Um muro de concreto construído desde o início dos tempos vem sendo suficientemente atingido a ponto de balançar as estruturas da liderança masculina. As mulheres, antes completamente presas num despejo constante de imposições e regras sobre suas cabeças, hoje já trilham um rumo diferente numa caminhada que está começando a registrar os primeiros passos. A Women’s Music Event, plataforma de música, negócios e tecnologia com conteúdos feitos exclusivamente por mulheres e para mulheres, nasceu desse contexto de união que busca um aumento de visibilidade e direitos equilibrados entre os gêneros em mais um mundo que tem os homens como protagonistas: o da música.
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A jornalista Cláudia Assef e a produtora cultural Monique Dardene uniram os dons da escrita, musicalidade e administração para dar vida a uma ferramenta que, por meio de uma perspectiva feminina, pretende não só informar o que há de emergente entre artistas do mundo feminino, mas também inserir as mulheres que se interessam por qualquer parte desse universo que dialoga diretamente com negócios e tecnologia .
Monique, manager de artistas e sempre presente em eventos musicais dos mais variados portes, cruzou o caminho de Cláudia quando convidou DJ’s internacionais para tocar no Brasil. Cláudia, interessada no evento não só pelo jornalismo, mas também por ser DJ, entrevistou Monique para uma matéria que seria publicada no jornal em que trabalhava na época. O bate-papo, que renderia uma reportagem para Cláudia, acabou sendo o pontapé inicial para uma amizade que levou a uma parceria. Juntas, começaram a pensar no que poderia ser feito para pulverizar a participação da mulher no mercado de trabalho musical e tiveram o insight de que a plataforma era o projeto ideal.
De acordo com Cláudia, uma das idealizadoras, a ideia do site não só comunica o que há de novo entre as artistas, mas também promove uma mudança social. Nesse sentido, o site conseguiu unir negócios com tecnologia num único espaço: de qualquer lugar, basta um smartphone ou um computador para que uma profissional mulher de qualquer área da indústria musical em busca de emprego possa cadastrar o próprio currículo e deixa-lo visível para avaliação. Contando com um leque de 30 tipos diferentes de profissões para cadastramento, Cláudia e Monique pretendem romper barreiras de gênero pouco a pouco para mudar o atual cenário da mulher no mercado de trabalho musical. “Com isso, queremos mesmo causar um impacto social: trazer, ainda mais, as mulheres para a indústria da música e Igualar o corpo de funcionários das empresas”, declarou a DJ.
Cláudia explicou ainda o que mais pretende modificar junto à Monique com o site que já está no ar. Para elas, a real inserção da mulher no mercado de trabalho musical, tanto das novatas quanto das que já entendem mais da coisa, só se torna possível a partir do momento em que se tem segurança. “Queremos que as mulheres já atuantes tenham mais voz e que as novas se sintam seguras para entrar nesse universo. Queremos fazer com que as meninas novas saibam que elas não precisam ser a Beyonce para trabalhar com música”.
A Women’s Music Event, além de ter a intenção de realizar uma mudança efetiva, é original no sentido mais puro da palavra. Diferente de tudo que já existe no mercado editorial, Cláudia revelou que o projeto não teve inspirações externas. Quando decidiu, na companhia de Monique, que a plataforma seria criada, a dupla pensou em algo completamente novo, exclusivo da cabeça das duas e que contou com um empurrãozinho da presença de ambas em grupos nas redes sociais compostos apenas por mulheres atuantes no mercado musical. Para Cláudia e Monique, um dos diferenciais da Women’s Music Event é mostrar o que ninguém mostra. “Queremos divulgar que por trás de um Lolapalooza, tem uma mulher super legal que comanda aquilo lá. Quem comanda a carreira dos Racionais Mc’s é uma mulher, a Eliane Dias, e pouco se fala disso”, declarou a jornalista.
Mas e o tabu do feminismo?
De acordo com Cláudia, um receio que a ideia da plataforma trazia era o erro de interpretação. Devido a recusa que muitas pessoas têm quando o assunto é feminismo , Cláudia e Monique temiam que o site passasse uma ideia errada e, por isso, muita cabeça foi quebrada e muito tempo foi investido desde a criação até a prática da Women’s Music Event. “Não somos um grupo de feministas loucas que chegaram para chegar tirando o emprego dos homens. Queremos mostrar que as mulheres também têm capacidade para assumir essas profissões”, relatou a DJ.
Para as idealizadoras, adotar uma conduta pacífica foi tão eficaz que rendeu até elogios por parte dos homens. Segundo Cláudia, o feedback tem sido melhor do que o esperado e, sem dúvida, gratificante. Tanto as mulheres, quanto os homens acessam a página, mas segundo a DJ, o público masculino surpreendeu. “Tem sido maravilhoso. 40% dos nossos visitantes são homens e até hoje não recebemos nenhuma crítica. Eles elogiam muito”, contou Cláudia.
O lançamento: parte II
Além do site no ar, fazia parte do imaginário das empreendedoras da WME realizar um evento que mostrasse, realmente, que a plataforma não veio para brincar. Segundo Cláudia, um ano foi dedicado à produção do evento de lançamento, que foi planejado na cabeça dela e de Monique em silêncio, já que ambas precisavam ter a segurança de que o conceito e a missão de toda a ideia estavam muito bem colocados. De acordo com a DJ, muito suor e dedicação foi preciso, mas depois de tanto esforço, todo o empenho já está começando a ser recompensado. Hoje, Cláudia e Monique contam com parcerias que, segundo as duas, acreditam piamente que a plataforma tem todo o potencial para decolar.
O evento, com data marcada para acontecer em São Paulo e no mês de março de 2017, será dividido em dois dias que contam com shows e palestras sobre o atual mundo da música. Separado em atividades diurnas e noturnas, a confraternização será realizada na Biblioteca Mário de Andrade, um marco da arquitetura que ainda vive na capital. Na primeira metade do evento, a parte diurna, as mulheres terão oportunidade de assistir a conferências, workshops técnicos, showcases e palestras sobre os mais diversos assuntos ligados ao universo da música.
Cláudia e Monique, mesmo tendo escolhido que o evento será aberto ao público geral (tanto homens quanto mulheres poderão participar), focaram em um quesito muito importante: a representatividade. No total do corpo que fará as apresentações no evento, cerca de 50 mulheres das mais diversas profissões ligadas ao mundo musical, entre elas executivas, jornalistas, engenheiras e produtoras palestrarão nos diferentes painéis da programação.
Além da parte didática, um evento sobre música não poderia deixar a própria música de lado. Na primeira parte noturna, haverá uma festa de música eletrônica para as mulheres DJs e produtoras brasileiras que terão a oportunidade de conhecer o trabalho de produtoras sul-americanas e ter contato com grandes nomes da área que vieram de fora, da Europa e dos Estados unidos, só para a confraternização. Na segunda noite, o WME receberá num palco vários estilos diferentes de cantoras e bandas brasileiras.