Playboy, Sexy, W e as revistas que desmistificaram a nudez no Brasil e no mundo
Falar de nudez é falar de símbolos que fizeram o mundo mudar o olhar para algo que devia ser visto como natural: o corpo. Confira como algumas revistas popularizaram o nu e o trataram de um jeito único
“A gente vê a nudez no comercial de cerveja, mas na hora de fazer uma postagem com uma foto de seio falando do câncer de mama, o peito da mulher não pode aparecer”. É por meio desse raciocínio que a publicitária Caroline Cardoso enxerga o modo com o qual a nudez
é percebida pela sociedade brasileira. Mas na contramão dessa opinião, há a de dois grandes nomes da área editoral no que diz respeito a entretenimento masculino que veem o nu de outra forma. Para Fel Mendes, ex-editor chefe da Sexy
e Tabata Pitol, atual editora-chefe da Playboy
, a tecnologia impulsionou a destabulização da nudez e, ainda que disponibilize esse tipo de conteúdo a rodo, só tornou mais fácil a distinção entre um conteúdo pornográfico e um conteúdo erótico, que atraem públicos com interesses diferentes.
Leia também em Sexografia: Literatura erótica é reflexo mais contundente do empoderamento feminino
Por mais que todos tenham nascido sem uma pecinha de roupa sequer, depois de grande, mostrar o corpo acabou virando uma coisa não tão natural assim aos olhos das pessoas – principalmente quando se trata da mulher. No entanto, a mídia tem poder e, no que diz respeito ao mercado editorial, vários produtos desse meio conseguiram popularizar suficientemente a nudez para que ela fosse contemplada e admirada, ao invés de atacada e vista como algo de outro mundo.
Em 1953, ano de veiculação da primeira edição da Playboy , periódico masculino, a nudez feminina foi inaugurada entre as páginas da revista e um marco foi realizado. Ali, começava uma era inspiradora e que influencia até hoje quando a questão é o nu nas revistas. Depois da primeira capa com a atriz e ícone de sensualidade Marilyn Monroe , a ideia de ter um produto editorial com um conteúdo que trouxesse o nu, se espalhou pelo mundo e inspirou outras revistas a explorarem a exibição de corpos não só no entretenimento adulto, mas também na moda e na música. Entre elas, a Lui , criada em 1963, foi fortemente inspirada no periódico precursor e se destacou na França por dar uma pitada do toque europeu no que diz respeito ao nu. Em seu início, tinha publicações mais explícitas chegou até a estampar pelos pubianos na capa, mas atualmente, a linha da revista parece estar mais para o lado que une o fashion com a nudez , despindo com classe e estilo belíssimas modelos, inclusive ícones da moda como Gisele Bündchen, Isabeli Fontana e Jourdan Dunn.
Porém, não é só a Lui
que retratou o nu depois da Playboy
no meio editorial. Além dessa revista, existem outras como a V
e a W
que tem um olhar único sobre a nudez. No caso da V
, a criação é mais recente. A revista americana é de 1999 e além de mesclar a nudez com a moda, o que já é feito pela Lui
, ainda mistura a cultura pop e o lifestyle americano com as personalidades desnudas que aparecem em suas páginas. As cantoras Miley Cyrus e Lady Gaga já posaram para a V
e exaltaram o conceito alternativo e nitidamente voltado para um viés diferenciado na abordagem do nu da revista.
No caso da revista W
, produzida nos EUA em 1971, as publicações exploram o nu de uma forma problematizante, mas não deixam de lado a elegância que faz com que as modelos sejam registradas das formas mais clássicas (e fashion) possíveis. Entre as beldades que já posaram para a revista, estão Kate Moss e Kim Kardashian.
Playboy, Sexy e a nudez nas revistas brasileiras
Falar de nudez nas revistas brasileiras é falar de duas de maior destaque por terem como carro-chefe o entretenimento adulto, ainda que o explorem de forma bem particular. A Playboy brasileira e a Sexy , presentes no mercado editorial nacional há mais de 20 anos, são dois periódicos masculinos com nomes de peso que viveram uma questão parecida durante a vida ativa de circulação: saber como tratar a nudez e qual viés dar para ela nas revistas.
