Hollywood e videogames têm uma longa e instável história de amor. De inúmeras adaptações, de Tomb Raider a Príncipe da Pérsia, olhava-se para 2016 com grandes expectativas. Tudo porque dois filmes prometiam romper essa aparente maldição de que grandes jogos rendem filmes ruins. “ Warcraft – O Primeiro Encontro de Dois Mundos” , dirigido pelo promissor Duncan Jones de “Lunar” e “Contra o Tempo”, e este “Assassin´s Creed”, que Michael Fassbender tratou como um filho e estreia no Brasil nesta quinta-feira (12).
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O astro irlandês chamou seu diretor em “MacBeth: Ambição e Guerra” para tocar o projeto e convenceu sua Lady MacBeth, Marion Cotillard , a dividir a cena com ele em “Assassin´s Creed” . O projeto atraiu, ainda, outros titãs da atuação como Jeremy Irons (“Perdas e Danos” e “Batman vs Superman”) e Charlotte Rampling (“45 Anos” e “Melancolia”), mas o diretor Justin Kurzel pouco consegue além de uma construção visual de encher os olhos.
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Callum Lynch (Fassbender) é um assassino com um passado tumultuado. No dia do cumprimento de sua sentença de morte, ele é recrutado por um programa sediado na Espanha que tem a Dra. Sofia Rikkin (Cotillard) como principal responsável. O objetivo não é nada modesto: Descobrir a cura para a violência, enxergada por ela como uma doença. Mas a agenda do pai dela, vivido com a elegância de sempre por Irons, pode não ser a mesma.
O processo para a descoberta da tal cura consiste em mergulhar Lynch nas memórias de um ancestral, o assassino Aguilar na Espanha do século XV e a partir daí vamos descobrindo mais sobre duas hordas rivais: os Assassinos e os Templários.
Eles travam uma guerra milenar sobre o livre-arbítrio da humanidade e naturalmente tornam o eixo central do jogo, e por consequência do filme, algo mais parrudo narrativamente, com reminiscências filosóficas. Acontece que Kurzel pensa que adensar seu registro com um indefectível tom shakespeariano faria bem ao filme. Não faz. O desfecho beira à tragédia grega, no que tange a metáfora, mas também a literalidade.
Não se trata de um filme ruim. É uma produção mediada que esforça-se tanto para agradar o público de cinema como os fãs do game, mas que sucumbe a um devaneio despropositado de seu diretor. Talvez por contar com tanta gente boa no elenco, Kurzel pensou que seria uma boa ideia dar cores shakespearianas a uma adaptação de game. O conflito do personagem já estava suficientemente organizado sem essa abordagem.
Apesar do gancho para a sequência, parece improvável que “Assassin´s Creed” tenha sobrevida no cinema. Apesar do carinho de Fassbender, que dá tanto a Lynch como a Aguilar a fúria e a destreza que deles se esperam, o filme falha em sair da incômoda monotonia que assola esse casamento entre a indústria dos games e Hollywood.