Por que as tramas de Jorge Amado fazem tanto sucesso na TV e no cinema?
"Dona Flor e Seus Dois Maridos" e "Gabriela", obras de Jorge Amado, têm ocupado um espaço de destaque nas produções nos últimos anos; entenda
Por iG São Paulo |
Jorge Amado soube retratar com a suavidade e precisão a vida dos moradores da Bahia no começo do século XX. Com seus personagens que pegavam fogo, o autor não falhou em mostrar como eram os romances da época em que prostitutas e marinheiros rolavam nas areias do cais e a noite era dos malandros.
Leia também: Sexo e TV: Como as cenas de sexo nas séries da Globo evoluíram ao longo dos anos
Não levou muito tempo para que os roteiristas percebessem que as obras de Jorge Amado poderiam ter suas tramas transpostas para a televisão. Obras como "Gabriela, Cravo e Canela", "Dona Flor e Seus Dois Maridos", "Mar Morto" e "Tieta do Agreste" popularizaram ainda mais o jeito, os costumes e as crenças do povo nordestino.
Leia também: Qual canal produz mais séries com cenas de sexo?
Somente na TV aberta, o autor ganhou 11 adaptações, entre novelas, séries e minisséries. Suas histórias do porto também chegaram às telas do cinema - e fizeram sucesso junto à crítica e ao público. Tantas adaptações se devem, principalmente, ao fato de que, mesmo em vida, o escritor liberava suas obras para adaptação na TV - diferentemente de outros autores brasileiros.
Você viu?
Soma-se a isso, suas tramas com personagens caricatos e de fácil identificação e cheias de reviravoltas. Pronto: as obras enchem os olhos de produtores e roteiristas e se tornam um prato cheio para as produções audiovisuais - tanto na TV quanto no cinema. O autor, porém, tinha um comportamento peculiar quanto as obras adaptadas: nunca quis assistí-las. Dizia que, se visse as produções, poderia mudar de ideia quanto a liberação dos direitos autorais.
Com duas fases bem marcadas, em que a primeira mostra a idealização do comunismo e ganha menos destaque entre a crítica e mesmo entre as adaptações, o autor ganhou ainda mais relevância dentro do universo audiovisual ao dar início à sua segunda fase: aquela que coloca a mulher como figura central - tanto pela força quanto pelo sexo.
E o sexo com isso?
Por sinal, o sexo também é um dos temas bastante presentes em suas obras - e isso, por si só, já merece destaque: escritos em meados dos anos 90, mostram o sexo sem pudores em uma sociedade que considera a sexualidade era um tabu. E, mais ainda, a sexulidade da mulher - que costumava ser retratada como um ser frígido e desprovido de libido ou desejo sexual.
Quando isso foi transposto para a televisão, na novela "Gabriela" (1961), da TV Tupi, ainda que de maneira não tão explicíta, causou furor e gerou dois efeitos imediatos: o choque do setor mais conservador da sociedade e a identificação das mulheres, até então, muito oprimidas sexualmente. Além disso, temas sexuais sempre costumam render audiência - tanto é que as emissoras e produtoras continuam apostando suas fichas em cenas ousadas para alavancar a audiência.
Leia também: 10 séries para não assistir em família
Obviamente, não é possível afirmar que a televisão brasileira ama Jorge Amado somente por suas cenas de sexo e pelas mulheres fortes. É preciso destacar que a qualidade de sua obra, que já foi traduzida para diversas línguas, entre na soma de fatores que fazem do autor um sucesso na mídia audiovisual, bem como a forma que o próprio autor se apaixonava pelos personagens, traduzindo isso em genuínas obras de arte, que convidam o espectador a adentrar no microcosmo baiano e perder-se entre noites de jogos, saveiros e gritos de prostitutas no areial.