Muitas mudanças aconteceram nos últimos anos no mercado editorial ao redor do mundo. Os livros ganharam uma versão digital, os chamados e-books, e as revistas também; os YouTubers tornaram-se autores atingindo um novo público leitor e as adaptações de obras literárias para o cinema não param. No Brasil, o cenário não poderia ser diferente e as mudanças também chegaram por aqui, causando impacto na realidade dos leitores do país.

O mercado dos livros e das revistas passam por transformações que as empresas têm tentado acompanhar
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O mercado dos livros e das revistas passam por transformações que as empresas têm tentado acompanhar


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De acordo com Danielle Machado, editora de títulos estrangeiros da Intrínseca, o interesse por livros no Brasil tem aumentado, ainda que o cenário não esteja muito favorável. “A conversa sobre livros é uma coisa que vem crescendo. Em medição de interação do publico na internet podemos ver que tem interesse, mas precisa de muito investimento”, afirmou em entrevista ao iG . De acordo com os dados fornecidos pela editora, a página do facebook da Intrínseca possui mais de um milhão de seguidores e, só em janeiro desse ano, registrou um alcance  de aproximadamente 2 milhões na rede social.

 A análise da editoria, por sua vez, converge com os dados obtidos pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e Sindicado Nacional dos Editores de Livros (Snel). Segundo o dossiê “Dez anos de Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro”, as vendas no país aumentaram. Em 2006, o ano que marca o início do estudo, foram vendidos 193,25 milhões de exemplares no mercado enquanto em 2015 foram 254,70 milhões de livros. O ápice, por sua vez, ocorreu em 2011, chegando ao número de 283,98 milhões exemplares no mercado.

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Apesar do aumento das vendas, o faturamento do setor caiu, assim como o preço médio dos livros. Para Danielle, o cenário econômico do Brasil é um grande fator para que isso aconteça. Em um ano de crise, as pessoas continuam produzindo e as margens acabam encolhendo. Eu acredito que tenha sido um ano que vendeu muitos livros em promoção, se você colocar um produto na rua, ele vende. Se ajusta o volume da produção para chegar nesse consumidor que não tá com dinheiro”, afirmou. Entretanto, Danielle enxerga a situação como algo generalizado de diversos setores comerciais do Brasil, “todo país encolheu em produtividade e em lucratividade, então o setor também se inclui no cenário. O mercado encolheu, vendeu-se mais e não publicou mais títulos, mas nesse mercado encolhido a gente conseguiu manter um espaço bacana. Além disso, a gente sabe que a indústria de entretenimento é uma das ultimas a se reaquecer”, concluiu a editora.

Apesar do cenário, Luciane Dorigam, gerente de vendas de uma das maiores livrarias do Brasil, a Livraria Cultura, afirma que ao longo de dez anos a empresa vem crescendo. “Por mais que o mercado esteja sofrendo uma retração, acreditamos que ainda existem muitas oportunidades a serem exploradas”, afirma Luciane.

Um novo formato: os e-books

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Getty Images

Os e-books tornaram-se uma alternativa

Uma das inovações do mercado editorial que tem ocupado bastante espaço nos últimos anos são os e-books, os formatos digitais de livros. Para Luciane Dorigam, o novo formato é mais uma opção para que os leitores não deixem de ser atendidos. “Muito se falou sobre a retração de vendas do livro de papel com a entrada do e-book. O que percebemos no comportamento do consumidor é que o e-book é mais uma opção de leitura. Existe um nicho de clientes que migraram para a plataforma digital, mas a maioria consome nas duas plataformas, o que é muito interessante. O e-book é, hoje, uma excelente opção para livros que estão em falta momentânea ou esgotados, por exemplo”. 

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Para Danielle, o mesmo se repete no cenário internacional. “O e-book chegou como um produto diferente do livro, mas que entregam o mesmo conteúdo em uma nova plataforma de leitura”, revelou. “O mercado brasileiro não está tão maduro comparado a outros lugares do mundo e acho que aqui não vai acontecer diferente. Uma impulsiona o outro, acredito que os livros físicos e os e-books conversam”, completou.

