As ondas que chegam com a maré na areia da praia, muitas vezes não demonstram a força que tiveram lá atrás, enquanto engoliam a si mesmas. Quem ouve “ A Gente Vive no Agora ” (Deck/Natura Musical), o novo álbum de Paulo Miklos, que será lançado nesta sexta-feira (11), acaba sentindo os pés sendo molhados por essa maré suave e quente, mas que tem por trás diversos tsunamis que se dividem entre consequências de processos criativos fervorosos dos artistas envolvidos e um passado turbulento – não tão distante - que Miklos teve que enfrentar em sua vida pessoal. Com um sorriso no rosto de satisfação, o cantor recebeu diversos jornalistas – incluindo a equipe de reportagem do iG - para um bate-papo sobre o novo álbum, que será lançado em vinil, CD e também nas plataformas digitais.

Paulo Miklos lança nesta sexta-feira (11) o seu novo trabalho,
Bruno Trindade
Paulo Miklos lança nesta sexta-feira (11) o seu novo trabalho, "A Gente Mora no Agora"


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“Ficou uma coisa assim ‘mas pera aí, esse é o seu primeiro disco?’ Não, esse é o meu terceiro disco, mas é como se fosse o primeiro.  É uma diferença muito grande agora porque é o primeiro disco de uma carreira individual”, comenta Paulo Miklos , que deixou em julho de 2016 os Titãs. “Dá um frio na barriga. É um momento muito importante, tem muita ansiedade minha em relação à como que as pessoas vão receber esse disco e o que eu posso dizer é que esse trabalho me redefine como artista”, completa o cantor.

Conectado com o agora, como o próprio título induz, Miklos fez um caldeirão de brasilidades em seu álbum, convidando artistas de diversas gerações da música brasileira para ajuda-lo a compor as canções que integram o disco. Os nomes vão desde Erasmo Carlos, cujo trabalho antecede a carreira artística do ex-Titãs, até artistas das novas gerações, como Emicida, Russo Passapusso, vocalista do Baiana System e Mallu Magalhães. “Pra mim a música tem esse sentido, do encontro com as pessoas, então eu meio que fui buscar me redefinir um pouco aquilo que eu tenho de Erasmo, que eu tenho de Lurdez da Luz, de Emicida”, comenta.

A miscelânea também reflete na sonoridade do disco, que se afasta do rock de Bichos Escrotos e flerta com o samba, frevo e o melódico do MPB. “Eu acho que nesse disco eu quis deliberadamente ter uma identidade brasileira”, revela. “Eu revisitei a minha formação, porque a minha formação é a música brasileira. Isso transpareceu no meu violão, no momento que eu sentei para começar a compor. Eu acho que essa geleia geral, como diriam os tropicalistas, estava aqui procurando pontos para deixar essa coisa concretizada, essas influencias todas”, comenta o cantor. 

Novos jeitos de fazer a música

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Reprodução
Capa de "A Gente Mora no Agora"

Não só as vozes e composições dos artistas são contemporâneas, mas também o modo de se fazer música veio de um jeito inovador para este novo trabalho com a ajuda das ferramentas digitais. “Eu nunca fiz músicas assim!” comenta. “Com Erasmo Carlos fizemos música por e-mail. Já com o Emicida e com a Lurdez da Luz, fizemos por Whatsapp. Eles me mandaram trechos cantarolando a música e eu fui super fiel em pegar aquilo que eles estavam cantando”, completa o artista.

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A facilidade de se conectar pelas redes sociais foi tanta que Paulo Miklos e Russo Passapusso trabalharam à distância, sem nunca terem se visto pessoalmente, para a composição da canção Vigia . “Antes de fazermos a música, eu já admirava o trabalho dele. Então fiz o convite enviei a música para ele. Ele compôs super entusiasmado, me mandou o resultado e foi incrível, fiquei na maior felicidade”, relembra. “Mas só fui conhecer ele três meses depois pessoalmente e falei ‘Pô russo, meu parceiro! Maior prazer, que música nós fizemos!’”, conta aos risos.

Conexões marcantes

Entre uma canção e outra, um pouco de Paulo Miklos vai se revelando como se o disco fosse, na realidade, um trabalho autobiográfico. Celebrando a vida, as músicas também remontam momentos de trevas que o cantor enfrentou, como a morte de seus pais e de sua esposa Rachel Salém, com quem era casado há 30 anos, que aconteceram em uma fração de menos de três anos. “Eu escrevi muita coisa triste nesse período também. Acho que no momento do disco então já era um momento para depois dessas coisas, eu queria tratar desse assunto, mas em um mundo com o coração apaziguado”, comenta.

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Divulgação

Nando Reis e Paulo Miklos

Seu ex-colega de banda, Nando Reis, teve o encargo de recuperar algumas dessas memórias doloridas para transformar na canção Vou te encontrar . “Foi muito emocionante porque o Nando ele escreveu a música para mim, pensando em mim, na minha história. É impressionante a canção, um talento que só o Nando tem de colocar essa emoção na canção, de um jeito poético, tão delicado e que todo mundo entende, uma coisa assim que arrebata a gente”, opina.  

Não é à toa, portanto, que Paulo Miklos define o disco como a sua atual identidade. “Pela importância desse momento acho que ele é como se fosse um RG meu. É tão importante para mim esse disco quanto tirar um documento, sem o qual a gente não vai a lugar algum e eu pretendo ir a todos os lugares com o disco”, comenta.

Projetos

Com essa vontade de caminhar, as andanças de Miklos já estão agendadas com os shows de lançamento do disco pelo Brasil – concertos que, se depender dele, podem chegar até outros países. “O que eu fiz foi um álbum no sentido clássico. Uma obra completa, ela tem começo meio e fim, tem um grupo de canções que contam uma história que registram um momento. São 13 canções que dão conta de um universo de coisas que eu quis dizer nesse momento”, comenta.

Mas a vitalidade de Paulo Miklos não se encerra apenas na música. O cantor também já adiantou que em outubro poderá ser visto nas telonas dos cinemas brasileiros. “É um filme policial, de suspense, que se passa em torno de Brasília, vai ser bastante movimentado”, comenta entusiasmado. “Eu adoro e eu gosto de fazer as coisas em paralelo tudo ao mesmo tempo. Meu agora é isso”, finaliza.

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