Não há a mínima chance de se falar sobre a Bossa Nova
sem citar o nome de Roberto Menescal. Aos 80 anos, ele continua mais na ativa do que nunca e conversou com o iG Gente
para contar todas as novidades sobre as homenagens que anda recebendo em razão de seu aniversário, as parcerias, shows e lançamentos de novos álbuns para a sua extensa lista de trabalhos feitos ao longo de seus quase 60 anos de carreira.
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Roberto Menescal começou a tocar violão aos 17 anos e, graças ao eterno intérprete de "Garota de Ipanema"e compositor aclamado, Tom Jobim , acabou mergulhando de vez na carreira de músico - e, consequentemente, na Bossa Nova, companheira que segue firme ao seu lado ainda hoje.
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"Tom me perguntou o que eu estava fazendo da vida e, naquela época, estava prestando vestibular para arquitetura. Ele me perguntou se eu não queria ser músico e eu disse que sim. Então ele disse para eu deixar toda aquela história de lado e ir fazer isso. Ser músico", afirma. E, seguindo o conselho de ninguém menos que Antônio Carlos Jobim, desistiu do vestibular e se tornou "Roberto Menescal", nome da Bossa Nova.
O movimento, que é conhecido mundialmente e toca o coração de milhares de fãs até hoje, nasceu nos anos 50, em encontros ocorridos no apartamento de Nara Leão - com quem ele teve um "namorico" quando novo - na Avenida Atlântica, em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro . Nomes como João Gilberto , T om Jobim , Vinícius de Moraes , além de Carlos Lyra , Sérgio Ricardo e Ronaldo Bôscoli são apenas alguns exemplos de quem frequentava o lugar.
Influenciada pelo jazz americano, a Bossa Nova surgiu oficialmente com esse nome em uma apresentação no Colégio Israelita-Brasileiro, na capital fluminense. Na ocasião, a cantora Sylvia Telles convidou Menescal, então com 18 anos, para participar com ela da perfomance. "Ela foi a primeira a me dar um trabalho", afirma o músico. Quase 60 anos depois daquele dia, hoje ele acumula dezenas de sucessos - como a canção " Barquinho ", "Você", "Nós e o Mar" e "Adriana" -, além de uma lista invejável de grandes parcerias.
Homenagens
Prestes a chegar aos seus 80 anos, Menescal simplesmente não para. No último sábado (21), o Canal Brasil transmitiu um programa especial em homenagem ao músico trazendo grandes artistas interpretando os seus sucessos em um tom intimista. O convite para o programa surgiu do presidente do canal, Paulo Mendonça, durante um almoço. "Eu aceitei na hora. Achei muito bacana, mas não sabia a extensão de como seria", diz o homenageado. Há uma reprise programada para esta quarta-feira (25) no canal.
Menescal diz ter feito apenas uma exigência: que os artistas convidados fossem pessoas que estivessem ligados à sua vida e à sua carreira. Ele conta que, então, fizeram uma lista com possíveis nomes e, depois que os músicos toparam participar, foi a hora de escolherem o que cada um iria tocar dentro de um uma de quase 50 sucessos. "Funcionou tão bem que nenhum artista escolheu a música do outro. Deu tudo muito certo. Eu adorei porque fui gravando e não tinha noção do tempo passando", afirmou.
No total foram dois dias de gravação e 17 artistas. Apenas como exemplo, a apresentação contou com nome como Ney Matogrosso, que interpretou "Nós e o Mar" e "Bye, Bye Brasil", com Danilo Caymmi . Já Lenine ficou responsável for "Adriana". Zélia Duncan e Paulinho Moska interpretaram "Você". Leila Pinheiro cantou "Amanhecendo"e Fernanda Takai empresto sua voz ao maior sucesso de Menescal, "Barquinho".
"Dia de Luz, Festa de Sol" e outros projetos
Além das apresentações do programa em sua homenagem, Roberto Menescal terminou no último sábado (21) uma série de 15 apresentações que fizeram parte do projeto " Dia de Luz, Festa de Sol " - uma turnê que passou pelos CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) de Brasília, São Paulo e, por fim, no Rio de Janeiro.
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"Os shows, ao contrário do programa, não trouxeram apenas músicas minhas, mas outras canções apresentando a história da Bossa Nova", conta ele. As apresentações foram feitas com 130 arranjos diferentes interpretados por Menescal e com a parceria de músicos convidados, o que deu um ar de "exclusividade"a cada uma. Entre os nomes que acompanharam o violonista estavam Fernanda Takai e Marcos Valle , Cris Delanno , Ivan Lins , Leila Pinheiro, entre outros. "Eu tinha uma miniturnê pela Europa e pelo Japão logo em seguida, mas acabei cancelando. Ia ficar tudo muito corrido", ele comentou.
As novidades não pararam por aí: nesta semana foi lançado um novo álbum do grupo "Quarteto do Rio"
homenageando Menescal. Entitulado de " Mr. Bossa Nova
", a banda, formada por ex-integrantes de " Os Cariocas
", escolheu algumas canções do músico para interpretar e, claro, contou com a própria participação do próprio homenageado.
