Ao menos sete cineastas manifestaram o desejo de que suas produções fossem retiradas do festival Cine Pernambuco 2017 nessa quarta-feira (10). O ato seria uma forma de protesto após a admissão de filmes alinhados ao pensamento político de direita.
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Os cineastas se referem à inclusão de " O Jardim das Aflições " e de " Real -O Plano por Trás da História " na programação do Cine Pernambuco . De acordco com os diretores, tais filmes pregam um discurso partidário alinhado à direita.
"O Jardim das Aflições" é um documentário focado na figura de Olavo de Carvalho, um filósofo conservador, e dirigido pelo pernambucano Josias Teófilo. Já "Real -O Plano por Trás da História" é a dramatização da elaboração do Plano Real pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, sob a direção de Rodrigo Bittencourt.
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Por conta desse protesto, os representantes das setes produções pediram que seus longas fossem retirados do festival. Assim, os seis curtas e um longa que devem sair de cartaz do Cine Pernambuco são: " Abissal " (Arthur Leite), " A Menina Só " (Cíntia Domit Bittar), " Baunilha " (Leo Tabosa), " Iluminadas " (Gabi Saegesser), " Não me Prometa Nada " (Eva Randolph) e " Vênus – Filó a Fadinha Lésbica " (Sávio Leite), além do longa " O silêncio da Noite é que tem sido Testemunha das Minhas Amarguras ", de Petrônio Lorena.
A decisão foi divulgada em uma carta enviada ao jornal Diário do Nordeste , em que os representantes afirmam que não compactuam com a postura adotada pela curadoria do Cine PE, pois ela “favorece um discurso partidário alinhado à direita conservadora e a grupos que compactuaram e financiaram o golpe ao estado democrático de direito ocorrido no Brasil em 2016". "Para nós, isso deixa claro o posicionamento desta edição, ao qual não queremos estar atrelados", diz o texto.
A carta termina com o reconhecimento de que este o Cine PE é um festival de cinema importante para a cultura nacional, contudo, os cineastas entendem que não podem endossar a escolha de filmes de cunho político. "Reconhecemos a importância do Cine PE Festival Audiovisual, do qual muitos de nós já participaram em edições anteriores. Esperamos poder participar de edições futuras e mais conscientes, condizentes com sua grandeza histórica e relevância para a formação de público do cinema brasileiro", afirma o documento.
Outra polêmica gerada após a divulgação dos participantes da mostra feita pelos diretores é o fato de que duas produções que concorrem à premiações não são inéditas, já tendo sido distribuídas comercialmente antes do festival - o que infringiria as regras para inscrição de trabalhos.
Sobre essas polêmicas, a organização da mostra emitiu uma nota oficial, onde esclareceu que, em 20 anos de festival, "jamais houve quaisquer formas de politização das programações", contudo, a mostra tem por obrigação defender o direito à liberdade de expressão. Apesar disso, o curadoria irá retirar as obras solicitadas as mostra, e elas serão substituídas por outras, que foram inscritas também de forma espontânea.
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Por fim, essas modificações na grade de programação geram um ônus inesperado à curadoria, que demandará mais tempo para reorganizar as sessões de exibição. Portanto, o festival fica postergado, e uma nova data de início será divulgada em breve. O comunicado termina enaltecendo a capacidade de decisão da Curadoria do festival, e que esta sempre prezou pela diversidade de diálogos na mostra.
Leia a nota oficial do festival na íntegra
Cine PE 2017
Nota Oficial
A Direção do Cine PE, em função das manifestações contrárias à programação do evento, que proporcionaram a retirada de alguns dos filmes selecionados, dirige-se ao público em geral, para esclarecer os pontos e comunicar as seguintes decisões:
1. Que ao longo de 20 anos de realizações, que tornaram o Festival uma das referências nacionais do setor, todas suas programações, indistintamente, foram pautadas pelo respeito aos valores básicos da liberdade, quais sejam o direito de expressão, o respeito à pluralidade e o combate ao instrumento da censura;
2. Que, por isso mesmo, jamais houve quaisquer formas de politização das programações, pois com uma simples pesquisa sobre as edições passadas, facilmente será revelado que o Festival sempre se pautou em mostrar tendências, linguagens, estéticas e ideologias da forma mais coerente possível, por entender e evidenciar que o conceito da diversidade dever ser de todos e para todos;
3. Que apesar dessas manifestações se colocarem em tempo impróprio da pré-produção do evento, posto que a surpresa por essa represália, evidentemente, proporcionou um ônus fora do planejamento, torna-se cabível, pelo verdadeiro princípio democrático, respeitar-se as decisões tomadas;
4. Que essa situação implica na substituição dos títulos por outros que também fizeram suas inscrições de modo espontâneo, que estejam em ordem classificatória da Curadoria e que ainda se revelem dispostos a entenderem os valores que são a essência de quem faz arte e cultura - a liberdade de produzir e o sentimento de consideração pelas obras realizadas, na maioria das vezes, com enormes esforços;
5. Que essa adequação da situação à nova grade de programação, por razões técnicas e burocráticas, demanda por um tempo superior ao prazo do período de realização agendado, de tal modo que, pelo dever da prudência que sempre inspirou o Festival, será necessária postergar a execução do evento, cuja nova data será divulgada oportunamente;
6. Que, por fim, destacamos e enaltecemos o papel da Curadoria, a quem foi confiada a árdua missão do processo seletivo dos filmes, justo por ela reconhecer a importância do respeito à pluralidade, desde a criação à difusão, enquanto princípio basilar a ser perseguido, irrevogável e indistintamente, quaisquer que sejam os produtos artístico-culturais.
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O festival Cine Pernambuco 2017 acontece entre os dias 23 e 29 de maio, em Recife.