Após tensões raciais em Festival, cineasta faz defesa expressa de"Vazante"
Daniela Thomas escreveu um longo texto para a Revista Piauí explicando o seu ponto de vista depois de debate, em Brasília, envolvendo seu filme
Por iG São Paulo |
Apesar de ter lançado neste ano o seu primeiro filme solo, "Vazante", a situação não está fácil para a cineasta carioca Daniela Thomas . O longa foi um dos concorrentes no 50º Festival de Brasília, no início do último mês de setembro, e, na noite seguinte à sua exibição, foi alvo de duras críticas, inclusive à diretora e toda a sua equipe de produção durante um debate com outros nomes do cinema brasileiro.
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"Vazante" retrata a questão da relação entre escravos e as famílias brancas fazendeiras no século XIX. Porém, para seus críticos, ele não dá a importância suficiente aos negros e os torna subjetivos em toda a trama, fazendo com que o protagonismo do filme esteja em personagens brancos, como Beatriz, uma menina de 12 anos vivida pela atriz Luana Nastas.
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Na ocasião, enquanto enfrentava o fogo cruzado causado pelas críticas recebidas, Daniela Thomas chegou a dizer que não deveria realmente ter feito o filme, que foi orçado em R$ 6 milhões, e acreditava que ele era anacrônico, ou seja, não representava realmente os fatos da época a que se refere. Apesar disso, em uma clara retratação, a cineasta publicou nessa quarta-feira, na Revista Piauí , um texto em que diz ter se arrependido de tal declaração.
"Escrevo esse texto como um mea-culpa por ter cometido perjúrio na frente dos que tanto admiro. Me desculpem, meus companheiros de debate, me desculpem todas aquelas figuras extraordinárias que tive a honra e o privilégio de encontrar e de aprender com elas, na longa viagem para realizar Vazante", escreveu Daniela se referindo à equipe que também participou da produção do longa.
A cineasta ainda afirma amar o filme e que com certeza o faria novamente. Apesar disso, ela diz ter colocado nas telas a sua visão de mundo e que, em nenhum momento, quis defender qualquer tipo de militância, mas sim, contar histórias que ouvira de seus antepassados, enfatizando a questão da miscigenação violenta que formou a nossa sociedade. "Eu realmente não fiz o filme que seria um retrato do que o movimento negro quer ver representado na grande tela, hoje", pontua.
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Daniela diz que espera que "Vazante" seja visto como uma imersão profunda na história brasileira e que tenha a atuação de seus artistas, que deram o melhor de si, valorizada. Ela, então, finaliza afirmando que não aceitará qualquer tipo de censura ou linchamento ao seu trabalho, mas está aberta ao diálogo.