Depois de lançar em 2015 o disco “Mulher”, As Bahias e a Cozinha Mineira conquistaram o seu espaço no universo musical com uma miscelânea sonora que transcende os limites regionais brasileiros. Formado por Raquel Virgínia, Assucena Assucena e Rafael Acerbi, o grupo ressurge dois anos depois trazendo mais um trabalho, “ Bixa ”, um álbum que traz o bom e velho ecletismo da banda , mas com uma sonoridade mais pop que emerge em todas as canções.
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“Foi algo proposital”, comenta Assucena Assucena, uma das vocalistas do As Bahias e a Cozinha Mineira em entrevista ao iG Gente . “Nesse segundo disco nós nos preocupamos mais com a sonoridade, ainda que tenhamos esse zelo ao lirismo de maneira intrínseca. Cada palavra do disco foi discutida, foi levada em consideração como discurso. Mas tem momentos que nós partimos para a prosódia, como Coruja Urubu, Urubu Coruja , pensando em como que essa palavra soa, então acabamos tendo uma ousadia mais sonora nesse segundo disco”, completa a cantora.
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O disco, que tem como referência “Bicho”, álbum de estúdio de Caetano Veloso de 1976, trabalha com o âmbito urbano da música. “Bixa já é um disco urbano, apesar de ser bixa, apesar de ser homenagem à natureza, fala sobre a fauna urbana, os sons da cidade”, comenta Assucena. A alusão, por sua vez, não é à toa, já que com o novo trabalho o grupo busca resgatar a natureza humana através do som. “Em ‘Bicho’ percebemos que Caetano conseguiu ser perspicaz tanto na forma e conteúdo, colocando músicas como Leãozinho e Gente no mesmo disco. Assim, ele acaba trazendo esse sentido de um universo de sentimento, de instinto, e mostra que o ser humano também é um bicho e isso está na nossa natureza” explica a cantora.
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A música brasileira
Apesar de reverberar em seu trabalho contemporâneo obras que já completam quase quarenta anos de existência, Assucena dialoga com a modernidade e exalta o atual momento da música brasileira. “Temos uma grande expressão daquilo que as pessoas estão chamando de cena LGBT e eu acho isso profundo e sintomático. Acredito que estamos indo para um outro tipo de música de protesto: antes era ditadura e hoje é um questionamento dos costumes, do comportamento, e principalmente do que significa liberdade”, comenta a cantora. Para ela, ícones como Karol Conka, Tassia Reis, IZA, Anitta e Pabllo Vittar são alguns dos nomes que ecoam esse novo momento da música brasileira. “Pabllo é uma drag queen e ela está entrando em espaços machistas, transfóbicos e lgbtfóbicos ,mas natureza da beleza da música penetra e ocupa espaços insalubres à nossa existência”, opina a cantora.
Nesse processo de união das antigas e atuais gerações, As Bahias e a Cozinha Mineira farão uma parceria inédita com a cantora baiana Pitty no próximo Sexta Básica em São Paulo, evento mineiro que chegou à capital paulista trazendo diversos nomes da música brasileira. “Ela é uma cantora que inclusive foi uma grande inspiração para toda essa nova geração, tanto pela qualidade da sua música e seu talento quanto por sua atitude. A Pitty sempre mostrou que é uma mulher de muita fibra”, opina a cantora. Para o show, Assucena não hesita em afirmar que a antropofagia da música estará presente. “O Brasil tem seus ritmos nativos, dos indígenas por exemplo, e também trabalha com esses aquilo que vem de fora. E misturar tudo isso é uma coisa que a gente sabe fazer muito bem”, finaliza a cantora. O show acontece no dia 20 de outubro na Audio Club, em São Paulo.