Desconfiança e expectativa cultural marcam inauguração da Japan House São Paulo
Primeira de três unidades, Japan House São Paulo terá vasta programação cultural e promete refletir as vozes da cultura contemporânea do Japão; questões políticas marcaram lançamento do espaço na Av. Paulista
A Avenida Paulista sempre foi um grande símbolo para São Paulo, porém, agora, o cartão postal da cidade está se consolidando como o principal polo cultural com diversos espaços dedicados ao segmento. Como parte de uma inciativa do governo japonês, o local abriga a primeira Japan House, um centro construído exclusivamente para difundir e explorar o melhor lado da cultura nipônica. O momento de tensão política no Brasil deu o tom conflituoso e áspero do debate entre jornalistas e as personalidades por trás da instituição no seu lançamento nesta terça-feira (2).
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Casa de cultura
O Japão já deixou de ter a relevância cultural e econômica de anos atrás, perdendo espaço para a China, gigante que começou a engolir o mercado que, antes, era domínio japonês. Frente a isso, o governo nipônico, como forma de estreitar suas relações com o ocidente, investiu pesado na criação de três polos de contato com o ocidente: a primeira Japan House foi inaugurada em São Paulo, e as próximas, em Londres e Los Angeles, devem abrir as portas até o final do ano. Com uma verba inicial de aproximadamente R$ 100 bilhões, o espaço projetado pelo arquiteto Kengo Kuma terá mostras de artes, música, moda, design, arquitetura, gastronomia e tem como foco central expor o “Japão do Século 21” para o Brasil – ou, nas palavras de Marcello Dantas, diretor de programação, a Japan House deve ser uma “ferramenta de comunicação” entre os dois países.
Ponte econômica
Durante a coletiva para imprensa com representantes do governo japonês e da instituição, ficou claro que, além de um espaço para a cultura nipônica florescer no meio do Brasil, há, também, uma motivação econômica por trás da fundação do espaço. Takahiro Nakamae, Cônsul Geral do Japão em São Paulo, comentou que a Japan House “não é só uma galeria de arte, um centro cultural. É uma plataforma para negócios”. A expectativa é de que o polo atraia atenção de investidores e se torne relevante no âmbito de mercado, oferecendo um espaço para o intercâmbio de investimentos entre os países.
Durante a abertura do espaço no último domingo (30) estiveram presentes figuras como o presidente da república, Michel Temer, governador de São Paulo Geraldo Alckmin e o prefeito da cidade, João Dória. A participação de figuras do alto escalão evidenciou a questão política por trás do espaço de cultural. Quem vai pagar por tudo isso? Quem está financiando o projeto? Na coletiva predominaram os questionamentos dessa natureza, mostrando que, se por um lado a arte é uma “ponte” para a economia, a desconfiança com os modelos que sustentam esse tipo de negócio é latente. Jornalistas, inclusive japoneses, foram incisivos ao perguntar de onde viria o capital para manter o negócio de pé.
A “arte pela arte” deixou de ser – se é que algum dia foi – um modelo sustentável economicamente. Angela Hirata, presidente da casa, afirmou que seria impossível manter o negócio vivo somente como espaço cultural. “Não dá para viver de cultura [...] então trouxemos o business”, falou. Apesar de ser incialmente bancada pelo governo japonês, a Japan House, segundo ela, terá investimentos privados de empresas para se manter e estuda um sistema de “membership” para quem quiser injetar dinheiro no local. Angela frisou que o espaço prima pelo desenvolvimento de um modelo “economicamente sustentável” para ter autonomia de funcionamento.
A presença de um membro do Ministério de Relações Exteriores do Japão, Naoto Nakahara, deixou claro que a casa é um ponto fundamental para reestruturação das relações entre Brasil e Japão – ele chegou a admitir que, como funcionário público do governo, não podia opinar sobre “arte e cultura”, mas que a criação do espaço era crucial para esse diálogo.
Casa para arte japonesa
Apesar do embate social que permeou seu lançamento, o espaço, para os entusiastas da cultura oriental , promete uma programação diferenciada de museus e centros culturais convencionais. Além de contar – e recontar – uma história de uma nação tão distante geograficamente, mas tão próxima em outros aspectos, a Japan House vai olhar para frente. A primeira mostra do local, que terá início no dia 6 de maio, terá moldes bem tradicionais: “Bambu – Histórias de um Japão” mostra como uma única planta pode fundamentar as bases de uma sociedade. Em outro extremo cultural também contemplado pelo programa da instituição, um dos nomes cotados para expor na casa é o artista Hiroshi Sugihara com pequenas esculturas feitas em impressoras tridimensionais.
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Mesmo antes de estar aberta oficialmente para o público, a Japan House mostrou sua força no cenário cultural: seu estande na feira SP-Arte foi um dos mais aclamados, em parceria com o artista Makoto Azuma promoveram a çaão “Flower Messenger” pela cidade e, marcando sua inauguração, os músicos Jun Miyake e Ryuichi Sakamoto irão se apresentar no Auditório do Ibirapuera. A instituição promete que, ao longo de 2017, serão realizadas pelo menos oito mostras culturais com nomes relevantes desse universo, além de palestras e workshops com artistas e outras personalidades que traduzam a essência do Japão contemporâneo.
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A abertura da Japan House , que fica no número 52 da Avenida Paulista, acontece no dia 6 de maio. A primeira exposição da casa é “Bambu – Histórias de um Japão”, que ficará aberta ao público até dia 9 de junho. De acordo com Marcello Dantas, o bambu, elemento “silencioso”, traduz a cultura japonesa e é um ponto de ligação entre Brasil e Japão, por ser uma planta abundante em ambos os países. Com opções de entretenimento para todos os estilos, a casa também terá as lojas de produtos nipônicos Furoshiki e Japan Madoh, além de contemplar a gastronomia com o Imi Café e o restaurante Junji Sakamoto, com menu assinado pelo chef Jun Sakamoto. A casa fica aberta de terça à domingo.