“Eu achei o máximo. O Lima Barreto é um autor ainda a ser descoberto, foi um baita cronista”, diz o cronista Guilherme Tauil e também assistente de curadoria da Flip. Essa frase foi o que deu início a uma conversa sobre a Festa Literária Internacional de Paraty que acontece desde o ano de 2004. Em sua 15ª edição, com Lima Barreto selecionado para ocupar o posto de homenageado de 2017, a comemoração, como de costume, oferece os palcos, os estandes e as rodas de conversa como um vigoroso encontro de ideias que tem uma em especial como centro: a de que a literatura está e sempre esteve mais do que viva – e que isso deve ser valorizado.
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Focando em preservar, perpetuar, difundir e valorizar a língua portuguesa e a literatura do Brasil e agora em 2017 homenageando Lima Barreto é que o evento, que começará na última quarta-feira de julho, dia 26, e durará 5 dias, indo até domingo, dia 30, acontecerá às margens do rio Perequê-Açu, o principal da região carioca e litorânea de Paraty . O ambiente, pra lá de bonito, parece ser ideal para fazer do mergulho nesse universo literário em primeiro lugar, mas acima de tudo artístico, uma experiência ainda mais prazerosa e memorável.
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A escolha
A cada 365 dias passados, a Flip faz a mesma coisa: seleciona um nome entre os muitos que compõem o time de grandes autores brasileiros para prestar uma homenagem. Por meio de uma festa cheia de reflexão, arte, e cultura e a partir da mistura desses três fatores, além do ingrediente especial e básico da literatura , é que a Flip escolhe, ano a ano, nomes fiéis e apropriados para representar e exaltar a essência literária brasileira.
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Para 2017 , foi concluído que o escritor da vez seria o Lima Barreto . Ainda que se espere que esse nome esteja entre os principais nomes representativos da literatura clássica do Brasil, nenhuma das escolhas da Flip têm um motivo tão simples. Nesse sentido é que Joselia Aguiar, curadora da Flip 2017 e jornalista da área de livros revelou ao iG Gente que não foi à toa que o escritor carioca foi escolhido para essa edição. “A Flip, desde quando começou, tem um autor escolhido para ser homenageado e já havia uma expectativa do público para escolha do Lima Barreto há algum tempo”, conta.
Além de falar da demanda de interesse do público, Joselia ainda revelou que não foi apenas isso que contribuiu para a escolha. “O Lima Barreto demorou para ser reconhecido na história da literatura como um grande autor, até pelas próprias condições de vida em que ele se encontrava nesse momento. Tem um longo processo pra obra dele ter ficado conhecida”, explica. “Mesmo com a Flip , não são todos os livros dele que estão em circulação. As pessoas só sabem dos mais conhecidos, então ele tá um pouco a margem”, termina. De acordo com Joselia, o real sentido da Flip é exaltar não só a literatura em si, mas o próprio autor homenageado, dando mais visibilidade ao seu trabalho e dando, também, a oportunidade ao público de conhecer mais a fundo os integrantes da turma de grandes literários do Brasil . “É uma festa literária que mobiliza a imprensa e desperta interesse. Quando a gente escolhe um autor, a gente sabe que estamos contribuindo para colocar o nome dele em evidência”, relata. “É sempre como podemos, a partir desse autor, atualizar a obra dele e a forma com a qual ela nos ajuda também a debater questões atuais da cultura e literatura”, completa.
Dentro da mesma receptividade positiva em relação ao nome de Lima Barreto para escolhido como homenageado de 2017 , o cronista e assistente de curadoria da Flip , Guilherme Tauil, também vibrou empolgado com a escolha feita para a atual edição do evento, além de ter opinado sobre o caminho que levou a ela. “Ele tem crônicas que foram recentemente descobertas pelo Felipe Botelho. É autor ainda a ser melhor descoberto e um grande reforço para os cronistas”, diz. Falando ainda sobre os homenageados ano a ano, quando questionado sobre qual autor gostaria de ver na grande festa literária, o cronista mencionou alguém que admira e até se identifica. “Rubem Braga. Porque ele é tão grande quanto qualquer um dos outros que já foram homenageados. Acho que tá faltando ele”, opina.
Lima Barreto
Afonso Henriques de Lima Barreto é natural do Rio de Janeiro e nascido no dia 13 de maio de 1881. Ao seis anos, o rapazinho quem nem sonhava ser escritor se viu a mercê dos cuidados do pai, o tipógrafo João Henrique, já que teve de lidar com a perda da mãe, escrava liberta e professora. No entanto, mesmo com a esperança de não ficar completamente sozinho por conta da morte da mãe e ainda ter o pai, o autor precisou enfrentar outra dura realidade: a que veio após o diagnóstico de “neurastênico” dado a João, que teve de ficar isolado para o resto da vida.
Apesar das adversidades, Lima Barreto seguiu em frente e começou a contribuir para a escrita brasileira em 1905, no Correio da Manhã, periódico que o inspirou a escrever o livro “Recordações do Escrivão Isaías Caminha”, publicado quatro anos depois. Criticado pela imprensa após a publicação da obra, o autor foi afastado do diário de notícias, mas sua trajetória ainda assim guardou trabalhos de peso e renome que até hoje são referência na literatura brasileira. Lima Barreto morre no dia 1º de novembro de 1922, aos 41 anos.
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As principais obras publicadas pelo escritor Lima Barreto em vida que podem ser destacadas são os livros “Triste fim de Policarpo Quaresma”, de 1911, e “Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá”, de 1919.