Após a morte de Pablo Escobar ( Wagner Moura ) e com mais duas temporadas confirmadas, ficou claro que “Narcos” precisaria se reinventar no terceiro ano. O foco já fora ensejado no fim do segundo. Com a derrocada do barão de Medellín, as atenções se voltariam para Cali. Diferentemente de Escobar, os irmãos Rodrigues não são afeitos ao estardalhaço e preferem operar nas sombras.
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O terceiro ano de “ Narcos ”, cujos seis primeiros episódios já foram conferidos pelo iG, começa com Javier Peña ( Pedro Pascal ) promovido e responsável pela investigação do DEA (agência americana de combate ao tráfico de entorpecentes) sobre o cartel de Cali. Javi, para todos os efeitos um sujeito passional demais para sua linha de trabalho, logo percebe que “caiu para cima”, como tão bem definiu o Capitão Nascimento em “ Tropa de Elite 2” e que pouco pode contribuir para o desmantelamento do cartel de Cali.
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Remoendo sua culpa pelo vínculo com o grupo de assassinos Los Pepes para derrotar Escobar, Javi parece conformado em assumir o papel de “herói” que a CIA, um player cada vez mais visível na série, lhe outorgou. “Você é emocional demais para este trabalho. Nós já perdemos a guerra contra as drogas . Quem está levando isso para o lado pessoal, está encarando do jeito errado”, exorta a Javi o agente da CIA Stechner (Eric Lange).
Os dois, mais a figura do embaixador americano, são os principais remanescentes do elenco da segunda temporada. Adicionados, é claro, dos quatro principais vértices do cartel de Cali. Pacho (Alberto Ammann), que orgulha-se de ser um homossexual que se afirmou em um mundo extremamente machista, Chepe (Arthuro Castro), que comanda a operação em Nova York, Miguel Rodrigues (Francisco Denis), paranoico e impulsivo, e Gilberto Rodrigues (Damian Alcazar), a influência estabilizadora no controle do cartel. Gilberto não poderia ser mais distinto de Pablo na administração dos negócios. Apesar de evitar as chacinas e a promoção do caos, os homens de Cali, quando necessário, se mostram tão cruéis e implacáveis como Escobar. Com o acréscimo de serem mais organizados.
Ritmo acelerado
Embora Javi assuma o papel de narrador, herdado do agente Murphy ( Boyd Holbrook ), que também saiu de cena, ele não necessariamente assume o protagonismo da temporada. A figura que tem o conflito mais adensado é Jorge Salcedo (Matias Varela), chefe de segurança dos irmãos Rodrigues que sofre pressão da mulher para abandonar seu trabalho, mas não consegue se desvencilhar dos patrões. O que é, a princípio, reflexo de sua eficiência ganha contornos dramáticos à medida que Cali passa a protagonizar as atenções do DEA na Colômbia. Jorge se vê cada vez mais afundado em uma teia de conspirações e violência.
Instigado por seu profundo senso de justiça, algo um tanto torto no xadrez político de uma Colômbia cansada da violência alarmante e com um novo presidente, Javi resolve peitar as articulações políticas – e os interesses da CIA – e lidera uma ofensiva contra o Cartel de Cali obtendo uma brecha para futuros resultados promissores; ou uma catástrofe potencialmente incontornável.
O ritmo do 3º ano é acelerado. O espectador já está acostumado à estrutura de “Narcos” e os produtores Eric Newman e Chris Brancato não perdem tempo com apresentações. A ferocidade dos homens de Cali surge no compasso que a série já projeta seu quaro ano, esticando a ação para o México, mais precisamente Juarez, onde o tráfico se proliferou com a mesma virulência verificada na Colômbia dos anos 80.
Saldo positivo
A estrutura segue a mesma, mas a narrativa é mais fragmentada; o que favorece a mobilidade da trama. Há mais personagens em cena e focos de interesse. Os dois novos agentes da DEA, que se reportam diretamente a Javi, não têm o tempo de cena, ou o charme, da dupla Javi e Murphy nos dois primeiros anos e essa é uma escolha consciente da série.
A missão da produção da Netflix não era fácil. Afinal, Pablo Escobar era o grande polo de atração de “ Narcos ”. A série, no entanto, conseguiu criar quatro figuras díspares que juntas ostentam magnetismo similar ao do personagem de Moura, introduzir novos personagens capazes de carregar o interesse humano e abarcar conflitos suficientemente complexos para vascularizar o drama.
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