Os fãs de um bom romance policial e da história do Brasil têm em "A Hipótese Humana" , o novo livro de Alberto Mussa , um prato cheio. A obra é o quarto volume do "Compêndio Mítico do Rio de Janeiro", série de romances policiais ambientados em cinco séculos diferentes.

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O escritor Alberto Mussa lançou o livro
Divulgação/Paula Johas
O escritor Alberto Mussa lançou o livro "A Hipotése Humana", o quarto de sua série sobre o Rio de Janeiro

"A Hipótese Humana" se passa em 1854, no século 19, e conta a história do assassinato de uma donzela dentro da chácara de seu pai, na região do Catumbi, na capital fluminense. "Fui me preparando ao longo desses anos, estudei a história do Rio de Janeiro, estudei mapas, história da saúde, dos transportes. Tem obras muito específicas sobre esses temas", explicou Alberto Mussa em entrevista ao iG .

Antes de lançar este título, o autor já tinha publicado histórias ambientadas nos séculos 16, 17 e 20. "A essa altura do campeonato, estou com uma certa experiência, o trabalho é de compor o cenário", disse o escritor.

Para o novo livro, o desafio de Mussa foi encontrar o cenário ideal. O crime acontece em uma chácara, mas a propriedade tinha que ser na região urbana da então capital do Império. "Tive que procurar dentro da cidade do Rio uma área rural. Poderia escolher outras áreas, mas escolhi o Catumbi porque nasci ali perto", confessou.

Ali na região, um dos lugares-chave para o desenvolvimento da história é o Largo da Segunda-Feira. O largo é um dos pontos de um círculo de cinco pontas, como o autor descreve no livro. Na trama, ele cria uma nova mitologia em torno do nome da região. "Lia que o Largo da Segunda-Feira tinha aquele nome porque uma pessoa tinha morrido ali numa segunda-feira. Eu Não achei verossímil, e como segunda-feira é o dia dos mortos, mudei essa lenda", explicou. No livro, o largo tem esse nome porque as pessoas acendiam velas na cruz que estava ali para rezar pelos mortos.

Capoeiras

De volta à trama, um dos principais personagens é Tito Gualberto, o detetive que investiga a morte de Domitila. Ele é parte da "polícia secreta", uma ala da polícia bastante explorada por Mussa no livro. O detetive também é capoeira, personagens que têm um peso muito grande na história de "A Hipótese Humana". "Os capoeiras eram uma presença absurda na sociedade, e eles eram anarquistas", lembrou. "Naquela época, muitos capoeiras eram presos, havia vários crimes atribuidos a eles, mas eles também exerciam o papel de agentes secretos da polícia e eram pagos por serviços secretos", explicou Mussa. Os serviços dos capoeiras tomavam cerca de um terço do orçamento da polícia da Corte.

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Divulgação

Capa de "A Hipótese Humana"

Para o escritor, os capoeiras metiam medo na sociedade carioca no século 19. "Hoje, as pessoas têm medo dos traficantes. Naquela época, tinham dos capoeiras", comparou. "Coloquei-os no centro da trama para fazer um retrato mais próximo à realidade", disse.

Esta, aliás, não é a primeira vez que Mussa coloca personagens historicamente marginalizados no centro de seus romances. "Toda essa série tem o perfil de tentar colocar no foco esses personagens afastados da literatura", explicou o escritor. Seus livros anteriores têm prostitutas e malandros como protagonistas e sua próxima obra, ambientada no século 18, dará um grande foco aos ciganos do Rio de Janeiro.

O próximo livro, ainda sendo desenvolvido, será o último do "Compêndio Mítico do Rio de Janeiro", a série planejada por Mussa desde 1998. O primeiro volume foi "O Trono da Rainha de Jinga", lançado em 1999. "Achava que nunca escreveria romance, não tinha essa pretensão, gostava muito de contos", lembrou o autor. Mas um prêmio da Biblioteca Nacional fez com que um conto virasse seu primeiro romance e desse o pontapé inicial para a série. Depois de ter parado o projeto, ele recomeçou em 2011. "Resolvi recomeçar e terminar", garantiu.

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FLIP

Lançado há cerca de dois meses, "A Hipótese Humana" tem ido bem nas vendas e levará Alberto Mussa de volta à FLIP. Ele estará na Feira Literária de Parati em uma mesa com o escritor islandês Sjón para discutir sobre mitologias, narrativas antigas e surrealismo. "Já participei da FLIP com um escritor turco, o Orhan Pamuk, que logo depois ganhou Nobel de Literatura. Ou seja, o Sjón também vai ganhar o Nobel", brincou Mussa. 

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