Cenas exibidas pela Record TV e pela TV Tambaú, afiliada do SBT em João Pessoa (PB)
Reprodução/Record TV/TV Tambaú
Cenas exibidas pela Record TV e pela TV Tambaú, afiliada do SBT em João Pessoa (PB)

Defender verdadeiramente a democracia e a liberdade de expressão não é algo trivial. Afinal, nem sempre queremos ouvir aquilo que é dito. Ainda assim, é muito melhor viver em uma sociedade de verdades desagradáveis do que em um espaço de doces mentiras.

As mais de 700 mil mortes ocorridas em razão da trágica pandemia de covid-19 são a prova disso. Infelizmente, hoje vivemos com o vazio deixado por muitos dos que acreditaram em afirmações como “gripezinha”, “imunidade de rebanho vai nos proteger”, "quem se vacina vira jacaré" e “tratamento precoce resolve”.

Na última sexta-feira (27), o colunista do iG Gabriel Perline publicou uma nota com o título "Record proíbe mulheres de usar jeans, cabelo cacheado e batom vermelho ". O texto fala sobre uma atualização do Manual de Estilo da emissora. O jornalista teve acesso ao documento na íntegra e ouviu pessoas que trabalham na casa e receberam as tais orientações. A nota publicada, embora cite que o número de proibições cause descontentamento, não menciona as críticas muito menos entra no mérito se tais normas estão corretas ou erradas.

Aqui cabe uma ressalva: embora a TV aberta seja uma concessão pública, a emissora é uma empresa privada. Ou seja, se os acionistas acharem válido que só se apareça no vídeo com roupas típicas dos anos 1920 ou com fantasias vendidas em sex shop, é um direito deles. Assim como é uma opção do público gostar ou não do produto que vê.

Descontente com a divulgação do manual de estilo, a Record, por meio da assessoria de comunicação própria, usou as redes sociais para divulgar a página do iG e incluiu uma marcação de fake news sobre o conteúdo. Ou seja, expôs um jornalista e o próprio Portal como sendo sem credibilidade ou responsabilidade por aquilo que veiculam.

Publicação da assessoria de imprensa da Record acusa iG de fake news
Reprodução
Publicação da assessoria de imprensa da Record acusa iG de fake news

A publicação da emissora, além da acusação falsa, chama a atenção por outros motivos. O primeiro é não apontar qual foi a “ fake news ” divulgada, qual parte da informação contida no texto não condizia com a verdade. Em vez disso, a própria comunicação da Record admite a existência do manual. Como dizia o saudoso jornalista Domingos Fraga (que inclusive dedicou boa parte da vida à emissora em questão), “a gente não tem que ter compromisso com o erro”. O iG jamais, por ética e princípio, se recusaria a publicar a devida retratação se esse fosse o caso. Bastava a empresa divulgar o tal manual e mostrar que a versão a qual o jornalista teve acesso não era verdadeira. A atos como esse damos o nome de transparência.

Além disso, a publicação usada para atacar o portal e um jornalista do time, diferentemente das demais no mesmo perfil, não permite comentários. Ou seja, veta a livre manifestação das pessoas e não abre espaço para que os citados possam expor as respectivas versões. Impede um debate justo e aberto sobre o assunto.

Ao atacar o iG injustificadamente, sem apresentar evidências concretas ou embasamento para a acusação, a Record tenta não apenas prejudicar a reputação do portal e de um integrante da equipe, como também a credibilidade de toda a redação e o jornalismo enquanto instituição.

Confira na galeria algumas das páginas do Manual de Estilo da Record TV

Manual de estilo da Record TV
Manual de estilo da Record TV
Manual de estilo da Record TV
Manual de estilo da Record TV
Manual de estilo da Record TV
Manual de estilo da Record TV
Manual de estilo da Record TV
Manual de estilo da Record TV


Deve haver, infelizmente, veículos de imprensa ou profissionais descompromissados com a ética da profissão, mais interessados em atender a interesses próprios e obter alguma forma de vantagem. É provável que exista aqueles que não se envergonham de mentir, esconder fatos e criar as próprias narrativas como estratégia de defesa ou para proteger interesses políticos, por exemplo. Sempre tem. Todas as profissões possuem seus maus exemplos. Mas uma coisa, como editor-chefe, posso garantir: o iG não é um desses veículos.

Os mais novos, que já nasceram na era dos smartphones, talvez não saibam. Mas houve um tempo no Brasil que internet era luxo para poucos. O iG nasceu há 23 anos democratizando o acesso à rede mundial de computadores no país, oferecendo e-mail gratuito, jornalismo eletrônico livre a qualquer pessoa e impulsionando a inclusão digital brasileira.

História e credibilidade não se constroem da noite para o dia. O iG seguirá, como fez até hoje, prezando pela liberdade de expressão, a pluralidade e a democracia, abrindo espaço para que todas as vertentes políticas possam se expressar, que todas as religiões sejam respeitadas, que as orientações sexuais, identidades de gêneros, etnias encontrem acolhimento e representatividade. Mas, principalmente, fazendo com que a verdade e a responsabilidade sempre guiem o nosso jornalismo, independentemente da editoria em questão.

Thiago Calil
Editor-chefe Portal iG

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