Do YouTube à Literatura, da Literatura ao Cinema

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Reprodução/Facebook

Cenas do filme adaptado do livro de Jojo Moyes

Muitas das obras literárias que estão no mercado convergem com outras formas de arte. Esse é o caso do livro “Como Eu era Antes de Você”, de Jojo Moyes, uma autora que a editora Intrínseca vem investindo há um bom tempo, como afirma Danielle Machado. “O espaço que esse livro ocupa no mercado era uma coisa esperada. Nós nunca conseguimos dimensionar se vai ser o livro mais vendido do ano, mas estamos trabalhado essa autora com muita seriedade”, afirmou. No mesmo ano, o livro ganhou uma adaptação para o cinema, assim como outras publicações da Intrínseca. “O cinema sempre atrai mais público, atrai mais atenção a um livro que já foi lançado ou que está esta sendo lançado porque tem duas miras diferentes convergindo para uma mesma história ou autor. Filme e livro conversam e filme traz um público diferente, mas funciona nas duas mãos”, explica a editora.

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Além disso, novos autores têm surgido depois da febre que tomou conta da internet: os youtubers. “A indústria cultural é uma coisa só. Se pensarmos que estamos falando de livros, TV, youtube ou cinema uma coisa vai sempre refletir na outra”, afirma Danielle. “É uma tendência para recuperar vendas, tendências acontecem e as indústrias bebem do que está funcionando. Então, é natural que as personalidades que se fazem no youtube ou antes se faziam em blog caminhem também para outras mídias. As artes podem coexistir enquanto cultura, nada se exclui, tudo soma”, completa.

As revistas

Além dos livros, outro nicho do mercado editorial também está sofrendo muitas mudanças nos últimos anos. Segundo Luís Maluf, diretor de Marketing e Novos Negócios da Editora Caras, as revistas atualmente possuem dois públicos diferentes: o do impresso e do online. ”Há um público mais jovem no online e um mais fiel no impresso, que gosta disso, que não se desapegou do impresso. E esse público é muito grande”, revela. De acordo com Luís, as pessoas estão lendo mais notícias do seu segmento, que é voltada para as celebridades. Uma das revistas com uma forte presença online, a Contigo!, chega a alcançar 12 milhões de seguidores nas redes sociais.

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Essa transição do impresso para o online fez com que a editora tivesse que repensar os modelos dentro da empresa. “A gente falava em revista e agora falamos de marca 360: que tem impresso, online, tv, eventos.  O que muda para nós é conseguir enxergar e tentar chegar no consumidor onde ele está. Estamos tentando nos adaptar aos novos tempos que fazem parte de uma revolução cultural muito rápida”, afirma.

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NYT

As revistas também têm se adequado ao online

O diretor contou que a editoria criou um departamento interno para discutir as diversas mídias que as marcas podem alcançar. “O desafio basicamente é continuar é ter uma presença online forte, não se aventurar em qualquer nova tecnologia online que aparece todos os dias. É estar presente, mas não querer fazer revoluções diárias online”, reflete Maluf. Segundo ele, todas as marcas da editora Caras vão ter canal no YouTube, notas exclusivas diárias nos sites e o Teatro Caras em dois shoppings. “Estamos vendo o que podemos fazer além do impresso com as marcas. As revistas impressas ainda tem uma longa vida pela frente”, revela.

O cenário das livrarias, por sua vez, afirma essa reinvenção do mercado editorial não só nos livros mas também nas revistas. ”Apesar da migração das revistas periódicas para a plataforma digital, as editoras têm se reinventado, criando uma série de produtos colecionáveis que vão desde o universo geek até coleções de clássicos de grandes autores, compositores, etc”, reflete Luciene, que afirma que o grande percentual de vendas da livraria neste setor está voltado para as revistas semanais e edições importadas. Para ela, “em um universo de leitura, não enxergamos nossas livrarias sem essa categoria de produtos”.

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