A Tropicália , que completa 50 anos neste ano, é um período que remete quase imediamente aos grandes nomes da música brasileira no fim dos anos 1960, principalmente Caetano Veloso , Gilberto Gil e Os Mutantes . Mas enquanto esses artistas eram consagrados por suas obras, um produtor demorou muito tempo até ser devidamente celebrado por seu trabalho extremamente importante. Sem Rogério Duprat, talvez não houvesse Tropicália.
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Nascido no Rio de Janeiro em 1932, Rogério Duprat se radicou em São Paulo, onde se tornou um dos principais nomes da Tropicália. Sempre ligado à arte contemporânea, o maestro estudou na Europa com mestres como Karlheinz Stockhausen e Pierre Boulez antes de voltar ao Brasil para mudar de vez a música nacional.
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Duprat se destacou principalmente pela produção de "Tropicália ou Panis et Circenses", disco lançado em 1968 que é considerado um dos principais do movimento. Antes, em 1967, ele já havia trabalhado nos arranjos de Domingo do Parque , música cantada por Gilberto Gil e Os Mutantes no III Festival de MPB da Record, em 1967, considerado o ponto de partida do movimento. No festival, ele ganhou o prêmio de melhor arranjador.
O que tornou Duprat um nome tão importante no movimento foi sua técnica apurada, em sintonia com os melhores musicistas contemporâneos da Europa e dos Estados Unidos, e sua visão de música mais expandida. Na Universidade de Brasília, ele, Régis Duprat, Damiano Cozzela e Décio Pignatari modernizaram o ensino de música no Brasil, o que aproximou a teoria da prática.
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Música política
Mas, além de ser um ótimo produtor, o carioca também era muito politizado. Nacionalista por convicção, ele sempre foi alinhado ao pensamento da esquerda – tanto que o golpe militar de 1964 o fez pedir demissão da UnB. Por meio de seu trabalho, ele desafiou o regime militar.
Foi no contato com a obra do americano John Cage que ele mudou esse viés e sua forma de trabalhar com a música. Em vez de excluir os artistas que não tinham o mesmo pensamento político que o seu, o maestro passou a integrar e incluir tudo em seu trabalho, misturando ritmos e influências, a grande força de seu trabalho.
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Por uma ironia do destino, Rogério Duprat teve de se afastar da produção musical por causa de uma surdez progressiva. No fim de sua vida, ele se dedicou a outras atividades. O maestro morreu em 2006, aos 74 anos, vítima de complicações de um câncer na bexiga. Ele sofria de mal de Alzheimer desde de 2002.