O fenômeno das grandes exposições de arte em São Paulo

Entre 2014 e 2016 várias instituições quebraram os próprios recordes de público com grandes exposições, mas, o que levou a esses resultados?

Deixados de lado pela cidade durante algum tempo, nos últimos três anos os museus de São Paulo ganharam vida nova e recuperaram o fôlego que, até então, parecia estar se esgotando. Várias instituições culturais bateram recordes de visitação em um período curto de tempo – entre 2014 e 2016, o Museu da Imagem e do Som (MIS), o Instituto Tomie Ohtake, a Pinacoteca do Estado de São Paulo e o MASP quebraram suas próprias marcas de público e trouxeram inúmeras exposições de arte que entraram para o ranking das mais vistas de todo o mundo, de acordo com o britânico The Art Newspaper – que, em 2014, fez a previsão apocalíptica de que o mercado de exposições no Brasil estava à beira de um colapso.

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Uma das exposições de arte mais bem sucedida dos últimos tempo foi a da Frida Kahlo no Instituto Tomie Ohtake, em 2016
Foto: Reprodução
Uma das exposições de arte mais bem sucedida dos últimos tempo foi a da Frida Kahlo no Instituto Tomie Ohtake, em 2016


Pioneiras

Em 2014, dois institutos “inauguraram” o que, em pouco tempo, se tornaria uma tendência entre as grandes exposições de arte na capital paulista: o MIS trouxe “ David Bowie ” e chegou a marca de 80 mil visitantes, maior número que o museu já havia registrado. André Sturm , que é hoje secretário municipal de cultural, porém na época era diretor do MIS, afirmou que, com a mostra do artista inglês, eles criaram uma nova tendência. “As exposições fizeram sucesso porque a gente criou um modelo de exposição, que influenciou outros museus, que é imersiva”, falou em entrevista ao  iG .

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Foto: Verônica Maluf/iG São Paulo
A exposição imersiva ''Yayoi Kusama: Obsessão Infinita'' teve mais de meio milhão de visitas

Seguindo essa primeira onda, o Instituto Tomie Ohtake apresentou “ Yayoi Kusama: Obsessão Infinita ”, uma exposição que convidava os visitantes a interagirem com as obras e registrarem a experiência em fotos. Com ela, a instituição bateu seu primeiro recorde de público: foram mais de 522 mil visitas. Ricardo Ohtake , diretor presidente do Tomie Ohtake, comentou em entrevista que nem eles esperavam essa quantidade de pessoas e que se surpreenderam com o resultado alcançado. “Foi meio sem querer”, disse o diretor. Assim, eles entraram para o ranking das exposições mais visitadas de todo o mundo de 2014 do jornal The Art Newspaper que, anualmente, divulga a lista.

Oferta e procura

Desde então, várias exposições e museus começaram a se superar em um curto período de tempo e, a cada nova mostra, mais e mais pessoas eram atraídas para dentro das exposições de arte. O maior número registrado foi do Instituto Tomie Ohtake que, com Frida Kahlo e outras artistas mexicanas, chegou a registrar 600 mil visitantes. Lucas Pessoa , diretor de operações do MASP , acredita que, em São Paulo, havia uma demanda reprimida por cultura. “É um momento que isso esta sendo oferecido pelas instituições” comentou como explicação para esse fenômeno que aconteceu nos últimos anos.

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Foto: Letícia Godoy/MIS
''Castelo Rá-Tim-Bum'', no MIS, atraiu mais de 410 mil pessoas para o museu em São Paulo

Tadeu Figueiró , gerente geral do Centro Cultural Banco do Brasil ( CCBB ) de São Paulo, atribui o “boom” do consumo de arte ao comportamento das pessoas que passaram a procurar mais a programação cultural da cidade e frequentar essas instituições. Mas, só isso não basta. Ele acredita que o esforço dos museus em trazerem conteúdo relevante foi um fator determinante no processo. “As pessoas gostam do que é bom”, finalizou. O presidente do Instituto Tomie Ohtake acredita que essa explosão aconteceu por conta da programação dos museus. “O público está sempre disposto”, enfatizou.

Foto: Reprodução
As esculturas hiper-realistas de Ron Mueck quebraram o recorde de público da Pinacoteca com 402 mil visitantes

Ricardo Ohtake observa outro aspecto que ajuda a entender o aumento de visitantes. “Não é um público versado em arte, são pessoas que gostam de ver artistas que já ouviram falar”. Ele ressalta o viés positivo dessa estatística, já que demonstra um alcance maior e mais consolidado da arte.   "Muitas pessoas que não conheciam aquilo passam a conhecer”, comemora Tadeu Figueiró ao avaliar que grandes exposições podem ter um caráter pedagógico na relação do cidadão com a arte.

Modelo sustentável?

Ao que tudo indica, o Brasil ainda tem um enorme potencial no mercado de cultura que, até então, era deixado de lado. Para além dos números, Lucas Pessoa, diretor de operações do MASP, apontou esse maior interesse por arte como um movimento mundial e que não se restringe ao Brasil. Tadeu Figueiró, do CCBB, vê essa expansão não somente como "entretenimento", como uma maneira das pessoas se relacionarem com a cidade e com a valorização do lugar onde vivem. "A cidade é um movimento cultural", disse. Ele acredita que, uma vez que se avança nessa processo, não há como retroceder. A arte é uma ferramenta de reflexão e transformação – assim sendo, é impossível dissocia-la do seu entorno e de seu contexto mais amplo.