Prestes a completar 80 anos, Ridley Scott lança “Alien: Covenant” , o terceiro filme da franquia dirigido por ele. Com “Covenant”, a série passa a ter seis filmes oficiais – descontados os crossovers com “Predador”. Muita gente defende que o britânico já deveria ter se aposentado. Bobagem. Há dois anos esteve na shotlist do Oscar de direção por “Perdido em Marte”, uma ficção científica inteligente, incomum e muitíssimo bem humorada. Não foi indicado, mas o filme recebeu sete indicações ao maior prêmio do cinema, inclusive a melhor produção do ano.
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Em 2017 ele volta à franquia que ajudou a consolidar a ficção científica como gênero no cinema. “Alien” foi um acontecimento em 1979. Dois anos depois de “Star Wars”, a ficção científica voltava a mesmerizar no cinema. Três anos depois, Ridley Scott faria outro filme profundamente influente, “ Blade Runner ”, que curiosamente ganha uma sequência também em 2017 – e com Scott como produtor.
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“Blade Runner” não produziu o mesmo efeito de “O Oitavo Passageiro”, mas ganhou fama e prestígio com o tempo. Ambos os filmes são os mais cults da filmografia de Scott, que dirigiu perolas como “Chuva Negra” (1989), “A Lenda” (1985) e “Thelma & Luise” (1991), pelo qual recebeu sua primeira indicação ao Oscar de diretor. O filme estrelado por Susan Sarandon e Geena Davis era um libelo feminista em uma época que filmes protagonizados por mulheres e por conflitos essencialmente femininos eram escassos. O filme é tido como um dos mais importantes da história do cinema em muito por esse aspecto vanguardista.
Maturidade criativa
Diretor de profunda reverberação visual, Scott optou por retornar à ficção científica nesse estágio da vida. Também tomou gosto pela produção. Está produzindo muita coisa – inclusive para a televisão. De “ Prometheus ” (2012) para cá, seus últimos filmes foram tomados por grandes divagações existenciais. Mesmo o épico “ Êxodo: Deuses e Reis ” (2014) flagra um Moisés esquizofrênico. O thriller “O Conselheiro do Crime” mostra um advogado que se acha esperto o suficiente para trafegar incólume pelo mundo do crime e “ Alien: Covenant ” expurga a violência da criação humana e mira nosso legado enquanto espécie. Há um diálogo muito interessante no filme. A principal personagem feminina pergunta para um sintético se quando chegarem ao novo planeta para o qual rumam se serão felizes. “Eu acho que se formos gentis será um mundo gentil”. É um Ridley Scott bem longe da senilidade e extremamente analítico do mundo que habita. Em “Êxodo”, por exemplo, o Moisés de Christian Bale se inquieta de liderar os judeus em fuga do Egito e teme pelo futuro daquele povo.
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Ainda que não tenha a singularidade criativa de Woody Allen ou Manoel de Oliveira, cineastas prolíferos nessa fase da vida, Ridley Scott injeta salubridade em seu cinema. “Alien: Covenant” pode ser uma opção confortável, mas o cineasta inglês não o aborda com preguiça. É um filme tão conceitual quanto o primeiro. Ainda que em outro contexto e talvez apenas a História o ilumine com precisão. Se “Covenant” perde força por vir quase 40 anos depois de “ O Oitavo Passageiro ”, se beneficia em larga escala por ter um diretor experiente e angustiado como Scott trabalhando o material que consagrou lá atrás.