" emociona, sobretudo, com sequências finais - que ensinam mais sobre o amor e o companheirismo do que os discursos inflamados de livros do século passado.

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