Tabata Pitol, diretora de redação da Playboy do Brasil, revelou que a missão das páginas que têm o coelhinho engravatado é exaltar a mulherada com muito glamour. “O segredo é tratar a nudez de uma forma bonita, artística”, disse a jornalista, que ainda adicionou mais uma característica particular ao periódico e exaltou outro diferencial. “Pra estar na capa da Playboy , o pré-requisito sempre foi ser uma estrela. Não quero citar concorrentes, mas tem revista que não traz celebridade na capa e a gente traz”, terminou.
No entanto, ainda que a Playboy do Brasil seja um fruto da pioneira no segmento, a Sexy tem raízes aqui no país tropical e, apesar de também tratar de entretenimento adulto, difere um pouco na abordagem do nu na revista . De acordo com Fel Mendes, que foi por sete anos editor-chefe da revista, a principal característica da nudez da Sexy em relação a da Playboy era apenas uma: a ousadia. “Cada uma tá num lugar: a Playboy é mais artística e a Sexy mais ousada”, revelou.
Ainda falando das duas mais fortes publicações do mercado quando o assunto é revista masculina, Fel ainda disse um pouco mais sobre o tipo de abordagem da Sexy no que diz respeito as fotografias de garotas nuas, além de contar sobre uma vantagem em ser a segunda mais forte no segmento. “Tentávamos ousar um pouco mais, mas colocar a nudez de uma forma natural. Ser a segunda do mercado tem disso, né… A segunda pode ousar mais, a primeira não”, afirmou o ex-editor, que finalizou atestando que, enquanto esteve na Sexy , ainda que não tenha escondido o fato de que a revista que coordenava teve influência da Playboy , chegou até a rolar um climinha de competição entre as duas marcas. “Existia uma influência não só na nudez, mas no próprio formato. De 2009 até 2012 eram revistas que se pareciam bastante... A gente até disputava as capas”, contou.
Mas e o tabu da nudez?
Apesar das revistas, da publicidade e da internet, ainda dá para questionar qual é o lugar da nudez na mídia e o que ela representa. Para Fel Mendes, ex-editor da Sexy , o ganho de espaço do nu foi algo involuntário e natural impulsionado pela virtualização dos meios de comunicação e que, obviamente, influenciou na forma com a qual o público recebe e consome revistas de conteúdo erótico. “A própria nudez foi ganhando um lugar mais comum... Um exemplo disso é o fato de hoje todo mundo fazer nude. Acho que o fato das próprias pessoas se fotografarem com o celular ajudou a diminuir um pouco esse estigma sobre a nudez”, disse. E ainda no contexto tecnológico da questão, Tabata, diretora de redação da Playboy , ressaltou que não importa que a tecnologia ofereça esse fácil acesso a todo tipo de conteúdo, inclusive a nudez que, por muitos, pode ser confundida com algo que carregue um teor pornográfico. “Hoje, o segredo das revistas para trazer o nu enquanto tem isso na internet a torto e a direito é produzir conteúdo de bom gosto com pessoas interessantes. A pessoa que tá procurando mulher pelada na internet não é a mesma que quer ver o trabalho da Playboy , que tem produção, uma ideia por trás e um cuidado especial”, relatou.
Porém, na contramão da visão positiva dos dois profissionais de comunicação, a publicitária Caroline Cardoso, que se formou há pouco tempo no curso de Publicidade e Propaganda, considera que os passos da sociedade em direção ao olhar natural para a nudez estão bem lentos. Outra coisa bem evidente para a ex-universitária é o fato da principal personagem em todo esse meio artístico e midiático muitas vezes (ou quase sempre) não conseguir opinar: a mulher. “Acredito que a nudez na publicidade também têm um pouco a ver com as poucas mulheres que estão dentro das áreas de design e criação”, disse.
No entanto, ainda que exista divisão entre as opiniões positivas e negativas em relação à nudez , é difícil tampar os olhos para a proporção que o nu tomou e com a qual se coloca em pauta hoje em dia – além do fato de que isso só começou por conta do meio editorial, que mesmo com todos meios de informação e comunicação alternativos, continua firme nesse tipo de produção de conteúdo e parece que não vai desistir tão cedo de inserir nele um diferencial.