No papel a ideia é boa demais. Juntar dois dos maiores expoentes da nova geração de Hollywood em um filme de ficção científica hardcore que por vezes faz lembrar uma peça de teatro, já que 90% do tempo só Chris Pratt e Jennifer Lawrence estão em cena. Mas na prática, “Passageiros” não podia ser mais infeliz. O filme de Morten Tydum , indicado ao Oscar de direção por “O Jogo da Imitação”, tem uma premissa muito boa, mas desanda em sua previsibilidade e os atores mostram que celebridade pura e simples não segura um filme que pretende ser algo mais além do hype.
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Estamos em um futuro em que já colonizamos outros sistemas solares. Uma nave transporta pessoas da Terra para a colônia Homestead II. O detalhe é que a viagem dura 120 anos e todos os passageiros e tripulantes fazem esse trajeto em hibernação. Logo no início de “Passageiros” , vemos que Jim Preston (Chris Pratt) acorda. Logo percebemos que ele foi despertado sozinho e 90 anos antes do fim da viagem. Não é preciso ser lá muito perceptivo para constatar que sua vida está acabada. Ele está destinado a morrer sozinho e a jamais chegar a seu destino. Este primeiro ato é justamente o melhor que o filme tem a apresentar, mas mesmo aqui os conflitos suscitados são trabalhados de maneira dolorosamente superficial.
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O roteiro de Jon Spaiths, que também colaborou nos roteiros de “Prometheus” e “Dr. Estranho” se sufoca entre o óbvio e o previsível. Quando surge a personagem de Jennifer Lawrence, por mais que a química entre os atores cative em um primeiro momento, o espectador se vê mergulhado em uma sucessão de desdobramentos facilmente antecipáveis – o que invariavelmente compromete o desejo intrínseco ao filme de ser diferenciado.
Com o filme pronto, da maneira que foi apresentado ao mundo, fica mais fácil entender o porquê do roteiro ter ficado tanto tempo na famigerada blacklist de Hollywood, lista de excelentes roteiros sem comprador por serem considerados infilmáveis. Tydum, que causou ótima impressão com o thriller norueguês “Headhunters”, talvez tenha dado um passo maior do que as pernas e demonstra total inadequação criativa na condução de um sci-fi.
Mais responsável pelo humor, Pratt se sai bem na pele do insuspeito MacGyver do espaço. Lawrence, por seu turno, pode até ter conseguido cachês correspondentes – ainda que Pratt tenha mais tempo de tela, o que geraria um questionamento da justeza de seu pedido - , mas não consegue segurar dramaticamente sua personagem.
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O que fere fatalmente o filme, no entanto, não é a falência das atuações ou a previsibilidade irrestrita do roteiro, mas sim a conflagração de uma história de amor no espaço. Porque é isso, no âmago, que “Passageiros” é. Não se trata de uma ficção pensativa, revisionista, propositiva ou nada disso. É apenas uma história de amor no espaço. Tudo o mais que está lá, e não é muito, está lá apenas para dar viço a essa trama de ‘boy meets girl in the space’.