Também neste mês Roberto Menescal lança dois novos álbuns: um em parceria com o compositor Abel Silva - com quem trabalhou pela primeira vez em 1985 em um disco de Nara Leão. "Desde que nos conhecemos começamos a trabalhar com algumas músicas. Quando percebemos, há tínhamos umas trinta. Então, escolhemos 10 faixas para esse CD que estamos aparecendo apenas como autores das músicas".
Menescal também traz " Bossa Nova Meets the Beatles ", onde dá o tom abrasileirado da bossa ao quarteto britânico mais famosos do mundo. O álbum será lançado no próximo dia 27 de outubro e foi ideia de Carlos Coelho (guitarrista da banda " Biquíni Cavadão ). A produção conta com a participação de Claudio Duarte cantando "A day in the life", "Across the universe", "Eleanor Rigby", "Michelle " e "Something", além de Bruno Gouveia (vocalista do Biquíni) cantando "She loves you". O álbum deve ser o tema dos próximos shows do instrumentista ainda neste ano.
No novo trabalho, Menescal também trava mais uma parceria com Andy Summers , guitarrista do grupo inglês " The Police" , com quem gravou um DVD em 2011. Neste novo trabalho, o guitarrista faz o solo superespecial para a música "Yesterday". E essa "dupla"não irá parar por aí: Menescal contou ao iG Gente que no próximo ano irá lançar, também junto ao músico inglês, um CD especial trazendo os sucesso do "The Police"para a Bossa Nova.
"Faz uns sete anos que tenho essa parceria com o Andy Summer. Tudo começou por acaso, quando fiz uma regravação de uma música do "The Police", com a Cris Dellano, e depois recebi o recado de que Andy queria me encontrar. Pensei que ele não tinha gostado da música", contou o ícone da Bossa Nova. "Nós almoçamos e ele disse que deveríamos fazer alguma coisa juntos. Só voltamos a nos reencontrar um ano depois, quando gravamos o DVD e saímos em uma turnê pelo Brasil, Uruguai e Argentina". Desde então de vez em quando trabalhamos juntos", completou.
Já o próximo ano já promete continuar intenso para Menescal. Em janeiro ele deve lançar um novo CD com músicas inéditas, trazendo o blues unido à Bossa Nova. Ainda, ele comentou que pretende produzir junto à vocalista da banda " Pato Fú" , Fernanda Takai , um álbum trazendo diversas músicas de Tom Jobim (inclusive sucessos menos conhecidos) adaptadas ao estilo da cantora. O projeto deve se chamar " O Tom da Takai "e foi pensado pelo próprio músico durante uma apresentação em que ela participou com ele durante os shows no CCBB.
Menescau e a Bossa Nova
Não há dúvidas de que Roberto Menescau está para a Bossa Nova, assim como o Sol está para o calor, ou como o verão está para a praia. "Tenho dúvidas se eu seria músico se não fosse a Bossa Nova. "Na outra semana meu irmão, que é arquiteto, disse que queria que nosso pai estivesse vivo para te ver e que hoje ele iria dizer para eu que cuidasse dos irmãos", brincou ele, já que, conforme contou, seu pai não teria ficado muito feliz com a sua escolha. "Se eu não tivesse mudado, provavelmente hoje eu seria um arquiteto que tocaria", completa.
O músico ainda conta que acompanha as novidades da música brasileira, mesmo que "não seja muito a sua praia", e admira a qualidade na produção de músicas que fazem sucesso, como o sertanejo, e outros sucesso como da cantora Anitta, que ele diz ter um futuro de sucesso pela frente, inclusive no exterior.
Para ele, a Bossa Nova continua firme na música do Brasil, apesar de não ser muito "popularesca", ela continua sendo popular. O ritmo (se é que podemos resumir tamanho marco musical do Brasil nesta simples palavra) irá completar em 2018 seus 60 anos e tem o seu caminho traçado paralelamente ao jazz, que completa 100 anos. Prova do seu contínuo e atual sucesso é que todos os shows de Menescal no CCBB esgotaram em questão de horas, levando ainda muitas pessoas para as portas das apresentações na esperança de conseguirem um ingresso.
"Nao somos popularescos e nem queremos ser porque isso é um trabalho insano. Deus me livre ser que nem o Luan Santana, por exemplo, que não tem tempo para nada, no máximo para ir ao cabelereiro. Eles fazem três shows por final de semana. Não tem vida. Não é o que eu quero", ele comenta.
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E o que ainda inspira Roberto Menescal a essa altura do campeonato? Ele diz que é o amor que ele tem pelo seu violão e pela música. "Ele é a minha bengala, o meu companheiro. Está sempre do meu lado, mesmo se eu estiver vendo televisão", diz, afirmando que o tempero, ainda, para tanta disposição, é ter vontade de trabalhar. E a gente espera ainda que todo esse sucesso do músico se repita por mais 80 anos. Parabéns, Menescal!